Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Mulheres que movimentaram o audiovisual brasileiro em 2023

Na última edição de 2023 da coluna "Grande Angular", Luísa Pécora resgata destaques do ano no audiovisual brasileiro

Publicado em 20/12/2023

Atualizado às 13:44 de 20/12/2023

Por Luísa Pécora

Chegou a época de fazer o balanço do ano: escolher os filmes favoritos, listar os campeões de bilheteria, relembrar os principais acontecimentos e analisar aquilo que foi tendência nos últimos 12 meses.

Em que pese a impossibilidade de contemplar todos os fatos, artistas e projetos marcantes – principalmente conforme se multiplicam as formas de produzir e ver audiovisual –, a coluna Grande angular também oferece sua retrospectiva. Abaixo, confira algumas das mulheres que movimentaram o cinema e a televisão do país em 2023.

Lílis Soares

A diretora de fotografia Lílis Soares já vinha ganhando destaque, mas em 2023 consolidou-se como uma das principais profissionais do país. Seu ano começou com o sucesso internacional de Mami Wata, longa-metragem nigeriano que lhe rendeu prêmios no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e no Festival pan-africano de cinema e televisão de Uagadugu (Fespaco), o mais importante da África. Nos meses seguintes, Lílis mostrou seu trabalho também em produções nacionais para o cinema (Ó pai, ó 2) e a televisão (Amar é para os fortes), além de rodar A melhor mãe do mundo, novo projeto da diretora Anna Muylaert. O ritmo deve continuar intenso em 2024: Lílis volta às telas já em 25 de janeiro, com a estreia de Nosso lar 2 – os mensageiros. Leia a entrevista que ela concedeu à coluna.

Fotografia colorida de Lílis Soares. A artista está em pé, segurando uma câmera cinematográfica, apoiada em um de seus ombros. Ao lado de Lílis há uma fila de pessoas, vestindo tecidos coloridos estampados.
Lílis Soares no set de Mami Wata (imagem: Drive Adebayo)

Carolina Markowicz

Quem também se destacou dentro e fora do Brasil foi a diretora e roteirista Carolina Markowicz, que neste ano lançou seu segundo longa-metragem, Pedágio. A cineasta recebeu vários prêmios internacionais, com destaque para o Tribute Award, do Festival de Toronto, na categoria Talento Emergente. Outros filmes de diretoras brasileiras reconhecidos nos principais eventos cinematográficos do ano foram A flor do buriti, de Renée Nader Messora e João Salaviza, e Levante, de Lillah Halla, ambos premiados no Festival de Cannes; Sem coração, de Nara Normande e Tião, selecionado para o Festival de Veneza; e O estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon, exibido no Festival de Berlim.

Fotografia colorida da diretora e roteirista Carolina Markowicz. Ela está sentada em  um cadeira dentro de um cômodo de paredes brancas. Carolina é uma mulher branca de cabelos louros e veste camiseta preta, calça jeans clara e botas marrons.
A diretora e roteirista Carolina Markowicz (imagem: Carlyle Routh/Divulgação)

Viviane Ferreira

O ano foi marcado pelas discussões sobre a renovação da Cota de Tela, mecanismo que obriga as empresas exibidoras a incluir longas-metragens brasileiros em sua programação e que tinha deixado de valer em 2021. A renovação só foi aprovada pelo Senado em dezembro, e o cinema nacional terminou o ano com participação de mercado na faixa dos 2,5%, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Apesar do cenário desafiador, a diretora e roteirista Viviane Ferreira conseguiu se conectar com o público com seu segundo longa-metragem, Ó pai, ó 2, continuação da comédia musical lançada em 2007. Até o momento em que escrevo esta coluna, o filme tinha batido a marca de 140 mil espectadores e 2,5 milhões de reais nas bilheterias em 25 dias de exibição e ocupava a sexta posição entre os filmes nacionais mais vistos do ano. Vale destacar que a primeira posição da lista ficou para Nosso sonho e a terceira para Mussum – o filmis, outros dois projetos com artistas negros em frente e/ou por trás das câmeras.

Fotografia colorida do elenco do filme Ó pai, ó 2 e da diretora Viviane Ferreira durante sessão de pré-estreia do filme. As pessoas retratadas são todas negras e estão em pé. Ao fundo é possível ver o telão do cinema.
A diretora Viviane Ferreira (centro) e o elenco de Ó pai, ó 2, durante sessão de pré-estreia do filme (imagem: Mariana Pekin/Divulgação)

Sophie Charlotte

Muitas mulheres ajudaram a criar Meu nome é Gal, cinebiografia da cantora Gal Costa (1945-2022), que teve a quinta maior bilheteria nacional do ano. A equipe incluiu, por exemplo, as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi, as roteiristas Maíra Buhler e Mirna Nogueira (que assinaram o texto ao lado de Lô), a diretora de arte Juliana Lobo (que trabalhou em parceria com Thales Ferreira), a figurinista Gabriella Marra e a maquiadora Tayce Vale. Todas estão de alguma maneira representadas no trabalho da atriz Sophie Charlotte, que se saiu muito bem na difícil missão de interpretar uma das maiores artistas da história da música brasileira. Considerando o já mencionado sucesso de Nosso sonho e Mussum – o filmis, parece que as cinebiografias terão papel especialmente importante para fortalecer a presença nacional nas salas. Saiba mais sobre Meu nome é Gal.

