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Encontros com a nova literatura brasileira contemporânea: Juliane Vicente

Projetos transmídia, horrores modernos e ações culturais e regionais marcam a literatura experimental de Juliane Vicente

Publicado em 14/12/2023

Atualizado às 14:08 de 11/01/2024

Por Enéias Tavares

A série Encontros com a nova literatura brasileira contemporânea apresenta o trabalho de escritores da cena literária recente, com uma seleção atenta à produção de todas as regiões do país. Neste ciclo, dedicado à literatura fantástica nacional, a curadoria e a apresentação são do escritor e pesquisador Enéias Tavares. 

Entre realidades digitais, horrores urbanos e valorizações regionais e autorais: Juliane Vicente

Em nossos tempos tecnológicos, a própria noção de narrativa está sendo revista e repensada, quando não reinventada. Nesse sentido, o registro em áudio, a variação de múltiplas mídias e o uso da tecnologia tanto como suporte quanto como mote ficcional parecem afastar os leitores do objeto livro e aproximá-los de seus dispositivos digitais. Por outro lado, a presença da voz, da imagem e dos gestos sugere uma retomada das próprias origens da arte de contar histórias.

Na pré-história, quando as primeiras comunidades humanas passaram a se reunir para ouvir narrativas de guerra, morte, deuses ou feras, ao redor do fogo ou na escuridão de cavernas ou tendas campais, era o corpo dos bardos que se fazia ouvir, ver e sentir, em uma experiência audiovisual e sensorial que aproximava a voz narrativa da comunidade de seus ouvintes. Desses primeiros eventos narrativos aos episódios detalhados de Homero e daí ao registro escrito que chegou a nós foi um salto. Um salto de séculos e milênios, mas um salto. 

Por isso, as aparentes novidades dos tempos modernos surgem para muitos como singelas revisões de práticas narrativas há muito presentes na história da cultura. Nessa seara, adaptações cinematográficas, quadrinísticas ou “gameficadas”, ou mesmo narrativas transmídia inéditas e fragmentadas, têm surgido como novas modalidades de criar e consumir histórias. No Brasil, séries como A bandeira do elefante e da arara, de Christopher Kastensmidt, e a Tetralogia angélica, de Eduardo Spohr, têm aproximado a experiência do livro de práticas como RPG, que, além de gerar interesse de leitura, despertam a criatividade. 

Na intersecção entre literatura e mídia, entre o físico e o digital, o projeto Pampa bizarro, de autoria de Juliane Vicente – em parceria com Vinicius Dullius e Diego Mendonça e com a participação de uma grande equipe de autores e artistas, além de financiamento público –, é digno de nota. Trata-se de uma obra multimídia constituída de um curta de animação e de histórias literárias com recursos visuais e sonoros. Em um projeto que se apresenta como regional, a intenção é incluir ilustrações animadas para todos os textos.

Quanto ao braço autoral, o curta tem roteiro de Juliane e animação de Dullius. Quanto às narrativas literárias, elas são escritas por 20 escritores gaúchos, grupo composto de autores consolidados no gênero fantástico e autores que se tornaram expoentes e têm se destacado no cenário contemporâneo. A ideia, segundo Juliane, é “explorar o potencial da cultura regional, numa narrativa que apresenta literatura e audiovisual, reunindo artistas gaúchos do gênero para a publicação inédita de um universo narrativo transmidiático”.

Esse interesse pela forma de contar histórias nasceu muito cedo no caso de Juliane. Ela lembra de, por volta dos 5 anos, buscar uma porção de livros “proibidos” em casa. Quando chegou à idade escolar, tornou-se uma habitante da biblioteca, passando o intervalo das aulas naquele espaço que via como mágico. Segundo a escritora, foi lá “que tive acesso a inúmeras obras que me formaram como leitora, com predileção pelos livros da coleção Vagalume, A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, que era uma história com a qual eu me identificava, e Alice no País das Maravilhas, obra que traduzia o meu mundo de fantasias”.

