"A poesia sempre foi um lugar de construção do pensamento de mulheres negras, inclusive como teoria crítica"
Publicado em 15/08/2021
Atualizado às 18:36 de 16/08/2022
A poesia sempre foi um lugar de construção do pensamento de mulheres negras, inclusive como teoria crítica. Nas poesias dessas mulheres encontramos pistas importantes para compreender o que elas querem, que agendas defendem, como se expressam. Na poesia de mulheres negras, colhemos experiências compartilhadas e distintivas. A poética negra também permite observar reflexos de tempo. Do tempo de agora e de tempos passados.
É a partir de múltiplos reflexos, de várias vozes, de tessituras que se encontram pelos caminhos da poética negra que Jarid Arraes traz para nós uma incrível antologia de poesia de mulheres negras. Poetas negras brasileiras – uma antologia mobiliza uma coletividade de escritoras negras que, em uma só obra, compartilham, interpretam, inscrevem sobre si e sobre nós. O livro conta com nomes como Conceição Evaristo, inspiração para muitas mulheres, que nesta obra compõem o símbolo de uma geração que mobilizou na literatura suas vivências e experiências, em uma época em que nossas vozes eram menos ouvidas. Junto com ela figuram escritoras mais jovens, receptoras desse legado, como é o caso de Mel Duarte.
Para além de proporcionar uma visão intergeracional da poética de mulheres negras brasileiras, temos a oportunidade de finalmente ver expressa a multiplicidade de escritas negras em sua dimensão territorial. A dedicada curadoria de Jarid privilegiou a poesia de mulheres negras para além do eixo Rio-São Paulo, o que fortalece a política de valorização das várias experiências de negritude que encontramos no Brasil.
A poesia é um lugar de manifesto, e esse livro é um manifesto coletivo no qual podemos compreender as diversas agendas de mulheres negras. A experiência da maternidade, dos afetos, a construção de uma identidade autodefinida, os desafios em romper com as violências impostas a estereótipos externamente definidos, entre outros temas, compõem a obra, que foi organizada a partir de um convite aberto de Jarid às mulheres negras. Um convite respondido positivamente e que se desdobrou em um presente para a cultura literária brasileira: um registro potente do que o compromisso com a coletividade de mulheres negras pode fazer.