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Rumos 2013-2014: Uma vida dedicada ao teatro de rua

selecionado: Licko Turle “A gente sempre acha que vai ser um Chico Buarque.” A frase do diretor e pesquisador Licko Turle tem um tom de...

Publicado em 08/01/2015

Atualizado às 21:03 de 02/08/2018

obra: Teatro de Rua do Brasil
selecionado: Licko Turle

“A gente sempre acha que vai ser um Chico Buarque.” A frase do diretor e pesquisador Licko Turle tem um tom de brincadeira, mas não deixa de ser verdadeira. Nos anos 1970, em plena ditadura militar, praticamente todo aspirante a artista se espelhava no compositor de “Apesar de Você”, “Cálice” e tantas outras músicas tão conhecidas. Envolvido desde a infância com festas populares, música e cultura, Licko foi um desses jovens.

A influência não parou em Chico e teve um bocado de outros nomes. Dois, no entanto, merecem destaque: Augusto Boal e Amir Haddad. Foi trabalhando diretamente com ambos que Licko encontrou sua paixão: o teatro de rua.

No Rumos, o projeto selecionado trata da publicação de um livro que propõe a reflexão sobre o espaço que essa atividade artística ocupa hoje no Brasil. A partir do surgimento da Rede Brasileira de Teatro de Rua, em 2007, e da Lei do Artista de Rua, em 2012, no Rio de Janeiro, que serviu de base para a criação de leis similares em todo o país, esse tipo de arte se consolidou e passou a ter um reconhecimento muito maior no país.

Há ainda, no entanto, muitas questões sem respostas e poucos textos e estudos sobre o tema. O pesquisador pretende justamente preencher essa lacuna e levantar debates como, por exemplo, os motivos de o censo do IBGE não considerar a modalidade teatro de rua como teatro. Ou por que não há crítica no jornal, mesmo que o teatro de rua ganhe prêmios. “Mas, em todo o país, o teatro de rua é político e épico como na cidade de São Paulo? A cena de Macapá é a mesma de Cuiabá ou de Londrina? Teatro de rua é tudo comédia em cordel? Tem de mexer com a plateia obrigatoriamente? E no Rio Tietê, é teatro de rua? Teatro de invasão?”, enumera algumas das indagações que norteiam o projeto.

Natural da Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, Noeli Turle da Silva, o Licko, vem de uma família fortemente ligada à cultura popular. Em sua infância, sempre participou de festejos tradicionais, como Carnaval, Cosme e Damião e tantos outros.

A iniciação na vida artística se deu pela música. Era ele o responsável pelas canções em um grupo de teatro do bairro. Sempre que faltava um ator, porém, Licko cumpria o papel de substituto oficial e assim foi enveredando pelo caminho das artes cênicas. Como a formação nesse campo era escassa, o jovem optou por ingressar na faculdade de letras ‒ foi quando, aliás, começou a sentir a influência de Chico Buarque.

O fator determinante em sua carreira aconteceu nos anos 1980, quando começou o processo de reabertura política do Brasil e muitos artistas voltaram do exílio. Com Leonel Brizola como governador do Rio e o antropólogo Darcy Ribeiro à frente da pasta de Educação, surgiu a iniciativa de implantar a Fábrica de Teatro Popular, projeto de Augusto Boal. Trinta e cinco animadores culturais foram capacitados pelo diretor e criador do Teatro do Oprimido. Entre eles estava Licko, que descobriu nesse momento a existência de um jeito diferente de fazer teatro, mais próximo da comunidade, do bairro, dando mais voz ao espectador.

Ao lado de outros integrantes desse primeiro grupo capacitado no projeto, Licko fundou o Centro de Teatro do Oprimido, com direção artística de Boal, que nasceu com o objetivo de conhecer, aprofundar, pesquisar e difundir o Teatro do Oprimido no Brasil.

Em 1995, aconteceu outro momento marcante na carreira do diretor. Licko se transferiu para o grupo Tá na Rua, dirigido por Amir Haddad. Desde então, vem acompanhando e atuando de perto na consolidação do teatro de rua.

O que deslumbrou tanto Licko no Teatro do Oprimido como na modalidade de rua foi a possibilidade de tirar o público da situação de ouvinte passível e torná-lo também parte ativa da encenação, da discussão. “No teatro de palco, tradicional, o espectador não participa do processo, a obra de arte é fechada. No Teatro do Oprimido e no teatro de rua, o espectador pode entrar em cena, não há nada que o impeça. Pelo contrário. Isso me encantou, porque era uma forma interessante de fazer teatro político, que ajudasse de alguma forma na reflexão, na conscientização política, um retorno à Ágora grega [praças públicas onde se discutiam as questões da cidade na Grécia antiga]”, destaca.

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