A obra do escultor, pintor e desenhista Franz Weissmann, em três esculturas comentadas por um educador do IC
Publicado em 18/08/2020
Atualizado às 17:41 de 16/08/2022
[Este texto integra uma série de relatos produzidos por integrantes da equipe de atendimento educativo do Itaú Cultural. Nesses relatos, cada educador comenta sua experiência relacionada a uma exposição apresentada no IC, destacando três das obras presentes na mostra.]
por Tonne de Andrade
Neste texto, abordamos a obra do escultor, pintor e desenhista Franz Weissmann (1911-2005), a partir de obras expostas na mostra Franz Weissmann: o Vazio como Forma, realizada em 2019 no Itaú Cultural. Selecionamos três esculturas de diferentes momentos e com diferentes estilos adotados pelo artista, mostrando a diversidade de sua produção.
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Normalmente, associamos as formas geométricas à matemática, portanto, às ciências exatas. Weissmann, no entanto, as liberta, tornando-as artísticas, e reformulando-as em mil combinações. Esse artista fez parte dos movimentos de arte concreta e, depois, neoconcreta; nessa exposição pudemos ver obras suas do início de sua produção, com características figurativas, e, também, a passagem para uma arte totalmente abstrata – o que não quer dizer sem emoção. Weissmann nos faz refletir sobre o que é belo, e sobre como uma simples linha ou uma simples chapa de metal podem ser transformadas em algo que nos encanta.
Franz Weissmann
Dois Cubos Lineares Virtuais, 1954
Ferro pintado
Coleção MAM, fundo para aquisição de obras para o acervo MAM-SP – Companhia Vale do Rio Doce
Foto: Edouard Fraipont
Cada obra de Weissmann pode ser múltipla. Suas peças convidam o observador a andar em volta, para descobrir suas variações. Assim, de um ponto de visão, vê-se um cubo; de outro, um quadrado, de um terceiro, um hexágono, de maneira que o observador desvenda as complexas formas geométricas que podem brotar de uma simples combinação de linhas.
É assim o caso de Dois Cubos Lineares Virtuais. Nela os formatos apenas se insinuam, precisando ser completados pela imaginação de quem observa a obra. Dessa forma, o subtítulo da exposição ganha sentido prático: o vazio é uma forma em Weissmann. Ou seja, o vazio na peça não significa que algo está faltando, mas que algo pode ser visto sem estar ali. Portanto, a peça se torna inteira graças ao olhar que lhe direcionamos.
Franz Weissmann
Sem Título, 2001 – Série Planos
Aço
Acervo Instituto Weissmann
Foto: Edouard Fraipont
Muitas das obras de Weissmann não têm título ou são nomeadas pela série a qual pertencem. Aqui selecionamos uma das peças da série Planos, produzidas a partir de uma única chapa de metal plana, transformada a cada vez por vários tipos de corte e dobra. Das peças planas, Weissmann extrai, assim, novos formatos, novas figuras, indo do bidimensional para o tridimensional.
A obra que apresentamos é um exemplo disso: trata-se de uma chapa de aço que recebeu apenas dois cortes e uma dobra. Essa peça, que parece tão complexa, pode ser remontada com uma folha de sulfite, remetendo ao processo de trabalho do artista: primeiro, ele produzia uma miniatura em papel, madeira ou alumínio; depois, a obra em metal, em grandes proporções. A exposição realizada permitiu experimentar esse processo em um dos andares, dedicado a expor mais de 700 miniaturas feitas por Weissmann em seu ateliê, compartilhando, dessa forma, sua genialidade, capaz de arrancar do metal pesado tamanha leveza.
Franz Weissmann
Sem Título, 1965 – Série Amassados
Chapa de zinco
Acervo Instituto Weissmann
Foto: Edouard Fraipont
A série Amassados se destaca na produção de Weissmann, fugindo das formas geométricas frequentes em suas obras. Aqui, o abstrato se torna ainda mais abstrato – não há linhas nem quadrados para guiar nosso olhar, são apenas placas de metal, alumínio ou zinco, amassadas com diferentes técnicas e materiais. Foram produzidas quando o artista vivia fora do Brasil. Comenta-se que ele enfrentou uma fase de depressão, em que abandonou por um período o estilo que adotava.
Ao produzir essa série, Weissmann usava martelos e pregos para fazer marcas e perfurações, além das próprias mãos; para isso, colocava luvas de boxe e socava as placas de metal. Por isso, essas peças são exemplo do quanto de sentimentos e emoções podem ser usados no fazer de uma obra de arte abstrata.
Weissmann nos leva a refletir sobre como a arte não está somente no objeto artístico, mas também no olhar de quem se propõe a admirá-lo. O vazio, aquilo que o artista tira da peça, é o que o nosso olhar preenche, dando sentido e encontrando formas no que poderiam ser apenas linhas e placas de metal.
Sobre mim
Meu nome é Tonne de Andrade. Sou formada em história pela Universidade de São Paulo, onde também realizei o mestrado em história social. Já atuei como educadora em instituições, como o Catavento e a Fundação Dorina Nowill para Cegos, e também como professora em escolas da rede pública e da rede privada. Sou educadora no Itaú Cultural desde 2019.