Foi na mesma biblioteca que Juliane descobriu outros livros “proibidos”, como O mundo de Sofia, do norueguês Jostein Gaarden, e Frankenstein, da inglesa Mary Shelley, além de obras de Sidney Sheldon e Agatha Christie. Foi nessa época que a leitora e escritora em formação descobriu as histórias de terror e ficção científica. Anos depois, ela passaria por alguns fã-clubes de Percy Jackson, Star Wars e Harry Potter, nos quais começou a organizar ações culturais. 

Adulta, ingressou no curso de letras – língua e literatura inglesa, em que se formou em 2016. Foi nessa formação que ela venceu seu primeiro prêmio literário, o Fale em Versos, com um miniconto erótico sobre uma mulher-demônio. Na universidade, as disciplinas de escrita criativa a mobilizaram a acreditar no que estava produzindo, especialmente sob a mentoria de professores como Bernardo Bueno e Assis Brasil. Sobre seu sonho de trabalhar com livros, Juliane afirma que, desde cedo, “queria ser escritora. Mesmo que minha família insistisse em dizer que o único caminho possível era fazer um curso como medicina ou direito, eu respondia não só que seria escritora, mas também professora, causando certo desespero geral”. 

Com o diploma em mãos, Juliane se tornou professora estadual. Apesar da vida agitada como docente de inglês, aceitou fazer uma seleção de dança para o Grupo de Danças e Músicas Populares Andanças, marco de sua trajetória. Multiartista, como bailarina do Grupo Andanças viajou para e dançou em países como Peru, Chile, Itália e Espanha. Com essa prática, sua escrita mudou, passando a mergulhar em temas relacionados ao corpo e aos sentidos.

Também foi nessa época que seu interesse por terror começou, e ela se viu disposta a abordar temas desconfortáveis. “Eu queria escrever histórias de horror explorando o medo, aventurar-me pela fantasia em mundos imaginados e na ficção científica”, reflete. “O encantamento a partir da leitura me trouxe a percepção do quanto muito do que eu lia não era representativo da minha vivência. Em busca de identidade, encontrei autores negros como Conceição Evaristo e Octavia Butler. Das portas que se abriram para mim na dança e na literatura, fui me aprimorando e me inserindo em outros espaços ao longo do tempo, me encaminhando para um destino artístico que se aproxima do afrofuturismo.” 

É nessa intersecção do mundo e do corpo, do passado e do futuro, do narrativo e do tecnológico, que a ficção e o trabalho de Juliane encontram sua base e sua motivação. Trata-se de uma missão de resgatar o passado, visando construir e reimaginar futuros, em uma aproximação muito forte com o afrofuturismo, estética da qual Juliane se vê como representante. Essa visão está presente em sua pesquisa atual para seu doutorado em comunicação, no projeto Pampa bizarro e no conto que ela escreveu para a coluna Encontros.

Nesse último, intitulado “Espelho meu”, a autora explora os clamores – e os horrores – de uma visibilidade digital perpassada pela autorrepresentação nas redes sociais. Em um conto marcado pela inserção semântica do mundo digital, acompanhamos a narrativa de uma protagonista que pagará todos os preços – corpóreos, mentais e sociais – para aumentar sua popularidade. Não indicado para pessoas sensíveis, trata-se de um perturbador passeio pela sociedade da perfeição física e da imperfeição existencial. 

Assim, por meio de sua poesia e de sua dança, por meio de sua ficção e de seus projetos culturais, ou então de sua pesquisa e de sua capacidade de liderança e reunião de artistas e criadores, Juliane tem continuado a nos brindar com uma ficção corajosa e inquietante. Unindo temáticas sociais e pessoais a um mundo gritantemente tecnológico, é a sinestesia de sua prosa que fica na mente dos leitores, em uma valorização de quem somos, hoje, ontem e amanhã, e uma redescoberta do próprio prazer de ouvir, contar e cantar histórias.

