Em homenagem à arquiteta, Carla Caffé, Catarina Bessell e Eliana Bianco desenham o Masp, o Sesc Pompeia e a Casa de Vidro
Publicado em 20/03/2022
Atualizado às 09:30 de 18/03/2022
“Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de Escolha’ [...]”, disse Lina Bo Bardi certa vez sobre sua relação com o Brasil.
A arquiteta italiana chegou ao país em 1946 após a Segunda Guerra Mundial, por aqui ficou e se tornou referência da história e da paisagem arquitetônica e urbanística que conhecemos hoje. Viveu em São Paulo e Salvador, cidades nas quais criou obras imponentes, entre elas o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Sesc Pompeia, a Casa de Vidro e o Teatro Oficina na capital paulista e o Museu de Arte Moderna da Bahia.
Veja também:
>> Lina Bo Bardi na Enciclopédia Itaú Cultural
Suas obras são consideradas arte social, que integram espaços e pessoas. Em 2021, a Bienal de Veneza reconheceu a artista pelo conjunto da obra com o Leão de Ouro Especial. Lina foi a primeira mulher brasileira a conquistar tal condecoração – antes dela, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha também foram premiados.
Neste 20 de março – três décadas após a morte de Lina, em 1992, aos 78 anos – convidamos Carla Caffé, Catarina Bessell e Eliana Bianco para representarem obras da artista.
Casa de Vidro
Situada no bairro do Morumbi, a Casa de Vidro foi a residência de Lina e seu marido, Pietro Maria Bardi, durante mais de quatro décadas. Projetada em 1950, a construção foi concluída no ano seguinte. Em 1987 foi tombada como patrimônio histórico e, em 1990, se tornou sede do Instituto Bardi.
A ilustração é da artista e arquiteta Carla Caffé, que comenta:
“Tentei priorizar a relação da casa de vidro com o ambiente do jardim representado pela relação com a árvore e revelar partes ocultas da planta, um assunto muito atual. Acho que a Lina embarcaria nesses estudos contemporâneos que ampliam a nossa relação com a natureza”.
Masp
O casal Bardi atuou diretamente na concepção do Museu de Arte de São Paulo ao lado de Assis Chateaubriand. Enquanto Pietro foi fundador e diretor por 45 anos, Lina projetou as instalações do museu com o famoso vão-livre, que se tornou um símbolo da capital paulista. Um autêntico cartão-postal.
A ilustração é da artista gráfica Catarina Bessell. Sobre o Masp e a homenagem à Lina, ela reflete:
“Na homenagem à Lina, quis entrar, mais que no projeto em si, nos sonhos de cidade. O Masp está num local muito simbólico e a potência que a Lina deu para o espaço é justamente esta: o grande vão-livre, essa praça que não cobre a vista, muito pelo contrário, convida quem passa pela Avenida Paulista a parar, a contemplar. Ela tem esboços maravilhosos com um picadeiro, crianças, roda-gigante... Na faculdade de arquitetura, o que mais me impressionou no trabalho dela – e talvez seja a grande lição que tirei estudando os espaços que ela projetou – é que as pessoas são o mais importante".
Bessel continua: A imagem então é uma grande brincadeira: as pessoas na fotografia são reais. Elas doaram sua foto voluntariamente para participar dessa ilustração. Essas escalas humanas estão em meio às obras do acervo permanente do museu, que ganham vida e interagem entre si. Lina, em cima das grandes vigas vermelhas, tem no seu braço uma saracura. O pássaro deu nome ao que um dia foi o rio que passava no vale que hoje é a Avenida Nove de Julho. Esse rio corria até o Bexiga, bairro tradicional de São Paulo, é mascote da Vai-Vai, escola de samba localizada na região, é cantado nos sambas que acontece às sextas. O Masp como uma ponte que acontece no seu vão!”
Sesc Pompeia
O edifício criado em 1977 é uma das mais famosas unidades do Sesc em São Paulo. A adaptação da antiga fábrica de tambores em um espaço cultural rendeu a Lina o prêmio da 6ª Melhor Construção em Concreto do Mundo, pelo jornal inglês The Guardian.
A ilustração é da artista plástica Eliana Bianco, que diz:
“O que mais me encanta nesse projeto de Lina Bo Bardi foi sua capacidade de unir a preservação da história do lugar, que antes era uma fábrica de tambores, integrando o Córrego das Águas Pretas que passa por baixo do Deck-Solarium, e transformá-lo num dos espaços de convivência mais charmosos e democráticos da cidade”.