Alexandre Ribeiro e Nayra Lays, colunistas da Sankofas, contam a experiência que viveram diante de Malala Yousafzai
Publicado em 13/08/2018
Atualizado às 18:57 de 09/02/2023
“Coloque energia em suas palavras, para que elas voltem positivamente.”
(Malala Yousafzai)
Palavras. Foram elas que me moveram até aquele auditório onde dividi espaço, sonhos e sentimentos com Malala Yousafzai e muitas outras mulheres que estão se movimentando em um percurso que é árduo, mas, não nos esqueçamos, é nossa única opção. De tempos em tempos, decifro códigos que a vida me coloca. Nas fases de extremo cansaço, silêncio e recolhimento, ironicamente me surgem muitas palavras – ditas, cantadas, recitadas, escritas. Malala, a situação está difícil por aqui. Toda palavra que vem de fora e afeta já foi dita de alguma outra maneira dentro do nosso peito. Mas, assim como eu senti ao vê-la de perto naquele dia, tive de voltar para lhe dizer. Nada faz sentir melhor do que fazer sorrir.
O sorriso, em toda a sua peculiaridade, tem um valor único para cada ser. E isso se intensifica na trajetória de jovens que precisam lidar com violências diárias. Sim, está sendo bem difícil sorrir por aqui nestes dias, Malala. Porém, mais do que difícil, me aproximar de luzes como a sua me lembram que um mundo melhor através da educação é possível.
Marcello Gugu disse uma vez: “Se andar armado for inevitável, que a sua arma atire flores”.
Quando escutei o eco de sua risada naquele auditório lotado, o semblante de cada pessoa me lembrou todos os motivos de eu estar ali. Sim, existem pessoas que possuem em si o dom da cura pelas palavras. Cura. Mesmo que seja ao puxar sentimentos para a superfície, para que a gente possa enxergá-los com clareza e lucidez.
Foi isso o que senti enquanto ouvia Malala falando sobre a importância do acesso seguro à educação para meninas em todo o mundo, falando sobre feminismo e os desafios para alcançar um grande objetivo. Tudo isso sorrindo. E despertando milhares de sorrisos em nossas almas.
Eu devo admitir que até mesmo em minhas dificuldades o fato de ser homem tornou muita coisa mais fácil. E fiquei tão feliz de poder estar ali, para escutar. Acredito que o nosso ponto de congruência é a subversão. O que me apetece é esse encontro, de jovens que no meio do caos não deixam de sonhar. Gosto de pensar em nossa existência como uma violência pacífica. E penso: será que existe revolução maior que transformar dor em poesia?
Nossa maior vingança é sonhar. Mas esse é o primeiro passo.
É preciso ter um plano, um objetivo claro, macro, mas compreender os contextos, e trabalhar em conjunto com quem tem as vivências necessárias para apontar o que e como estes podem ser transformados. Conceição Evaristo, que também participou da mesa de debate, me teceu sentimentos fortes quando falou sobre a importância de ler e escrever.
Segundo Conceição, “quem escreve ganha o poder de interferir no mundo”.
As pessoas que adoram nos atirar pedras mal sabem da possibilidade de pavimentar as estradas.
Malala, eu não posso negar que às vezes questiono as dualidades que me cerceiam. Não, eu não posso. Não posso acreditar que a paz é um evento que tem local e hora marcada. Por isso eu acredito em uma paz simples, que mora no essencial que todos nós carregamos: uma paz através do sorriso. Um sorriso consciente, profundo e valorizado.
Ao vê-la sorrir, senti minhas energias recarregadas. E tenho certeza de que nesta luta não estamos sós. Na verdade, somos sóis. Dispostos a emanar brilho por onde formos, reenergizando vidas a cada amanhecer. Enquanto houver possibilidades de encontros como esse, vamos nos municiar de conhecimento e educação e seguiremos buscando um mundo melhor. Obrigado por me resgatar o valor de um sorriso.
Nada faz sentir melhor do que fazer sorrir.