Imagem colorida da atriz Sophie Charlotte em cena do filme Meu nome é Gal. A atriz está de perfil, cantando com um microfone em sua mão. A iluminação da cena cria uma relação de luz e sombra entre as partes iluminadas, o rosto e o colo da atriz, e o resto da cena.
A atriz Sophie Charlotte em cena de Meu nome é Gal (imagem: Stella Carvalho/Divulgação)

Alice Carvalho

A atriz Alice Carvalho brilhou como Dinorah Vaqueiro em Cangaço novo, a grande série brasileira de 2023. Num papel que questiona estereótipos da representação feminina no audiovisual, a artista conquistou o público e chamou atenção do mercado: em 2024, estará no elenco da novela Guerreiros do sol, da Globoplay, e do remake de Renascer, da TV Globo. O sucesso da atriz também reflete a crescente popularidade das séries nacionais. Antes de chegar ao catálogo do Amazon Prime Video, Cangaço novo foi exibida no Festival de Gramado, na primeira vez em que o evento deu espaço a uma série de televisão, e outros programas foram bastante comentados, como DNA do crime, A vida pela frente e Os outros.

Imagem colorida da atriz Alice Carvalho em cena da série Cangaço novo. Ela é uma mulher negra, de cabelos pretos amarrados em um penteado rabo de cavalo. Alice está sentada no chão com as costas apoiadas em uma parede.
A atriz Alice Carvalho em cena de Cangaço novo (imagem: Renato Amoroso/Amazon Prime Video/Divulgação)

Renata Martins, Jaqueline Souza e Grace Passô

Na televisão aberta, um dos destaques foi a antologia Histórias (im)possíveis, criada e escrita por Renata Martins, Jaqueline Souza e Grace Passô. Exibidos pela TV Globo, os cinco episódios da série utilizaram elementos de fantasia e mistério para abordar os medos femininos e, a partir deles, debater questões sociais urgentes. Por trás das câmeras, o projeto promoveu um interessante encontro entre profissionais de diferentes trajetórias, como a diretora Luísa Lima, que já trabalhava na Globo, e a diretora Everlane Moraes, que ainda não tinha passado pela TV aberta e era conhecida sobretudo pelo trabalho no cinema experimental.

Fotografia colorida de Jaqueline Souza, Renata Martins e Grace Passô. Elas são mulheres negras e vestem roupas com tons terrosos. Ao fundo é possível ver um jardim cheio de árvores e outras plantas.
Jaqueline Souza, Renata Martins e Grace Passô, autoras de Histórias (Im)possíveis (imagem: Globo/Daniela Toviansky)

As mulheres do novo Conselho Superior do Cinema

Depois de ficar praticamente paralisado durante o governo de Jair Bolsonaro, o Conselho Superior do Cinema voltou com uma bem-vinda novidade: pela primeira vez desde sua criação, em 2001, o órgão terá um colegiado civil com paridade de gênero. Além disso, todas as regiões do país estão representadas no novo conselho, cuja função é auxiliar na formação e implementação de políticas públicas para o desenvolvimento do audiovisual. As novas integrantes, que já foram empossadas, são Aletéia Selonk, Cíntia Domit Bittar, Debora Ivanov, Rosana Alcântara, Tatiana Carvalho Costa e Vânia Lima, além das suplentes Jaqueline Souza, Joyce Prado, Jussara Locateli, Luiza Lins, Mariza Leão e Paula Gomes. O conselho também é formado por 12 representantes de órgãos da administração pública federal, incluindo a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga.

Fotografia colorida da Cerimônia de posse de novos integrantes do Conselho Superior de Cinema, no Palácio do Itamaraty. Junto aos novos integrantes, estão o secretário-executivo do ministério da Cultura, Márcio Tavares, a secretária do audiovisual, Joelma Gonzaga, a ministra da cultura, Margareth Menezes, o secretário de produção comercial, ciência, tecnologia, inovação e cultura, Laudemar Aguiar, o diretor-presidente da ANCINE, Alex Braga. Todos estão em pé.
Cerimônia de posse de novos integrantes do Conselho Superior de Cinema, no Palácio do Itamaraty. (imagem: Antônio Cruz/Agência Brasil)

Coluna escrita por:

 Luísa Pécora

Luísa Pécora

Jornalista e criadora do site Mulher no cinema.

Compartilhe