O Itaú Cultural (IC) recebe no dia 6 de dezembro a ação Cantos para o manto tupinambá. Na ocasião, a artista Glicéria Jesus Silva, responsável pela obra Assojaba tupinambá, estará vestida com o manto e entoará canções enquanto leva a peça a seu lugar de destino, à mostra coletiva Um século de agora. A exposição apresenta um panorama atual da arte e da cultura produzidas no Brasil, de diferentes territórios sociais, culturais, políticos e geográficos e com linguagens diversas, como fotografia, desenho escultura e instalação.
O manto produzido pelas mãos de Glicéria, da terra indígena tupinambá, é um trançado de cordões encerados com cera de abelha jataí e uma variedade de penas de arara, canário, sabiá, gavião, pato, ganso e galinha recolhidas no quintal da artista com a ajuda do filho. A técnica escolhida por ela é conhecida como jereré, a mesma usada para produzir redes de pesca.
As penas, de variadas cores e texturas, já não são as mesmas encontradas pelos antepassados da artista, como as vermelhas dos guarás. Sendo assim, Glicéria usa o que lhe é possível atualmente. “As cores das penas de pássaros, muitos deles extintos, são de aves que conseguimos recuperar no território com o nosso trabalho de conservação da natureza. O manto é cura, assim como a cerâmica, as flautas e o canto do nosso povo. Tudo faz parte de um processo de pertencimento que se fortalece”, diz.
Conheça a artista
Cineasta, professora e ativista indígena, Glicéria, também conhecida como Célia Tupinambá, defende o resgate, a volta ao início, o “fio da meada” de uma identidade cada vez mais ameaçada. Ela tece em seu trabalho com o manto tupinambá a força ancestral de sua origem, a Aldeia Tupinambá de Olivença, na Serra do Padeiro, Bahia.
Glicéria representa seu povo junto à Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) e só teve o primeiro contato com o manto em 2006, apenas por fotografias. Isso porque a indumentária emplumada tradicional dos Tupinambá, encontrada pelos colonizadores no século XVI, foi levada para museus da Europa e ficou inacessível à maioria dos brasileiros.
Decidida a revitalizar esse símbolo de memória e resistência, Glicéria confeccionou uma réplica, que hoje faz parte da coleção Os primeiros brasileiros, do Museu Nacional (RJ). A peça não foi atingida pelo incêndio que destruiu grande parte do acervo da instituição em 2018 porque, naquele momento, estava no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília.
Veja também:
>>“Um século de agora”: mostra apresenta 25 artistas e coletivos
Arte milenar
O Manto assojaba tupinambá, elaborado em 2021 e apresentado pela artista em Um século de agora, é mais do que uma peça finalizada, é uma instalação que demonstra o processo do seu feitio. Segundo Glicéria, ele é uma personalidade. “Entendi o que estava guardado pelas anciãs da nossa comunidade, os artefatos de uma arte milenar trazida pelo cosmo, como um ritual que está se concretizando, se formando. Resolvi mostrar isso para que as pessoas conheçam a complexidade do manto para além do capuz, da malha e das camadas de penas que o compõem, com uma estrutura que representa a transformação e a resistência do nosso povo em todas as etapas que vivemos”, explica.
Um século de agora – Cantos para o manto tupinambá
terça 6 de dezembro de 2022
às 11h
Itaú Cultural
Entrada gratuita