 

A ilustração mostra um rosto exibido em quadrados sobrepostos, como múltiplas telas de celular: uma tela exibindo a boca, outra o olho, outra a a orelha, outra o nariz e a boca de perfil. Acima dessas imagens há vários balõezinhos com emojis.
"Quando as luzes se apagavam, eu me perguntava como uma mulher com tantas inseguranças tinha se tornado uma grande influencer?" (imagem: Girafa Não Fala)

 

“Espelho Meu”

 

Vem comigo, eu sou a Flor Duarte. Aqui você encontra um pouco de tudo sobre o universo da beleza e da moda, a minha rotina e, é claro, os meus bichinhos, a Danú e o Pipo! Um beijo florido! #blogueira #moda #lookdodia #modafeminina #makeup #digitalinfluencer #instagood #love #tendencia #brasil #style #beleza

 

30 segundos, 109 visualizações, 65 curtidas. Desligo o modo vibrar, as notificações invadem a tela:

 

         “Me nota Flor <3”

         “Tá meio cheinha né Oo”

         “Lindona demais, qual batom vc tá usando hoje?”

         “Nunca foi beleza, sempre foi filtro”

 

Meu advogado não me deixa responder comentários. Quanto mais hate, melhor, ele diz, sem saber o que isso significa pra mim. A campainha toca, deve ser a equipe do canal SuperLinda. Como eu concilio criação de conteúdo e vida pessoal? Coloco a mão no rosto e suspiro: Pergunta difícil, viu?

 

Sorrio com a boca bem aberta pra que o fotógrafo capture as lentes novinhas. Deslizo os dedos pelas mechas retocadas na última tendência: morena iluminada. Vai que eu consiga uma publi melhor de shampoo. A entrevistadora pergunta se eu já tomei calote de alguma empresa: Senta aí que lá vem história.

 

Todo mundo gosta de ouvir um relato de alguém sendo feito de trouxa. Gargalho alto, quanto mais espontânea melhor. A bocarra é infálivel, pode ser que vire até meme. Gravamos stories, o making of vai ser publicado amanhã, beijo, beijo, tchau.

 

Solto Danú e Pipo da área pet. Eles se enroscam em meus pés e eu choro de olhos abertos, incapaz de apertar as pálpebras ou mover as maçãs do rosto pra cima. Danú esfrega a cabeça em minha mão, passa a latir em direção ao escritório.

 

— Eu sei, filha. Mamãe já tá indo pra lá.

 

Abro o notebook, o número 1 em vermelho indica o improvável: alguém leu o meu relato. Há meses eu havia publicado no fórum, sem retorno algum. O usuário identificado como VickyA disse que o mesmo havia acontecido com ela:

 

Eu tinha um blog de viagem e parecia que tudo que eu tentava fazer pra ter público não surtia efeito… Até eu conhecer a R#d#. 50k seguidores por mil reais, eu nem tinha direito esse dinheiro, mas eu acreditava no que eu tava fazendo. Eu precisava do algoritmo, que meu trabalho alcançasse mais gente. Eu achei que seria algo automático…  Até receber o primeiro pacote. Eu comecei a mudar, aos poucos. Já tentei parar algumas vezes, mas desisti. Acho que você sabe tanto quanto eu qual é a única opção e eu não tô preparada pra isso. Espero que você fique bem, saiba que não está sozinha.     

 

Meu estômago ronca e eu respiro fundo pra não acordar a criatura dentro de mim. A Rede havia feito o mesmo comigo. Eu sonhava em ser escritora, publicava muitas coisas, mas ninguém parecia dar atenção. Às vezes alguém da família se compadecia e comprava alguma coisa pra ajudar, mas não lia.

 

Quando a internet se tornou o único lugar de venda, todo mundo começou a falar de entrega e engajamento. Era a oportunidade pra quem queria se lançar como escritor, pra entrar numa grande editora, você precisa ser visto, ter leitores. Quando você ouve uma coisa tantas vezes, você começa a acreditar. Depois de muito pensar, cliquei que concordava com todos os termos e aproveitei a promoção de 15 mil seguidores brasileiros, em dez vezes no cartão.

