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Zuzu Angel: 100 anos de uma mulher revolucionária

Em 5 de junho 1921 nascia a mulher que revolucionou a moda, a maternidade, o feminino, o empreendedorismo e a militância. Conheça sua história.

Publicado em 04/06/2021

Atualizado às 15:15 de 18/07/2022

A moda é um de muitos aspectos que podem falar da história de um país, assim como expressar questões simbólicas individuais, de cada ser.

A moda brasileira por muito tempo não foi, de fato, uma moda brasileira. Ela se apoiou em reproduções e importações do que era produzido na Europa – da escolha de materiais aos estilos. A França era a grande referência, foco dos holofotes. A Europa, a França... Lugares tão diferentes deste nosso extenso Brasil, que é inclusive vários dentro de si. Nosso clima, nossas frutas, nossa comida, nossa mata, nossas praias, nossos costumes, nossas pessoas, entre tantos outros aspectos, divergem muito daqueles que são encontrados nos países europeus.

Ainda bem que, em 5 de junho de 1921, nasceu uma mulher que entendeu tudo isso e profetizou: “A moda brasileira só pode ser internacional se for legítima”.

Zuleika de Souza Netto, a Zuzu Angel, é considerada a primeira estilista brasileira e usou materiais, mitos, símbolos e estilos que realmente se relacionavam com este país. Foi responsável pela criação de um mercado nacional da moda.

Na foto em preto e branco, Zuzu Angel aparece em pé, apoiada em uma cômoda. Ela usa um vestido estampado e botas. Zuzu é uma mulher branca, com cabelos curtos e ondulados.
Zuzu Angel (imagem: Instituto Zuzu Angel)

Nascida em Curvelo, cidade no interior de Minas Gerais, desde jovem tinha grande habilidade para a costura e fazia peças de roupas para suas primas e amigas. Foi criada em Belo Horizonte, onde conheceu o norte-americano Norman Angel Jones, com quem se casou. Depois de viverem um tempo na Bahia, local de nascimento do primeiro filho do casal, Stuart, mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde nasceram Ana Cristina e Hildegard. Na cidade, Zuzu abriu um ateliê em sua própria casa, na Rua Barão da Torre – quando transformou seu quarto em oficina de costura. Assim nasceu a Zuzu Saias. Com o apoio da então primeira-dama Sarah Kubitschek (1908-1996), amiga de uma tia, passou a produzir peças em série para a sociedade carioca.

Em 1961, Zuzu separou-se de Norman e se mudou com o ateliê para uma casa maior, no mesmo bairro. A clientela cresceu, o trabalho conquistou prestígio. Em 1966, Zuzu Angel era uma etiqueta conhecida na alta sociedade carioca. A estilista promovia desfiles, aparecia na imprensa e foi progredindo até chegar aos Estados Unidos e à mídia de moda internacional.

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Hildegard Angel, Ana Cristina, Zuzu Angel e Stuart (imagen: Instituto Zuzu Angel)

Em 14 de maio de 1971, desapareceu seu filho, Stuart Edgard Angel Jones, aos 26 anos. Ele era uma das lideranças do Movimento Oito de Outubro (MR-8), que se opunha à ditadura civil-militar em curso. Ela então entrou em uma busca incessante por Stuart e, ao receber uma carta de Alex Polari – militante que ficou preso com Stuart e presenciou sua tortura e seu assassinato – confirmando a morte do rapaz, seguiu buscando o corpo de seu filho. Zuzu levou ao extremo o significado de “moda política”, desfilando uma coleção-denúncia em Nova York, no consulado brasileiro. Nesse evento, fez também um discurso em que denunciou o desaparecimento e a morte de Stuart.

Ela gritou a busca do filho, assim como o desaparecimento de muitos outros filhos de tantas outras mães. Usou seu ofício e seu alcance internacional para protestar. Acabou, infelizmente, assassinada.

Antes, temendo o pior, a estilista escreveu dezenas de bilhetes e os entregou a artistas e intelectuais – como o jornalista Zuenir Ventura, o dramaturgo Paulo Pontes (1940-1976) e o compositor Chico Buarque. “Se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho”, dizia o texto.

Sua morte ocorreu em 14 de abril de 1976. Na madrugada dessa quarta-feira, sofreu um “suposto acidente de carro” na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. Segundo informações, o acidente se deu porque a estilista ingerira álcool e cochilara ao volante ou sofrera um infarto, tendo o carro derrapado, se chocado contra uma mureta e capotado estrada abaixo.

Em 1998, após anos de uma “batalha sem trégua” de suas filhas, foi feita nova perícia, solicitada pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério da Justiça, que concluiu, após ouvir o relato de uma testemunha – o advogado Marcos Pires –, que a estilista não havia sido vítima de “acidente de causas desconhecidas”. Pelo contrário: tinha sofrido um atentado perpetrado por agentes da repressão.

Em 2020, a Justiça brasileira enfim reconheceu que Zuzu Angel foi assassinada por agentes da ditadura civil-militar..

Sua história é muito marcada por esses acontecimentos do final de sua vida. O desaparecimento e assassinato do filho, sua coleção-protesto, os constantes esforços para denunciar a ditadura civil-militar brasileira e seu assassinato. Quando lembramos de Zuzu, essas associações são óbvias. No entanto, para honrar sua memória, assim como a história do Brasil, é necessário lembrar e reforçar a importância e o pioneirismo dela na criação de uma moda brasileira, assim como seu espírito libertador e revolucionário. Zuzu Angel revolucionou a moda, mas também revolucionou a maternidade, o feminino, o empreendedorismo e a militância.

