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“Sóis”, de Babi Jaques e Lasserre: uma viagem musical pelas estradas do país

No texto de “Na ponta da agulha” deste mês, Jorge LZ comenta a música criada pelo duo nômade pernambucano

Publicado em 20/06/2023

Atualizado às 16:35 de 13/07/2023

Por Jorge LZ

“O novo álbum Sóis, do duo nômade Babi Jaques e Lasserre, é um convite para uma viagem astral por sons contemporâneos do Norte e do Nordeste brasileiros, conectados com a música do mundo e o cosmos.”

O parágrafo que abre o release de Sóis (2023) resume bem o que é o primeiro álbum da dupla pernambucana. Isso, porém, é apenas o ponto de partida para a imensidão que é o trabalho de Babi Jaques e Lasserre. Além de musicistas, compositores e produtores, eles são fotógrafos, cineastas, iluminadores e designers.

A imagem, com fundo branco, traz Babi Jacques e Lasserre um de costas para o outro. Ela veste uma roupa branca. Ele usa uma blusa vermelha. Ao redor deles, há um círculo esfumaçado em tons de vermelho e roxo.
Capa de Sóis (2023), de Babi Jaques e Lasserre | crédito: Rogério Samico

Juntos desde 2009 e casados desde 2014, Bárbara Jaques e Thiago Lasserre iniciaram a jornada musical com o grupo Babi Jaques e os Sicilianos, lançando, em 2013, o álbum Cosa nostra. Em 2019, seguindo os versos de “A vida do viajante”, de Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga, e “Nos bailes da vida”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, Babi e Jaques começaram a andar por este país levando a arte aonde o povo está. Nômades, com a companhia de Costelinha, Caramelo e João, seus três cachorros, eles viajam em uma van que é, ao mesmo tempo, casa, estúdio e palco ambulante. Já percorreram mais de cem cidades, rodando por quase 200 mil quilômetros, realizando shows presenciais e virtuais, oficinas e residências artísticas, participando de festivais, imersões e gravações, fazendo mentorias e assinando a produção musical, audiovisual e fotográfica de outros trabalhos.

A vida sobre rodas colocou o duo em contato com a diversidade de paisagens, costumes e sonoridades que compõe o caldeirão cultural brasileiro. Obviamente, isso está refletido nas 12 faixas de Sóis, compostas por Babi e Lasserre e algumas em parceria com André Macambira (“Nua”), Juliano Holanda (“O fugitivo”) e Manuca Bandini (“Movimento do ar”).

Babi Jaques e Lasserre estão em pé, ele atrás dela. Babi é uma mulher branca, com cabelo longo e cacheado, usa um vestido vermelho e um kimono branco. Lasserre é um homem negro, com cabelo cacheado em que há uma mecha vermelha. O fundo é esfumaçado e traz pequenas estrelas.
Babi Jaques e Lasserre | crédito: Beto Assem

As múltiplas informações foram processadas e resultaram em um disco conciso em suas muitas facetas. Arranjos sofisticados e apuro sonoro embalam o pop tropical psicodélico, recheado de vertentes musicais afro-brasileiras em diálogo com sons latino-americanos e de outros cantos do planeta. Percussão orgânica, beats eletrônicos, violão e sintetizadores convivem em perfeita harmonia, dando ainda mais profundidade ao conceito do álbum, que relaciona cada uma das faixas a um arquétipo do zodíaco, suas cores e seus elementos: “Nua”, leão; “Deixa fluir”, gêmeos; “Luar”, câncer; “Girassóis”, capricórnio; “Seguir a vida”, sagitário; “Movimento do ar”, libra; “Pólvora”, áries; “Cão guia”, escorpião; “Peixe papagaio”, peixes; “Lógica zoo”, aquário; “O fugitivo”, virgem; e “Pôr do sol”, touro.

Babi impressiona pela performance, explorando a intensidade de sua voz, soando aconchegante e, por vezes, misteriosa; enquanto Lasserre se revela um ótimo multi-instrumentista, com destaque para a sua percussão bastante criativa. O restante da instrumentação é feito por vários nomes da música pernambucana e por Rogério Samico, que também assina a produção e o design da capa. Há, ainda, espaço para a participação especial da fantástica Sofia Freire, na voz e nos vocais, na faixa “Cão guia”. Completando a parte técnica, Lasserre e Guilherme Assis são os coprodutores de “Pólvora”, “Nua”, “O fugitivo” e “Girassóis”, a mixagem foi feita por Léo D e a masterização ficou com Junior Evangelista e Felipe Tichauer.

Babi Jaques e Lasserre estão em pé. Babi usa um vestido vermelho e um kimono branco. Lasserre veste com uma calça e uma blusa brancas, além de um lenço vermelho na cabeça. O fundo conta com fumaça vermelha, branca e azul.
Babi Jaques e Lasserre | crédito: Beto Assem

São muitas as qualidades que encontramos no que fazem Babi Jaques e Lasserre. Entre elas, estão a dedicação, o cuidado e a forma como pensam e desenvolvem suas ideias, seja na comunicação, seja na parte sonora ou visual. Conceito é algo levado bastante a sério pela dupla, haja vista o resultado dos seus videoclipes e os estudos de automação de iluminação, nas suas apresentações, que buscam a integração de som e luz, fazendo com que esta também seja “tocada” através dos instrumentos. Todo esse comprometimento fica bastante evidente em Sóis, projeto em que texto e música revelam a diversidade e a complexidade de um país gigante como o Brasil, além, evidentemente, do talento da dupla.

Assim como as localidades que visitamos só podem ser conhecidas a fundo com observação e atenção (e um retorno para uma nova visita), Sóis revela, a cada audição, um detalhe e uma nova paisagem. Por isso, ao final das 12 faixas, não falta vontade de voltar ao início e recomeçar a viagem pelas estradas pavimentas por Babi Jaques e Lasserre.

Coluna escrita por:

 Jorge LZ

Jorge LZ

Carioca, radialista, curador, pesquisador musical, produtor cultural e DJ. Produz e apresenta o programa semanal Na ponta da agulha, na Rádio Graviola, é curador do Festival levada e integra o Radialivres, coletivo de radialistas do Brasil. Foi idealizador e curador do Festival BRio e do projeto Verão musical no Castelinho, e produziu e apresentou os programas Geleia moderna, Radar e Compacto, na Rádio Roquette-Pinto.

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