 

Em três dias chegou o pacote, a primeira publi. Uma vitamina gummy. Era isso que dizia na caixa, eu nem li a embalagem. Nunca fui muito ligada em coisas desse tipo, tomei o tal suplemento, gravei o vídeo e tudo pareceu estranhamente natural. Eu ainda sonhava com meu vestido de gala vermelho-vinho ao receber um grande prêmio literário. Em poucos dias ganhei mais 50 mil seguidores e aí que a coisa começou a mudar.

 

Foi difícil perceber no início, cada vez eu escrevia menos. A artista morria para a Flor Duarte nascer. Um dia eu estava na praia e uma onda deixou meu biquini torto, foi o suficiente pra viralizar a foto da minha aréola enorme.

 

Horas depois, eu estava na mesa, pela primeira vez, com a ajuda da Rede que me ‘socorreu’ com uma equipe de Gerenciamento de Crise. De algum modo, pareceu que a ideia tinha sido minha. Lá, deitada, um tremor me subiu pela barriga, nervosismo, pensei. Saí daquela sala toda enfaixada, de seios novos e uma clínica pra indicar.

 

Essa foi uma cirurgia esperada por mim, por anos! Foi tudo muito tranquilo, com anestesia, não senti dor nenhuma, pelo contrário, dormi o tempo todo quando estava sendo operada kkkkk. Esse dia mudou minha autoestima, hoje sou uma mulher mais segura e confiante. Agradeço a toda a equipe da BellaVista Co. que me trataram com tanto carinho. Recomendo muito! #autoestima #BellaVistaCo. #FlorDuarte

 

Naquela semana eu atingi 200 mil seguidores e os comentários aumentaram.

 

“Porque você não aproveita pra arrumar a cara também?”

“Alguém conta pra Flor que ela precisa dar um jeito nesse nariz de batata!”

“No lugar dela eu já tinha aproveitado e feito o corpo todo”

 

Lá estava eu novamente. O anestesista ao meu lado, muito simpático, senti a agulhada e a queimação no braço. Antes das luzes se apagarem por completo, pude ouvir alguém dizendo:

 

— Cuidado pra não danificar o espécime.

 

Em casa, não consegui dormir por três dias. O nariz sangrava muito, eu sentia muita dor, do maxilar ao ouvido, um latejar que fazia pulsar minha testa. Prometi relatar o pós-operatório pros meus seguidores, mas fui orientada a aguardar o inchaço diminuir, além de que com aquele troço enfiado dentro do nariz eu parecia um monstro. Sentia agonia de não conseguir respirar pela boca, então foi melhor mesmo não ter gravado nada, eu não conseguia nem falar com os lábios tudo rachado.

 

O resultado ficou perfeito, um sonho realizado! #estetica #rinoplastia #BellaVistaCo. #FlorDuarte #saude

 

“Alguém fala pra ela? Não ficou bom!”

“Flor, acho que um lado está menor que o outro”

“Tá linda de Pinóquio!”

 

A partir daí uma profusão de idas e vindas em corredores azul claro com cheiro de naftalina.

 

“A papada tá enorme”. Lipoaspiração.

“Ficou quadrada nesse vestido” Retirada de costela e abdominoplastia.

“Essa sombra não favoreceu tua pálpebra caída” Blefaroplastia.

 

Me tornei a embaixadora da Bella Vista Co. Nos outdoors da estação de trem aos intervalos dos vídeos no Youtube. Meu rosto estava lá, no anúncio, convidando o mundo inteiro a ter uma “nova vida”. Seja lá como fosse, se tivesse que cortar, injetar, costurar, tudo era uma questão de ajuste. Reduzir ou aumentar, do caído e flácido ao firme e proporcional. O meu slogan havia se tornado “essência da felicidade”, tudo aquilo que eu divulgava era um pedacinho do que eu dizia me fazer feliz.

 

Aquele outro sentimento que eu tinha quando inventava uma história diminuía, esmagado pela euforia de ter o mundo inteiro prestando atenção em mim. Eu até havia tentado publicar uma história com meu nome.

