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Rock e música caipira: os elementos do Charme Chulo

Os integrantes Igor Filus e Leandro Delmonico falam sobre o mais recente disco do grupo, “O negócio é o seguinte”

Publicado em 08/01/2022

Atualizado às 17:22 de 09/03/2022

Ser um artista independente por quase 20 anos não é das tarefas mais fáceis. O Charme Chulo, grupo formado em 2003 em Curitiba (PR), sabe muito bem que a estrada é árdua. Ao mesmo tempo, a banda conta com o apoio dos fãs para manter sua música tocando Brasil afora – nos streamings, em shows presenciais e, agora, em lives.

O quarteto formado por Igor Filus, Leandro Delmonico, Hudson Antunes e Douglas Vicente apostou em um financiamento coletivo no ano passado para lançar O negócio é o seguinte, o quarto e mais recente álbum da banda. O trabalho resultou em músicas mais pop, como os próprios músicos comentam nesta entrevista ao site do Itaú Cultural (IC). As influências são diversas e se misturam: de The Smiths e R.E.M. a Almir Sater e Tião Carreiro & Pardinho, do britpop a new wave e Legião Urbana.

Leia abaixo a entrevista com Igor e Leandro.

Fotografia em preto e branco dos integrantes da banda Charme Chulo. Na imagem, o quarteto aparece andando sorrindo em uma rua. Ao fundo, algumas casas.
Charme Chulo (imagem: Isabella Mariana)

Como surgiu a ideia de formação da banda?

Sempre sonhamos em ocupar o espaço historicamente vazio da representação nacional de uma banda de rock brasileiro que fosse de Curitiba. Começamos como uma banda indie com influências do rock dos anos 1980, mas estávamos insatisfeitos somente com isso. Então, em 2002, saindo das fraldas, pensamos: por que não unir a música caipira de raiz – a música brasileira mais produzida e consumida em nosso estado – com o som que já fazíamos? Se The Smiths [banda britânica] unia o punk ao country, por que não poderíamos fazer isso também com o nosso country? Assim surgiu o nosso rock caipira.

Em 2021 vocês lançaram seu quarto álbum, O negócio é o seguinte, depois de um bom tempo longe dos estúdios. O que impulsionou essa retomada?

Sete anos após Crucificados pelo sistema bruto (2014), em que fizemos um álbum duplo com 20 faixas e abusamos do experimentalismo e do radicalismo como nunca no som da banda, veio a vontade de experimentar como o Charme Chulo poderia soar sendo o mais pop possível – podendo fazer música também para sua avó gostar. E curtimos!

Nossa proposta era apresentar um disco que pudesse conectar a banda com a nova música brasileira sem deixar de lado a nossa – já reconhecida – mistura de rock com música caipira. A ideia era partir para algo mais enxuto, mais pop. Aprendemos a discutir o conceito do trabalho antes de iniciar o processo criativo, e com O negócio é o seguinte não foi diferente.

Atingimos esse objetivo no single “Mais além”, de 2018, com a participação especial da Tuyo [banda independente conterrânea], o que acabou sendo a base para a propositura musical deste novo disco. A partir daí contamos com a inspiração e aproveitamos o período de reclusão da pandemia (que acabou afetando muitos artistas) para compor as faixas.

Entre as canções do novo álbum, duas já têm videoclipes. Como foi o processo audiovisual desses trabalhos? Vocês participam do processo criativo de alguma forma?

No mercado independente, as parcerias são fundamentais. Alguns artistas trabalham com o Charme Chulo desde o começo – é o caso do diretor de “Nem a saudade”, Arnaldo Belotto, que já dirigiu vários clipes da banda. Ele trouxe o renomado cineasta Raul Machado para codirigir o vídeo, por exemplo. Raul já trabalhou com artistas como Chico Science, Planet Hemp e Sepultura. Os diretores normalmente se identificam com o trabalho da banda, o que contribui para um orçamento mais enxuto.

O clipe de “Rabo de foguete” também teve na coordenação uma fotógrafa que já trabalha com a banda, Isabella Mariana (ela trouxe os jovens e talentosos Octavio Zanato e Bernardo Lima para o clipe). Nós sempre participamos do processo criativo. Gostamos de nos envolver na direção, e isso acaba encurtando o caminho da pré-produção. Em alguns casos, assinamos o roteiro.

O negócio é o seguinte está na pré-seleção da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), concorrendo ao prêmio de melhor disco da categoria em 2021. Como é para vocês, como banda independente, ver o álbum fazendo parte de uma lista tão importante quanto a da APCA?

Ficamos felizes com a indicação, ainda mais tratando-se de uma banda com mais de 15 anos de carreira. A crítica costuma se apegar aos novos artistas e às tendências do mercado, por isso é recompensador ver nossa história valorizada por meio dessa indicação. Várias bandas da nossa geração não existem mais, o que deixa tudo mais emocionante.

Vocês já voltaram a fazer shows presenciais? Quais foram os maiores desafios de se apresentar durante a pandemia?

Depois de quase dois anos, acabamos de fazer um show presencial com duas sessões no Sesc Paço da Liberdade, em Curitiba [realizados na segunda quinzena de dezembro de 2021]. Foi uma emoção só! Ou emoção dupla, eu diria! Fizemos quatro lives durante o período de distanciamento social, experimentando, inclusive, um formato quase à capela pelo celular somente com a dupla caipira da banda (eu e meu primo Leandro, o violeiro), mas adoramos as oportunidades do formato. Felizmente temos um público espalhado pelo país, não só em Curitiba ou no Paraná, e muitas vezes a live é a única maneira de algum fã da banda ver um show depois de muitos anos ou pela primeira vez. Também foi um período em que estivemos compondo, gravando e fazendo a venda de camisetas da campanha que financiou a produção do álbum.

Quais são os planos futuros?

Agora, com quatro discos e um EP na carreira, nossa ideia é investir num show que resulte em uma gravação ao vivo. Queremos contar nossa história no palco ao lado dos fãs que nos apoiaram e financiaram nosso trabalho. Nossa experiência com o disco O negócio é o seguinte e o produtor Rodrigo Lemos também foi muito bacana. Já é possível vislumbrar um próximo trabalho de inéditas no futuro.

O que vocês têm ouvido ultimamente?

“Pelejei”, de Marina Sena. É uma ótima música para curtir os dias quentes de verão. Marina é um bom exemplo do que a música brasileira tem produzido. Ousadia estética, qualidade na produção e brasilidade. O álbum dela, De primeira, foi mixado pelo Guigo Berguer, que também assina a mixagem e a masterização do nosso disco.

“Sente”, do Vanguart. É banda de forte identificação com o Charme Chulo. Nós nos conhecemos em 2006, quando tocamos em Cuiabá (MT), e somos amigos até hoje. Sempre que podem, divulgam nosso trabalho por aí. Somos fãs do Vanguart. Eles acabaram de lançar o disco Intervenção lunar (2021), e essa canção é linda demais.

“Sem mentir”, da Tuyo, grande nome e revelação da música paranaense hoje. Conhecemos o trio que forma a Tuyo há muito tempo e, no ano de 2018, as irmãs e vocalistas (Lio e Lay) participaram do nosso single “Mais além”.

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