“Trabalhar com narrativas, visuais ou não, tem uma vantagem: me leva a conhecer pessoas. E nada no mundo pode ser tão bom como encontrar...
Publicado em 06/07/2017
Atualizado às 13:52 de 21/07/2022
Por Patrícia Colombo
“Trabalhar com narrativas, visuais ou não, tem uma vantagem: me leva a conhecer pessoas. E nada no mundo pode ser tão bom como encontrar o outro”, diz Mariana Lacerda, diretora e roteirista do documentário Gyuri, que – realizado com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural – retrata uma das mais renomadas fotógrafas contemporâneas, Claudia Andujar.
[caption id="attachment_98734" align="aligncenter" width="636"] A fotógrafa Claudia Andujar em cena do documentário[/caption]
Conhecida também por sua relação de mais de três décadas com o povo indígena Yanomami, Claudia nasceu na Suíça em 1931 e morou até os 13 anos na Hungria, onde presenciou o genocídio de judeus – entre os quais estava parte de sua família. A experiência no Brasil – para onde veio em 1955 – a colocou cara a cara com outra tentativa de extermínio: a dirigida contra os povos da Amazônia. “Claudia sempre depositou em suas imagens um olhar respeitoso, terno, por mais ‘dura’ que pudesse ser a realidade referente”, comenta a diretora.
O trabalho do cineasta Eduardo Coutinho foi uma das referências de Mariana no processo de elaboração do filme. “Gosto muito da ideia de termos uma cena constituída por duas pessoas que se interessam uma pela vida da outra”, diz a diretora, que convocou o filósofo Peter Pál Pelbart, também húngaro, para ser o interlocutor de Claudia.
[caption id="attachment_98735" align="aligncenter" width="636"] O filósofo Peter Pál Pelbart[/caption]
Nascido em 1956, Peter veio para o Brasil quando tinha apenas 3 anos de idade. A conversa entre ele e Claudia, realizada em húngaro e apresentada sem cortes, é o que compõe a maior parte da produção. “Claudia é uma mulher forte, mas dona de grande sensibilidade. Para a entrevista, pensei em alguém que pudesse afetá-la e, ao mesmo tempo, se deixar ser afetado por ela”, diz Mariana. “Tanto Peter quanto Claudia, cada um ao seu modo, vivem como aqueles que estão fora do que se considera ‘tecido social’.”
“Acho que o filme mostra, na beleza estranha daquele diálogo em uma áspera língua”, continua a diretora, “que somos menos o rótulo imposto no momento em que nascemos e mais o acúmulo de experiências, as marcas que carregamos, a bagagem que trazemos – na pele, na carne, na mente. E o testemunho de Claudia resume o Holocausto, as dores do fascismo e o genocídio indígena.”