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Stênio Gardel, um certo alguém

“Acho que quanto mais envelheço mais olho para trás, uma ancoragem”, diz o escritor

Publicado em 19/08/2021

Atualizado às 09:29 de 19/08/2021

Qual é a história de sua maior saudade?

É uma história sobre derrotar escombros, erguer-se insistentemente, e é uma história sobre dedicar-se aos outros. Minha mãe. Perdemos papai ainda novos, meu irmão e eu, e minha mãe sempre fez do alcance dos seus olhos e mãos nosso teto, comida, saúde, educação. Com a idade avançada dos pais, cuidou deles e de irmãos. Cuidava de nós todos. Um dia, chegou precisar cuidar de si, e o fez, fortemente, como era da sua fibra. Mas até os mais fortes, preciso acreditar, também descansam. Sua ausência são os meus escombros diários.

O que o emociona em seu dia a dia?

Um pai levando um filho para a escola na garupa da bicicleta, as pessoas caminhando em direção ao trabalho de manhã cedo, um muro coberto de bougainvílleas de várias cores, um gatinho abandonado entre carros à venda. Me emocionam essas pequenas demonstrações de vida, de força de vida, mesmo diante das dificuldades, uma subida íngreme ou a distância, o sol, a chuva ou uma parede, o medo. O gatinho era uma gatinha e eu a trouxe para casa.

Como você se imagina no amanhã?

Ainda incompleto, querendo descobertas. Terei saudades que hoje não tenho e precisarei de mais forças. O que vivi parecerá mais distante e ao mesmo tempo mais próximo. Acho que quanto mais envelheço mais olho para trás, uma ancoragem, quase, que luta contra o tempo, esta ventania. Amanhã, queria a deriva.

Quem é Stênio Gardel?

Sou filho de Raimunda Irene Maia. Um menino com sonhos, que hoje vê realizado o maior deles – a publicação do primeiro livro, A palavra que resta, e continua a sonhar com outros. Um homem que se arrepende e não se arrepende dos caminhos, um homem que teme e pensa muito, muito, antes de arriscar e que se surpreende com as próprias coragens.

O escritor Stênio Gardel veste uma camiseta cinza, usa óculos e olha para a foto. Suas mãos estão entrelaçadas e apoiadas em uma mesa de madeira. Na mesa também há uma máquina de escrever e um retrato.
Stênio Gardel (imagem: Divulgação)

Um certo alguém
Em Um certo alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.

Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais.

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