 

“Coragem a sua”

“Como escritora, a Flor é uma ótima blogueira”

“Adorei. Nota: dó.”

 

Desisti.

 

Uma sombra se aproximava e eu podia sentir que estava sendo engolida de dentro pra fora. Mais e mais entrevistas, viagens carregando malas que voltavam cheias de coisas que eu usaria uma vez. Programas ao vivo, depilação permanente, preenchimento labial, menos outra costela, afinal a televisão engorda pelo menos dez quilos.

 

Quando as luzes se apagavam, eu me perguntava como uma mulher com tantas inseguranças tinha se tornado uma grande influencer? Eu fui virando uma boa atriz. Em algum lugar ainda existia a menina que sonhava em ser escritora e não fazia sentido algum ela ter se tornado a Princesa da Autoestima. Não conseguia acompanhar a moda, veio o primeiro milhão de seguidores. Eram muitas reivindicações:

 

“Sua pele tá oleosa, viu”

 “Diminui a comida, que tá feia”

“Refaz o nariz, gata!”

“Se fizer o queixo, aproveita e já faz as orelhas”

 

Foi nas últimas vezes que eu ouvi esse chamado que eu finalmente entendi a falta de controle. Nesse processo, meu corpo começou a adquirir certa resistência à anestesia.

 

A equipe da Bella Vista Co. me convidou para ser a modelo de um novo procedimento: o Fio de Garras. Os efeitos eram espetaculares. Fiquei entusiasmada, já havia lido sobre o assunto e que tinha uma aplicação indolor, no entanto o médico me informou que apesar do mesmo nome, o que eu faria era algum tipo de update do procedimento, uma inovação. Um método revolucionário de fios de garra com resultados permanentes, reduzindo toda a flacidez da pele, como uma bomba de colágeno que retardaria o envelhecimento em 30 anos.

 

Dez. Nove. Oito. Sete. Minha boca adormece e minhas pálpebras descansam, mas não se fecham. Alguma coisa está errada.

 

— Pode vir, ela já foi.

 

Outro médico que nunca vi antes, se aproxima, com o bisturi.

 

— Cuidado pra não danificar o espécime.

 

***

 

VickyA nunca mais me mandou mensagem, perguntei sobre o médico fantasma e ela desapareceu. Estou sendo vigiada.

 

Eu não posso parar, não funciona assim. O público pede e eu atendo, de outro modo, a criatura dentro de mim começa a despertar. 149, 164, 170 milhões de seguidores.

 

“Você era mais bonita antes”

 

Minha cabeça lateja e os pontos se abrem, não sinto cheiro, nem gosto do que estou comendo.

 

“Não há cirurgia que supere a beleza natural”

 

O nariz verte oleosidade, um cheiro de azedo, a coceira insiste onde estariam as cicatrizes. Meu olho coça muito, por dentro das pálpebras é como se formigas caminhassem em desatino. 

 

“Tá na hora de parar antes que vire um monstro”

 

De frente pro espelho, furo o lábio e o alívio é imediato no escorrer do pus amarelo ocre. Um estouro, depois o outro, meu ombro cede, as próteses caem no tapete felpudo. Puxo pra frente, descolando as orelhas. Com a lâmina descarto a cartilagem simétrica, arranco a pele que se desgruda pegajosa, revelando a trama de metais que sustentam a face. Finalmente posso respirar.

 

 

Juliane Vicente é multiartista, cientista afrofuturista, escritora, slammer, performer e bailarina dos grupos Nossas Origens, Andanças, Cia. La Negra, Afro-Sul Ọdọmode e Dancê Art. Doutoranda em comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), atua também como produtora cultural. É autora de diversos contos de ficção científica, fantasia e horror, destacando-se “Sankofa”, finalista do Prêmio Odisseia em 2023, e “O alinhamento das estrelas”, vencedor do Prêmio Odisseia em 2021.

Coluna escrita por:

Enéias Tavares

Enéias Tavares

Escritor, professor e tradutor.
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