Dança que Ninguém Quer Ver selecionado: Gira Dança “Vocês trabalham com pessoas com deficiência? Que lindo, é um trabalho social!” O...
Publicado em 04/12/2014
Atualizado às 21:03 de 02/08/2018
obra: Dança que Ninguém Quer Ver
selecionado: Gira Dança
“Vocês trabalham com pessoas com deficiência? Que lindo, é um trabalho social!”
O bailarino Anderson Leão está se cansando de ouvir reações como essa ao falar sobre o trabalho que desenvolve à frente da Gira Dança, companhia que fundou em 2005, em Natal (RN), ao lado de Roberto Morais. O preconceito é latente, como se não fosse possível entender ou aceitar que pessoas com o corpo diferente podem desenvolver um espetáculo profissional. Ao completar dez anos de atividade, romper definitivamente com esse estigma de grupo social é o foco do novo projeto do grupo, Dança que Ninguém Quer Ver.
O próprio título da proposta já é uma provocação. E não apenas pelo fato de a companhia ter bailarinos deficientes entre os seus integrantes, mas também porque atua em uma modalidade ainda mal compreendida por muitos, a dança contemporânea.
A iniciativa surgiu quando a Gira Dança passou a circular com Proibido Elefantes, criação do potiguar Clébio Oliveira apresentada desde 2012. “Mexeu com a nossa identidade enquanto companhia. As pessoas se divertem com o espetáculo, mas no final saem muito mexidas. Traz essa questão de que somos seres humanos e temos que nos respeitar nas nossas diferenças. Muitos se acham no topo do mundo, mas, na verdade, estamos todos no mesmo lugar, vamos para o mesmo buraco”, desabafa Anderson.
Dança que Ninguém Quer Ver é um trabalho que parte dessa reflexão e propõe uma criação coletiva entre os bailarinos da Gira Dança e artistas convidados. A ideia é misturar experiências entre a dança contemporânea e outras linguagens, como o vídeo e o teatro.
Serão realizadas residências artísticas com pesquisadores e todo o processo será compartilhado por meio de vídeos, fotos e relatos publicados em um blog e nas redes sociais. O objetivo é permitir que o público interaja durante o desenvolvimento do espetáculo, que deve estrear em São Paulo no segundo semestre de 2015 e depois seguir para Natal.
Gira Dança
A companhia foi fundada pelos bailarinos Anderson Leão e Roberto Morais. O primeiro fazia faculdade de artes com habilitação em desenho quando se encantou pela disciplina de dança. O segundo mostrava grande habilidade jogando basquete e, certa vez, no Rio de Janeiro, viu a apresentação de dança de um cadeirante e vislumbrou que também poderia fazer aquilo. “O Roberto foi o primeiro bailarino de cadeira de rodas aqui do Rio Grande do Norte”, destaca Anderson.
Os dois se encontraram na Roda Viva, companhia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto, que tinha nascido inicialmente para mudar a rotina de cadeirantes por meio de exercícios e pela dançaterapia, acabou enveredando por um caminho mais profissional e artístico. Ali, Anderson e Roberto formaram uma dupla de forte presença cênica.
No grupo, eles também tiveram a oportunidade de se aperfeiçoar com profissionais de renome, como Ivonice Satie, Edson Claro e Henrique Rodovalho, entre outros.
Certa vez, em viagem ao Rio pela Cia., os dois conheceram a sede da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), considerada uma das maiores da América Latina. Impressionados com a estrutura física e de funcionamento do espaço dedicado ao esporte e à cultura, eles sonharam em construir algo semelhante em Natal. Há 10 anos com a Gira Dança, lutam pela concretização desse sonho.