Michel Arnoult, Arte, Cultura e Design 1952-2003 selecionado: Annick Arnoult Em meio a fotos, papéis e documentos antigos, Annick...
Publicado em 26/02/2015
Atualizado às 21:05 de 02/08/2018
obra: Michel Arnoult, Arte, Cultura e Design 1952-2003
selecionado: Annick Arnoult
Em meio a fotos, papéis e documentos antigos, Annick Arnoult encontra uma caixa que chama sua atenção. Dentro dela propostas endereçadas a Tok&Stok para que móveis desenhados por seu pai fossem comercializados por mala direta. O que pode ser considerado ultrapassado para os dias de hoje, era uma ideia precursora na época, início dos anos 1980. Consciente do legado que tem em mãos, a professora de francês há tempos deseja resgatar não só este, mas outros aspectos importantes do trabalho desenvolvido por ele. O sonho vira realidade agora com o projeto Michel Arnoult, Arte, Cultura e Design 1952-2003, selecionado pelo Rumos.
A proposta é difundir em um livro a obra do designer e fabricante de móveis francês, que trilhou toda sua carreira profissional no Brasil. “Eu achei que era importante deixar registrado isso, porque ele tem um trabalho pioneiro”, destaca Annick. Para contar essa história, ela convidou a arquiteta e pesquisadora Yvone Mautner e a jornalista, escritora e professora de história do design, Ethel Leon.
A filha lembra do pai como “uma maquinha de projetar”, que muitas vezes acordava de madrugada com uma ideia na cabeça e ia direto para a prancheta. Além do lado criador, ela também quer destacar o empreendedorismo e as ideias inovadoras do designer.
Diferentemente de muitos de seus contemporâneos, que produziam para as classes média e alta, Michel Arnoult defendia que o bom design deveria ser acessível a todos. Para tal sempre investiu em processos industriais e de montagem que poderiam baratear o custo dos produtos. “Ele batalhou, por exemplo, até o fim da vida para colocar os seus móveis à venda nas Casas Bahia. Ele defendia que as pessoas mereciam um móvel bem desenhado e de qualidade”, enfatiza Annick.
Em 1955, ele funda a Mobília Contemporânea e desenvolve conceitos como o Peg-Lev, de produção de móveis desmontáveis. Desta forma, o cliente poderia passar na estante do supermercado comprar as peças e montar em sua própria casa.
O designer, destaca Annick, também pensava em formas de comercialização diferentes e que reduzissem as despesas. A proposta de venda por mala direta é uma delas. Embora muito comum na Europa, a ideia acabou não dando certo no Brasil, mas é um exemplo de sua constante busca.
Nos anos 1990, ele foi também precursor no movimento de sustentabilidade ao utilizar madeiras de reflorestamento e ao pesquisar as características técnicas do eucalipto junto ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo. Chegou até a empregar esta madeira em algumas de suas últimas obras.
Embora não tenha seguido a profissão do pai, que faleceu em 2005, Annick destaca que ele teve influência fundamental em sua escolha profissional. “Desde pequenininha, eu sempre costurei e foi ele quem falou: por que você não faz uma escola de moda?”, conta. Ela fez e chegou a trabalhar na área, mas depois acabou seguindo por outros caminhos. Atualmente, dividi seu tempo dando aulas de francês e organizando o acervo do pai. Mas nunca deixou de costurar e vender suas criações, ainda que de forma artesanal.