Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Ativo2011 | Consciente

Winnie Bueno, colunista do site do Itaú Cultural, fala de suas lembranças de mobilizações como a Marcha Zumbi 300

Publicado em 15/11/2020

Atualizado às 10:22 de 12/07/2022

Por Winnie Bueno

Eu era criança, mas me recordo das camisetas brancas em que estavam escrito “Valeu, Zumbi!”.  Lembro de um clima de reivindicação e de luta, de homens e mulheres negras que eu assistia nas reuniões do movimento negro. Não me lembro do teor das discussões; porém, recordo de ver pessoas negras sentadas em uma roda, conversando sobre coisas que eu não entendia muito bem, mas sabia que eram importantes. Eu gostava de brincar nessas reuniões, em Porto Alegre (RS), porque me sentia segura e queria ouvir aquilo que não compreendia. Talvez minha cabeça de criança já soubesse que, um dia, eu ia entender.

>> Confira o texto de estreia da coluna Ativos Escritos

Os negros e negras que sentavam em roda e discutiam os passos organizativos da Marcha Zumbi eram de muitas tonalidades de pele e tipos de cabelo. Acho que eles não estavam preocupados com essas coisas naquele momento. A preocupação daqueles ativistas era reivindicar melhores condições de vida para a população negra, marcar a falsa abolição – aquela que Oliveira Silveira, negro gaúcho que marcava em poesia sua experiência de ser preto no Sul, chamava de liberdade sem asas.

Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Edson Cardoso, Hélio Santos, Conceição Fontoura e a minha mãe, Sandrali Bueno, certamente têm memórias mais vivas e completas do que minhas lembranças de infância sobre as mobilizações políticas que articularam a Marcha Zumbi 300. Eu lembro que Zumbi não apareceu para mim nos livros de história, na escola. Por outro lado, ele sempre foi presente, já que se fez símbolo de liberdade na educação que recebi nas organizações do movimento negro. Fez-se presente nas camisetas e em um livro de Júlio Emílio Braz, intitulado Zumbi – Despertar da Liberdade (1999). Fez-se presente nas músicas de pessoas como Leci Brandão e no pagode do Negritude Jr.

Marcha Zumbi 300 | foto: Fernando Cruz / Acervo CSBHFPA

Para mim, a consciência negra se elaborou na luta e no afeto. Nos aprendizados diários do movimento negro, na persistência de minha mãe em educar a mim e a minha irmã de forma que soubéssemos que nossa negritude era motivo de orgulho.

Eu me fiz consciente no amor preto. Não esse romantizado, heterocentrado e mítico. No amor preto da consciência negra de quem luta pela emancipação. O grito forte de Palmares, coletivo e revolucionário, é o que me interessa da consciência negra, porque é esse grito que me faz consciente o ano todo.

Compartilhe