A partir de imersões no nosso acervo de obras de arte, propomos pequenos encontros com artistas e obras. Neste texto, enfocamos o trabalho "Ateliê do Artista"
Publicado em 14/05/2020
Atualizado às 17:53 de 16/08/2022
A partir de imersões no nosso acervo de obras de arte, propomos, aqui no site e no Instagram, pequenos encontros com artistas e obras. A série Interiores faz parte dessas publicações e é dedicada a obras que retratem os espaços internos de suas casas, de seus ateliês etc.
Arcangelo Ianelli
Ateliê do Artista, 1950
óleo sobre tela
73,5 x 60 cm
Acervo Banco Itaú
imagem: João Luiz Musa/Itaú Cultural
por Duanne Ribeiro
O Ateliê do Artista tem cadeira, piano, cavalete, quadros, potes. Uma janela na lateral o abre ao mundo. O Ateliê do Artista tem vários tons de marrom e azul, entre outras cores. Observar essa tela de Arcangelo Ianello pode ser esse passeio entre detalhes, percebendo alguns itens e relações. Uma experiência assim não seria tão diferente daquela que está na origem dos quadros de Ianelli: “Em grupos de artistas, tomávamos o bonde na Praça da Sé e íamos aos arredores de São Paulo”, conta ele, “então, a gente observava na natureza, por exemplo, o verde. Mas o verde tem tantas nuances, tantas diferenças de um para outro [tom]”.
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Não é a natureza, os arredores de São Paulo, o foco de Ateliê do Artista. Talvez seja possível, no entanto, pensar que, para captar as características desse local de trabalho e de convívio, o artista também tenha se dedicado a acompanhar todas as multiplicidades. Em época de isolamento social, podemos explorar esse mesmo deslocamento: se não lá fora, quantos verdes você vê na sua sala, no seu quarto? Quantas nuances e diferenças nos objetos ao redor?
Reparando nas nossas escolhas de observador, podemos voltar a Ateliê do Artista com olhar renovado. O que Ianelli recortou do que viu? Como fala a Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, no processo de criação desse artista, “as pinturas têm origem em um estudo” – ele seria como um escritor que faz anotações para depois redigir.
Essa postura marca os períodos da sua produção: “Em sua fase figurativa, além de observar a cor, Ianelli se vale de uma importante lição do pintor Angelo Simeone, que defende ser mais importante a interpretação do pintor no quadro do que a reprodução fiel da cena ou do objeto retratado. Ao aderir ao abstracionismo, experimenta primeiro uma fase ligada à matéria e, em seguida, dedica-se cada vez mais à pesquisa da cor e de suas vibrações”.
Arcangelo Ianelli, como indicado, é um pintor que na sua carreira transitou de trabalhos mais focados na representação do que é visto – no início da década de 1940, fez pinturas realistas – para explorações mais centradas na forma – entre o fim dessa década e o início da de 1950, passando a se interessar por arte construtiva; em 1957, diz a Enciclopédia, “a tendência à simplificação formal se aprofunda”, e ele “reduz sua paleta de cores e se concentra em formas lineares e bem contornadas”. Saiba mais sobre o artista e veja outras obras no verbete completo.