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Mapeamento Acessa Mais: pelo reconhecimento das pessoas com deficiência na arte

Parceria entre a UFBA e o MinC, o projeto quer combater o capacitismo e outras visões limitantes sobre a produção criativa de PcDs no país

Publicado em 21/12/2024

Atualizado às 12:05 de 26/12/2024

por Duanne Ribeiro

“O capacitismo nos excluiu da história da arte e da cultura brasileira”, afirmam os responsáveis pelo Mapeamento Acessa Mais, projeto coordenado pelos pesquisadores Edu O. e Marilza Oliveira que quer fornecer um diagnóstico sobre quem são “os artistas e agentes culturais com deficiência e profissionais da acessibilidade cultural com e sem deficiência” que atuam em diversas áreas das artes. Para detalhar a feitura dessa iniciativa, que pode causar mudanças nesse quadro histórico de exclusão, fortalecendo políticas públicas, a equipe falou ao site do Itaú Cultural (IC) sobre como foi criado o mapeamento e quais são as suas perspectivas.

Além disso, comentou a proximidade entre o seu projeto e outros mapeamentos, como o Arte e Acesso – Portfólio Coletivo de Artistas com Deficiência, realizado pelo IC, e anunciou a prorrogação das inscrições do Acessa Mais para o dia 19 de janeiro.

Como foi construído o Acessa Mais: qual é a sua origem?

O mapeamento é fruto de uma reivindicação antiga de artistas com deficiência, que reclamavam por reconhecimento e valorização de seus trabalhos no cenário cultural e artístico brasileiro. Porém, efetivamente, surge da Performance da queda, realizada por Edu O. e Elinilson Soares, na reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), por ocasião do lançamento da Lei Paulo Gustavo em Salvador. [Essa performance foi feita para apontar] a falta da produção de artistas com deficiência em diversos pontos dessa lei. A deficiência é sempre tratada pelo viés de acessibilidade do público e [sempre houve uma] completa desconsideração da contribuição da cultura DEF para o país.

Desde então, estabeleceram-se diálogos com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura, do Ministério da Cultura (MinC), que propôs, em parceria com a UFBA, para o ano de 2024, o primeiro mapeamento realizado pelo MinC de artistas e agentes culturais com deficiência e profissionais da acessibilidade cultural com e sem deficiência que atuam no campo do artesanato, artes visuais, audiovisual, circo, cultura popular, dança, literatura, música, performance e teatro. 

Quem está à frente do projeto, como o mapeamento se integra nas suas pesquisas?

O projeto é coordenado por Edu O. e Marilza Oliveira, artistas, pesquisadores e docentes da Escola de Dança da UFBA. Edu é um artista DEF reconhecido por suas pesquisas artísticas e acadêmicas voltadas para a relação entre deficiência, arte, anticapacitismo e acessibilidade poética. Com Marilza, desenvolve, desde 2019, uma pesquisa entre deficiência e dança afro.

O Mapeamento Acessa Mais é formado por uma equipe de, em média, 30 pessoas, em sua maioria pessoas com deficiência que, no projeto, atuam nas áreas de pesquisa, produção, acessibilidade e tecnologia.

Na equipe de pessoas pesquisadoras com deficiência, o projeto conta com representantes das cinco regiões do país e das diversas linguagens artísticas: Amanda Lyra (Sul/música), Ananda Guimarães (Norte/circo), Estela Lapponi (Sudeste/audiovisual), Fábio Passos (Nordeste/artes visuais), Natalia Rocha (Nordeste/dança) e Renata Rezende (Centro-Oeste/teatro). A literatura ficou sob responsabilidade de Edu O. 

Quando se conclui a fase de inscrições no Acessa Mais e quais são as fases posteriores? Que resultados vocês esperam entregar?

O final dos cadastros estava previsto para o dia 21 de dezembro de 2024, mas a equipe considerou os pedidos de prorrogação e decidiu que o cadastramento se encerrará no dia 19 de janeiro de 2025. Então se iniciará a terceira fase do Mapeamento Acessa Mais, de coleta e análise dos dados, o que resultará em um relatório final, a ser disponibilizado no site do MinC para acesso das pessoas interessadas. Os dados serão anonimizados e o relatório pretende apresentar análise quantitativa e qualitativa em termos de regionalidade, formação e profissionalização nas diversas áreas artísticas. Ou seja, o mapeamento não produzirá, neste momento, um catálogo, mas fornecerá dados que possam contribuir para ações do Ministério da Cultura de fomento à produção cultural de pessoas com deficiência.

Em termos de resultado, não temos detalhes sobre os dados porque os cadastros ainda estão ativos, mas já temos uma estimativa de mais de 3 mil cadastros entre as três categorias mapeadas – o que indica a falácia do discurso de que não existem profissionais com deficiência na área da cultura e, por essa razão, essas pessoas não são contratadas para trabalhar em produções artísticas nem convidadas para festivais, eventos etc. 

O que se sabe em geral, hoje, dos artistas com deficiência brasileiros? O mapeamento pode preencher qual lacuna nesse sentido?

Sabemos que em todas as épocas existiram artistas com deficiência em todas as linguagens, mas o capacitismo nos excluiu da história da arte e da cultura brasileira, [de sermos] reconhecidos como [parte dela]. O Mapeamento Acessa Mais pode ser o início desse reconhecimento e, principalmente, da mudança de paradigmas em relação a conceitos e à produção DEF, sobretudo, afirmando outros modos de pensar nossa arte que não estejam ligados apenas aos discursos obsoletos de inclusão e reduzidos a um pensamento muitas vezes simplista da acessibilidade.

Com base nas pesquisas dos envolvidos no Acessa Mais, podemos definir minimamente o momento da arte produzida por pessoas com deficiência no Brasil – quais tendências há, se houve crescimento de artistas em relação a épocas anteriores etc.? Entendo que são dados que estarão mais bem definidos com o mapeamento concluído.

Ainda não podemos dizer a partir dos dados do Mapeamento Acessa Mais, porque ainda não iniciamos a fase de análise, mas, diante de toda a mobilização que o projeto tem provocado desde o início, percebemos um sentimento de pertencimento e um desejo coletivo de que ele dê certo, que alcance o maior número de pessoas. Muitos artistas com deficiência se reconhecendo como parte dessa grande rede que o mapeamento promoveu. 

Como vocês avaliam o Arte e Acesso, mapeamento do IC? Acham que o Acessa Mais e ele podem se complementar de alguma maneira, e como?

O Arte e Acesso, junto com o mapeamento de agentes culturais com deficiência da cidade de Campinas (SP), desde o início foi uma importante referência para a construção do Mapeamento Acessa Mais. Entendemos que projetos dessa natureza se complementam, cada um com seus objetivos específicos, mas de grande contribuição para mudanças efetivas no reconhecimento do trabalho de pessoas com deficiência no campo da cultura. O Arte e Acesso como uma importante vitrine e catálogo dessa produção; o Mapeamento Acessa Mais com um viés mais voltado para o diagnóstico dessa realidade, de modo a contribuir para efetivar políticas públicas direcionadas a esse público.

Em uma palavra, qual é a importância de mapear os artistas com deficiência no Brasil? 

Reconhecimento.

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