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Publicado em 03/10/2017
Atualizado às 12:11 de 03/08/2018
Sandra Reis é responsável pelo centro de memória sob a administração do Instituto Robert Bosch, na cidade de Campinas, em São Paulo. Graduada em ciências sociais e especialista em organização de arquivos e gestão de documentos e arquivos pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP), Sandra fala sobre a criação da área de memória, as especificidades do acervo, o espaço físico, produtos e serviços.
Confira a entrevista.
Fale de sua formação, de quando iniciou suas atividades na Bosch e qual é sua atividade na empresa atualmente.
Sou graduada e licenciada em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Fiz curso de introdução à política e ao tratamento de arquivos também pela PUC/SP e curso de especialização em organização de arquivos pelo IEB.
Iniciei minha trajetória na Bosch em 2003, por meio da empresa Tempo & Memória. Em 2007, fui contratada pela Robert Bosch Ltda. e, em 2008, passei a fazer parte do Instituto Robert Bosch. No centro de memória, dou suporte à área de comunicação histórica na Alemanha e supervisiono a comunicação do instituto.
Segundo informações do site do instituto, desde 1964, com a criação da Fundação Robert Bosch na Alemanha, a empresa mundialmente demonstra preocupação com questões culturais e sociais. No Brasil, o Instituto Robert Bosch foi fundado em 1971. Posteriormente, a instituição criou o Centro de Memória Bosch. Como surgiu o centro e qual era seu objetivo inicial?
A ideia de preservação da memória da Bosch fazia parte de um antigo projeto de criar um arquivo histórico ou um museu. Foi materializada por meio da criação do centro, em 2003. Naquele ano, várias ações foram geradas em razão do 50º aniversário da empresa no Brasil, completados em 2004. A celebração incluiu a publicação do livro Bosch, 50 Anos de Brasil e de um álbum de figurinhas, além de outros eventos, como uma exposição itinerante e outra permanente com o tema Memória Bosch, 50 Anos de Brasil, realizada no hall principal da empresa até 2008.
Ao criar o Centro de Memória, o objetivo era encontrar a melhor forma de não apenas resgatar, organizar, preservar e disponibilizar seu próprio patrimônio cultural, mas também de promover um resgate paralelo da história da indústria brasileira.
A materialização desse ideal se deu com o investimento da Bosch e com o apoio da Tempo & Memória, que, através de um minucioso trabalho de recuperação da documentação nas unidades industriais da Bosch no Brasil – Campinas (SP), Curitiba (PR) e Simões Filho (BA) –, revelaram o potencial e o empenho da empresa em preservar e divulgar sua história. O trabalho continuou com um tratamento técnico dado ao singular acervo de documentos textuais, fotografias, filmes e objetos reunidos no Centro de Memória, além de investimentos em infraestrutura.
Esse projeto – que esteve alinhado com as diretrizes da matriz da empresa, em Stuttgart, na Alemanha – foi pioneiro entre as regionais Bosch fora daquele país. Inicialmente o Centro de Memória era um departamento da Robert Bosch Ltda. e, em 2004, com a reestruturação do Instituto Robert Bosch, passou a fazer parte deste. Várias ações têm sido realizadas em conjunto com outras áreas da empresa, como marketing, comunicação e RH, para divulgar o trabalho e a política de arquivos do Centro de Memória Bosch.
Quais são as características do conjunto documental preservado pelo Centro de Memória e quais foram os principais desafios para organizar e preservar o acervo?
O Centro de Memória procura cumprir a norma estabelecida pela matriz em que constam os principais conjuntos documentais a ser preservados e possui em seu acervo documentos que registram a trajetória da empresa no Brasil, entre formatos iconográficos, textuais, audiovisuais e tridimensionais.
O Arquivo Histórico estabelecido na matriz é subordinado à área de comunicação histórica, que tem como missão fornecer informação sobre a Bosch aos colaboradores e ao público interessado. Orienta os objetivos de comunicação e conteúdo, visando reforçar o valor e a imagem pública do Grupo Bosch.
A área de comunicação corporativa em Stuttgart é responsável pela implementação global da Orientação Normativa, que regulamenta a recolha, a salvaguarda e a avaliação do patrimônio histórico da Bosch fora da Alemanha, tanto nas regionais quanto nas subsidiárias. No caso do Centro de Memória no Brasil, nosso maior desafio continua sendo disseminar a importância da preservação da história e mostrar aos novos colaboradores que temos de cumprir nosso papel social ao preservar, resgatar e perpetuar os valores da Bosch.
