“O léxico de uma língua, além de revelar a visão de mundo de um povo, é a porta de entrada do conhecimento linguístico que dele emerge”, evidencia Graciela Chamorro, teóloga e professora aposentada de história indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e idealizadora do Dicionário kaiowá-português, obra que terá seu lançamento nacional no dia 29 de novembro, às 15 horas, em live no canal do YouTube da Editora Javali.
O projeto, apoiado pelo programa Rumos Itaú Cultural, é resultado de mais de uma década de trabalho de Graciela em colaboração com dezenas de pessoas, pesquisadores indígenas e não indígenas. Paraguaia, Graciela Chamorro tem como língua materna o guarani e paterna o espanhol, e vive no Brasil há mais de 40 anos, dedicando, desde então, suas pesquisas acadêmicas, pessoais e artísticas aos povos e línguas indígenas, em especial os Kaiowá.
Com projeto gráfico do designer mineiro Vitor Carvalho e ilustrações da artista kaiowá Misael Concianza, o dicionário conta com cerca de 6 mil verbetes, fotos e minibios dos colaboradores indígenas, depoimentos e muito mais. Esta primeira versão do dicionário se apresenta em formato digital, disponível no site da Editora Javali. No ano de 2023, ele terá sua versão impressa através de um projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e (UNI-BH).
A expectativa de Graciela e do diverso comitê editorial é que a obra contribua com muitos falantes da língua kaiowá, pesquisadores do Brasil e do mundo e curiosos, e também sirva de exemplo a outros projetos com essa perspectiva. “Além de sua relevância linguística e histórico-antropológica, o dicionário tem uma relevância social. Pensamos sobretudo nos falantes da língua kaiowá, nos acadêmicos indígenas, que há duas décadas começaram a dar os primeiros passos para uma reflexão acadêmica, no âmbito escolar e universitário, sobre sua história, seu modo de ser histórico e contemporâneo e sobre sua língua.”, ressalta Graciela Chamorro.
Geograficamente, o dicionário privilegiou a língua kaiowá falada por homens e mulheres do antigo Ka’agwyrusu, termo que significa “mata densa” ou “mata grossa” e se refere à mata densa que cobriu, até metade do século XX, boa parte do antigo sul de Mato Grosso, entre o Rio Brilhante e os córregos Panambi, Hũ e Laranja Doce.
“É sabido que a escrita não dá conta de representar fielmente todas as propriedades linguísticas de uma língua. Embora linguistas se esforcem para isso, a escrita prática não segue estritamente uma análise puramente linguística; ela é simbólica, carregada de sentidos e significados. Por isso aos critérios linguísticos se somam os pedagógicos, políticos, culturais identitários e interculturais”, diz Graciela.
Além da relevância linguística, histórica e antropológica, o dicionário carrega consigo uma importância social, sobretudo para os falantes da língua kaiowá. O artista Misael Concianza comenta essa importância: “As pessoas mais velhas vão pegar o dicionário nas suas mãos e vão mostrar para as crianças suas palavras escritas, palavras que elas ouviram de pessoas sábias do passado”. Entre as inúmeras contribuições do dicionário, a obra mostra a novas gerações palavras que caíram em desuso e podem, eventualmente, ser resgatadas.
O lançamento virtual poderá ser acompanhado pelo canal do YouTube da Editora Javali, no dia 29 de novembro, e o livro digital pode ser acessado no site da editora.
lançamento do Dicionário kaiowá-português
terça 29 de novembro de 2022
às 15h
on-line – YouTube da Editora Javali
[livre para todos os públicos]