Seu nome! vejo-o escrito em letras d'ouro
No azul sideral à noite quando
Medito à beira-mar:
E sobre as mansas águas debruçada,
Melancólica, e bela eu vejo a lua,
Na praia a se mirar.
Essa alcunha toda inteira, que, no último arcar, paira nos lábios terminantes, essa alcunha costura o poema “Seu Nome”, da autora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917), um dos escritos do volume Cantos à Beira-Mar, datado de 1871. E são esses versos, justamente esses versos e outros assim, que a intérprete Socorro Lira, também nordestina (da cidade paraibana Brejo do Cruz), grava como música no EP denominado Seu Nome (2017). Agora, dois anos depois, a compositora mostra Cantos à Beira-Mar, 12o álbum de sua carreira: com seis temas inéditos (além das quatro faixas feitas para a obra anterior), a artista amplia sua homenagem à poeta e, com projetos homônimos aos dela, entrelaça potências femininas nas artes.
O lançamento do disco acontece em 14 de abril, no Auditório Ibirapuera, em um espetáculo com arranjos e direção musical de Jorge Ribbas, além da participação especial da escritora Maria Valéria Rezende, da acordeonista Cimara Fróis e da cantora Fabiana Cozza.
Vozes vivas, vivas vozes
Outubro de 2017, Paraíba. Um encontro de mulheres da literatura, o Mulherio das Letras, reunidas em João Pessoa, busca reforçar o trabalho de cada uma delas. Em virtude dessa ocasião, Socorro Lira foi convidada por Maria Valéria Rezende para participar do grupo: visto que a homenageada do evento era Maria Firmina dos Reis, a criadora do livro Quarenta Dias (2014) propôs à cantora musicar poemas de Firmina. “Até então, eu não sabia da existência da primeira romancista brasileira. É 'incrível' como ocorrem apagamentos de determinadas figuras, principalmente se são mulheres”, pondera Socorro. A compositora aceitou o pedido e, desse modo, surgiu uma compilação de quatro canções – o EP Seu Nome.
O resultado da iniciativa preambular agradou e muito as envolvidas. “A poesia ganhou um frescor e uma força. Por isso, pensamos em seguir 'avivando' vozes femininas esquecidas ou abafadas”, recorda a violonista. Valéria intitulou o intento de AvivaVOZ e, em 14 meses, Socorro pôs melodia em 102 poemas de dez poetas que publicaram entre os séculos XVIII e XX no Brasil. Cantos à Beira-Mar (2019) – que, vale enfatizar, tem apenas 500 exemplares físicos – é o pontapé desse material, que pode virar CDs, songbooks, shows e demais formatos. E há um mundo de motivos pelos quais se celebra a inventora de Úrsula (1859): “Porque a história é cíclica e o que tem consistência permanece. Porque ela fala de sua época como pouca gente falou, a partir do lugar de mulher, negra, sem posses, quando a escravização do povo negro ainda era legalizada neste país. Professora, poeta, musicista, prosadora e livre”, sintetiza a protagonista da apresentação no Auditório Ibirapuera.
No tocante ao show, aliás, Socorro Lira sabe da responsabilidade de levar, para o palco, as palavras de Maria Firmina para o hoje, termos que, artísticos em seu âmago, ajudam leitores e ouvintes a perscrutar a existência. Sentimentos expressos vigorosamente, o poder da poesia a ressoar em acordes, timbres de liberdade e glória, a intérprete deseja que a noite seja linda e verdadeira como a vanguardista cuja alcunha, essa alcunha toda inteira, merece destaque e uma vida maior do que a borracha do tempo.
Socorro Lira [com interpretação em Libras]
domingo 14 de abril de 2019
às 19h
[duração aproximada: 70 minutos]
ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
[livre para todos os públicos]
abertura da casa: 90 minutos antes do espetáculo.
Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Ingresso Rápido e em seus pontos de venda a partir das 13h do dia 29 de março. Também estão à venda na bilheteria do Auditório Ibirapuera, nos seguintes horários:
sexta e sábado das 13h às 22h
domingo das 13h às 20h