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Narrativas | Um conto muito pequeno inspirado por “Niterói, Marinha com Barcos”, de Castagneto

Milena Buarque dialoga com as paisagens marítimas registradas pelo pintor italiano, que aportou no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX

Publicado em 21/12/2021

Atualizado às 16:52 de 16/08/2022

Narrativas é a sétima série produzida aqui no site que destaca produções de artistas presentes na coleção de obras de arte do Itaú Cultural (IC). A cada publicação, um escritor é convidado a criar um texto literário inspirado em uma obra do acervo. Nesta edição, escreve Milena Buarque.

Fundeada, encouraçada, como que blindada, atracada. Destino a minha bravura a morrer em paisagens, em edificações muito próprias, de quem aceita a partida, mas não está para o brio da chegada. Alguma honra deve haver em nunca se deixar inundar. Acanhada e inconstante, vivo sob o jugo do que me é externo. Contudo, atravesso, com falsa obstinação e tamanha indiferença, o que busca dilacerar-me, sem nenhuma marca interna de debilidade. Ancorada, revirada e repuxada, suspiros me inflam e vem o assombro: como?

Oca, derramada, aliviada. O sol me toma, me esgarça e desfia. Ensejo ranger ao luar. Sou, enfim, bote a seco na praia. Ou seja, vista no tempo particular dos enquantos e dos escassos. Passam-se os dias, varadouro entre danças, tertúlias e gaitadas. Ancorada, revirada e repuxada, num espasmo, estou molhada, embebida. Em cada racha, sulco espumante a ocupar e espanto: como?

A minha alma é uma paisagem escolhida. E, em elevação, sou chalupa cruzadora a navegar.

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Todos os textos, nas várias curadorias, sobre obras do acervo do Itaú Cultural

Castagneto, “Niterói, Marinha com Barcos” (s.d.) | óleo sobre tela | 24,5 x 41 cm | Acervo Itaú Cultural
Castagneto, “Niterói, Marinha com Barcos” (s.d.) | óleo sobre tela | 24,5 x 41 cm | Acervo Itaú Cultural (imagem: Iara Venanzi/Itaú Cultural)

Milena Buarque é jornalista, mestranda em história, política e bens culturais [Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV)] e coautora de Quarta capa: o livro sobre livros (2019), livro-reportagem publicado pela Casa Flutuante. No IC, é editora de conteúdo.

Giovanni Battista Felice Castagneto (1851-1900) foi pintor, desenhista, professor e restaurador. Exerceu a profissão de marinheiro em Gênova, na Itália. Acompanhado de seu pai, chegou ao Rio de Janeiro em 1874 e matriculou-se, quatro anos depois, nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes. É conhecido por sua grande contribuição com trabalhos relacionados à paisagística brasileira, com destaque para a questão marinha, do final do século XIX. Saiba mais sobre o artista na Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileira.

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