Santiago de Iguape, no município de Cachoeira, na Bahia, é uma das 2.890 comunidades quilombolas existentes no Brasil, segundo dados da...
Publicado em 26/05/2017
Atualizado às 10:52 de 03/08/2018
Por André Bernardo
Santiago de Iguape, no município de Cachoeira, na Bahia, é uma das 2.890 comunidades quilombolas existentes no Brasil, segundo dados da Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC). Nessa pacata vila de pescadores e agricultores, fundada em 1561, funciona há três anos a sede da Escola Livre de Cinema Quilombola Zumbi dos Palmares. Desde sua criação, em 2014, a instituição já investiu na formação audiovisual de jovens quilombolas, produziu filmes e documentários de temática negra e cuidou da programação do Cineclube Zumbi dos Palmares.
[caption id="attachment_97999" align="aligncenter" width="477"] Moradores da vila de Santiago de Iguape, na Bahia, durante aula da Escola Livre de Cinema Quilombola Zumbi dos Palmares | foto: Elen Linth[/caption]
“A ideia que deu origem ao projeto surgiu por considerarmos que os remanescentes das comunidades quilombolas possuem trajetória própria, peculiaridades territoriais e carga ancestral cultural muito forte”, afirma a cineasta e produtora Elen Linth, que coordena a Rede Eparrêi, ONG voltada para o desenvolvimento de comunidades quilombolas. “Dessa maneira, o cinema pode se transformar em instrumento que tanto contribui para a preservação da cultura quilombola quanto ajuda a desconstruir preconceitos e estereótipos.”
Com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural, a Rede Eparrêi pretende ampliar a Escola Livre de Cinema Quilombola Zumbi dos Palmares. A proposta é expandir sua atuação para outros segmentos, realizar novas produções e viabilizar os projetos já iniciados em seus três primeiros anos de existência. Para isso, a organização planeja desenvolver cursos de linguagem cinematográfica voltados para adolescentes, criar oficinas de cinema para professores de escolas públicas e líderes comunitários e convidar jovens atores para trabalhar no Coletivo de Cinema Quilombola.
[caption id="attachment_98000" align="aligncenter" width="583"] foto: Elen Linth[/caption]
“O objetivo é introduzir o audiovisual no ensino médio e capacitar os educadores para trabalhar temas transversais a partir de filmes que valorizem a cultura negra”, explica Elen. “A parte mais difícil é encontrar produções que sirvam de referência, tragam a temática negra ou tenham sido realizadas por negros. Apesar de termos tido um crescimento, a representatividade ainda é pouca se comparada às produções predominantes”, lamenta a cineasta, que planeja criar, ainda, uma campanha contra o racismo na infância e promover o I Festival de Cinema Quilombola.
Projeto deve ficar pronto em dezembro de 2017
No momento, a Rede Eparrêi se dedica a selecionar os orientadores da escola de cinema. “A escolha deve partir do princípio de identificação com a causa”, avisa Elen. Além disso, a ONG monta um organograma de aulas e módulos, bem como escolhe as escolas que receberão as oficinas. “Estamos criando a identidade visual para a campanha de enfrentamento ao racismo e para o Festival de Cinema Quilombola. Já realizamos oficinas e reuniões com crianças e adolescentes da região para conhecer melhor nosso público-alvo e colocar em prática nosso plano pedagógico”, acrescenta a cineasta.
O próximo passo é divulgar o projeto nas 11 comunidades quilombolas que existem no município de Cachoeira e despertar o interesse de crianças e adolescentes para que se matriculem na escola de cinema. Quanto ao I Festival de Cinema Quilombola, Elen pretende divulgar, em breve, o endereço do site no qual os interessados em integrar as oficinas e as mesas-redondas poderão se inscrever. “A previsão é que as atividades da escola sejam concluídas em dezembro de 2017 e que o festival seja realizado em janeiro de 2018”, adianta.