A Bosch Brasil foi a primeira regional que montou um centro de memória institucionalizado, o qual se tornou referência para outras regionais. Foi até mesmo premiada pela área de comunicação corporativa na Alemanha em 2008, como um projeto especial. Formar multiplicadores desse tema e mudar o conceito de que pouco se tem a contar do passado é um grande desafio, mas o resultado contribui de forma significativa para que as comunidades internas e externas reconheçam esse patrimônio e participem de sua preservação.
Qual é a estrutura do Centro de Memória em relação a espaço físico, equipamentos e colaboradores?
O Centro de Memória Bosch possui uma sala de higienização de documentos (de 7 metros quadrados), reserva técnica climatizada (de 36 metros quadrados) equipada com dois arquivos deslizantes, estante para objetos e troféus e mapoteca horizontal. Também conta com um espaço expositivo no hall de entrada da sede do Instituto Robert Bosch.
Possui um banco de dados especialmente desenvolvido para organizar o acervo da empresa e prover acesso ao arquivo histórico na Alemanha via intranet. O Centro de Memória Bosch é o setor de suporte para a área de comunicação histórica na Alemanha com temas relacionados à Bosch Brasil. Atualmente tem um analista de acervo histórico.
O Centro de Memória Bosch está acessível a diversos públicos? Quais são os produtos e os serviços oferecidos pela instituição para atender às demandas de pesquisa? Poderia citar alguns exemplos de pesquisas atendidas, tanto internas quanto externas?
O Centro de Memória atende pesquisadores internos e externos. Há cerca de mil deles cadastrados. Nosso público principal é o interno, sendo que as principais pesquisas se referem à cronologia da Bosch no Brasil, a fotos e dados históricos de produtos e fábricas, material de propaganda (calendários e manuais de produtos), vídeos institucionais e história do fundador, Robert Bosch. Para pesquisadores externos o atendimento é realizado via e-mail ou com agendamento.
As principais frentes de trabalho do Centro de Memória se relacionam a tratamento técnico, pesquisa histórica, atendimento à pesquisa, suporte para a área de comunicação e projetos especiais e temáticos.
O Instituto Robert Bosch atua também na área de educação. Existe alguma parceria do Centro de Memória com as ações educacionais do instituto? Fazem uso do acervo de memória?
O foco principal do instituto é a educação de crianças e jovens. Nesse sentido, conta com projetos próprios e apoia ações de diversas instituições parceiras. Um dos projetos com essa vocação é o Formare, no qual 20 jovens fazem um curso profissionalizante de logística. Eles passam dez meses em aulas teóricas. A prática profissional é realizada na Bosch em Campinas e no armazém de distribuição da empresa, em Louveira, também em São Paulo.
Um exemplo de uso do acervo do Centro de Memória: os jovens já realizaram pesquisas utilizando os boletins, as revistas e os jornais internos da Bosch. Foi um trabalho desenvolvido pelos educadores voluntários da disciplina de comunicação. Porém, ainda não temos um projeto exclusivo na área de educação que envolva o acervo de memória. Esse é um universo a ser explorado.
De acordo com o site do instituto, o Grupo Bosch destina 92% do capital da empresa à Fundação Robert Bosch. Como é para o colaborador do grupo fazer parte de uma companhia norteada por esses princípios?
De fato, esse princípio é motivo de orgulho para a comunidade Bosch, e não apenas no Brasil. As frases e os pensamentos do fundador são fortemente disseminados. Os colaboradores possuem o sentimento de pertencimento a uma história de valor. Para exemplificar, em 2011 – quando se completaram 125 anos do Grupo Bosch e 150 do nascimento do fundador – o slogan adotado pela empresa para as comemorações no âmbito mundial foi: “O futuro precisa de tradição”.
A percepção dos princípios e dos valores do fundador traz à tona o orgulho de pertencer a uma história centenária de um grande grupo empresarial. Essa sensação de pertencimento é bastante importante no dia a dia das pessoas. E isso é facilmente percebido nos depoimentos orais colhidos ao longo do trabalho de resgate histórico na empresa.