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Auá Mendes pinta “Sesá pirári: olhos abertos’’ na fachada do Itaú Cultural

O desenho integra o projeto “Arte urbana”, que convida artistas para intervirem na fachada do IC

Publicado em 08/07/2024

Atualizado às 15:03 de 08/07/2024

Auá Mendes, conhecida por suas raízes profundas na cultura indígena, é a nova artista a intervir no banco do Itaú Cultural (IC), com sua obra Sesá pirári: olhos abertos. A artista incorpora os elementos simbólicos centrais de sua herança cultural, que relembram suas conexões profundas com a natureza e a espiritualidade.

“A todo momento, eu me inspiro tanto no ontem quanto no hoje e no amanhã. A minha inspiração está voltada para esse tempo do ontem, do hoje e do amanhã’’, conta a artista, grafiteira e designer indígena do povo Mura do Amazonas.

Mulher trans, ela reconhece o retorno da arte em sua vida: “A arte tem me movimentado e inspirado minha própria vida, o próprio questionamento dela, do existir sobre essa dimensão que vivemos, sobre simulações”, diz.

Em entrevista ao site do IC, Auá fala de sua história, suas trajetórias e outras inspirações.

 Como começou sua paixão pela arte?

Não é só uma paixão, está mais no lugar da perspectiva de vida mesmo, da necessidade de viver. Porque, a todo momento, eu me sentia retirada dos lugares, então, querendo ou não, pensar na arte é pensar nessa perspectiva de possibilidades.

Fale um pouco sobre a obra que você criou para o banco do IC

Peguei algo que já havia criado, que é fruto da experiência de um processo meu, íntimo, que se chama Sesá pirári olhos abertos, e incluí esse universo no universo dos jardins.

Tento trazer um pouco desse olhar da obra, para dentro de si, mas também para fora, entendendo que há conexão entre o mundo espiritual e o mundo físico, eles se interseccionam, mas também é necessário ter uma visão do que cada um carrega e possui.

O convite do Sesá pirári é mais nessa questão de entender esse equilíbrio com a espiritualidade e com a sociedade, porque estamos em um centro artístico muito forte do Brasil.

Esta é a frase que posso deixar: não esquecer o que veio antes, porque o que vem antes já construiu tantos futuros... então é possível, é possível.

Algo que chama atenção em suas pinturas é a presença sempre da cor azul. Como se deu essa escolha em seus processos criativos?

O azul chegou para mim como uma forma espiritual, porque, para o meu povo Mura, nós acreditamos nesse universo dos sonhos – que não é o universo lúdico, imaginativo, e sim o mundo real, onde a verdade da nossa história é construída. Então ela se manifesta para mim por meio dessas cores azuis, daí trago isso para este mundo mais físico, do que a gente encontra aqui, que está fora da nossa cosmovisão.

 Quais são as suas inspirações?

Primeiramente, as minhas inspirações e admiração vêm da minha cultura como pessoa indígena que nasceu no Amazonas e lá viveu até 2020, um pouco antes da pandemia. É muita vivência, e penso muito no que um grande filósofo da contemporaneidade, que é o Ailton Krenak, fala no seu livro Futuro ancestral. Ele diz que não tem como pensar em futuro se não pensarmos no que veio antes, na nossa ancestralidade.

Mas, quando eu tinha acabado de terminar a faculdade e não tinha referência bibliográfica ou artística indígena, me apareceram muito o Denilson Baniwa, a Daiara Tukano, o Jaider Esbell.

E me inspira também a música indígena contemporânea, como a Kaê Guajajara, e Edivan Fulni-ô, que são pessoas que estão próximas a mim.

A moda me influencia e me inspira bastante também, como a Dayana Molina, que é uma das primeiras artistas indígenas, na minha opinião. Ela me faz muito pensar sobre essa questão da beleza indígena, fugindo um pouco desse estereótipo construído do imaginário indígena.

É uma série de coisas que me inspiram – artistas também da cidade, das comunidades, artistas que possibilitaram uma visão diferente, que me fazem continuar a entender que a nossa potência é potente graças à nossa individualidade e à nossa pluralidade de etnias, territórios e línguas.

Acredito muito na educação, porque foi ela que possibilitou que meu desejo de fala pudesse ser expandido de diversas formas, como na rua, no cartaz, no grito, na fala, então isso me motiva continuar.

Como você entende a importância de a arte ocupar esses espaços públicos?

A importância da arte nesses lugares é exatamente esse lugar de se comunicar, porque acho a arte um processo, um espaço, uma realidade mais possível de comunicação, sem a necessidade da escrita ou algo do tipo. Ela é imagem e, como no dito popular, fala mais que mil palavras.

Acredito que é por causa disso que a gente pode prospectar esse diálogo, essa conversação com quem foi direcionado, por uma construção de sociedade, a não pensar sobre identidade, pertencimento, futuro, presente e passado.

 

 

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