Para falar desses tantos aspectos, reunimos aqui depoimentos de três pessoas que se debruçaram e seguem se debruçando sobre as contribuições de Zuzu para a história e a moda brasileiras: Virginia Siqueira Starling, jornalista que está produzindo a biografia da estilista, a ser lançada pela Todavia, ainda sem data; Ronaldo Fraga, estilista que considera Zuzu como uma de suas mentoras; e Hildegard Angel, jornalista, fundadora do Instituto Zuzu Angel (IZA) e filha de Zuzu. Eles falam da Zuzu que conhecem – pelas pesquisas, pelos estudos e, no caso de Hildegard, pela convivência –, comentam seu legado e imaginam uma Zuzu nos dias atuais.

Uma mulher revolucionada e revolucionária

Compartilho com Hildegard uma frase do filósofo alemão Walter Benjamin – “Se as mães forem revolucionadas, nada restará a revolucionar” – e lhe pergunto como é ter uma mãe revolucionada. Ela brinca, “De perto todo mundo é normal!”, e conta que era algo que eles encaravam com normalidade e que Zuzu de fato conseguia revolucionar em todos os campos – inclusive muito antes de ser reconhecida pela história como uma revolucionária.

 

Hildegard Angel: “Ela era uma mãe diferente na proteção dos filhos, que, se viesse uma reclamação, a premissa era tomar o lado dos filhos, para depois ir escutar.

Foi uma pioneira no pensamento feminista. Foi do Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, que escolhia as mulheres do ano. Assinou vários manifestos pela mulher. Quando eu tinha uns 18 anos, fui para os Estados Unidos mandada por ela, participei de um congresso feminista da National Organization for Women. 

Ela foi revolucionária em ver beleza no Brasil, porque nada que era brasileiro era considerado belo. Não há uma autoestima brasileira, e ela tinha essa autoestima brasileira. E foi isso que a levou a fazer a moda brasileira. Porque ela achava bonito o que para os outros era feio. As nossas cores, as nossas flores, as nossas matas, paisagens, a nossa história. Ela valorizou os nossos mitos. E aí percebeu que a sua possibilidade internacional era fazer o Brasil, porque as pessoas gostavam tanto das coisas dela. Porque não adianta querer vender para o exterior o que eles têm mais bem-feito.

Ela revolucionou não porque fez uma moda com referências brasileiras. Mas porque refletiu sobre a moda com referências brasileiras. Ela teorizou, conceituou e lançou praticamente um movimento pela moda legítima brasileira, com brasilidade.

E isso criou, de certa forma, um mal-estar, porque não era a premissa dos outros 99% que criavam moda e da imprensa de moda. Porque tinha uma colonização. Então ela teve esse mérito.

Também foi pioneira na criação de moda de denúncia política no mundo. E teve um tecido desenvolvido para ela, o polybel, que era um algodão misto, mas não com aquela textura de coisa artificial. Era um algodão com textura de tecido natural. E é um tecido que se mantém. As peças que temos no Museu da Moda Zuzu Angel estão novas, como se tivessem sido executadas ontem, e são leves. Foi um tecido desenvolvido de acordo com o que ela pretendia com a moda brasileira”.

Como você apresentaria Zuzu a alguém que não a conhece, não sabe nada da história dela?

Virginia Siqueira Starling: “Ela foi tanta coisa, representa tanta coisa. Então, a amigos que me perguntaram quem era ela eu falava: 'Ela não foi só uma estilista, só uma mãe... Ela foi isso tudo. Ela era a mulher que enfrentou os preconceitos da época em relação às mulheres. Ela foi uma criadora de moda que inovou, que tinha uma visão superabrangente e diferente do que se fazia na época. Ela foi uma mãe que lutou pela família, que queria a verdade sobre o filho, uma mulher corajosa, valente, que enfrentou a ditadura, peitou tanto que morreu por isso. Então eu falo que ela era uma brasileira... Até difícil achar a palavra... Diversa. Porque fez tudo que pôde fazer no momento que lhe foi dado. Naquele tempo, naquele lugar; eu não gosto de falar que ela era à frente ou visionária, porque acho que hoje essas palavras perderam um pouco do significado.

Acho que, no tempo dela, ela enxergou aquilo ali, aquela realidade, de uma forma diferente. Ela tinha um olhar muito único”.

Ronaldo Fraga: “Uma mulher que tem uma trajetória única na história da moda brasileira e mundial. E, principalmente, em tempos desmemoriados, é importante dizer: qual é o sentido de fazer mais um vestido? Nós já temos roupas para 200 anos, então você tem que fazer uma roupa que fale. E Zuzu Angel fez roupas que cantaram, dançaram, murmuraram, denunciaram, manifestaram... E é disso que a gente precisa agora”.

Hildegard Angel: “Uma grande estilista brasileira, a primeira que propôs a moda com brasilidade, com legitimidade. A primeira a fazer um desfile/uma coleção de denúncia política no mundo!

Uma mulher de uma grande coragem, que levou a maternidade às últimas consequências, sabendo que toda aquela sua movimentação poderia levar à sua morte durante uma ditadura que matava.

Então, foi essa mulher extraordinária que enfrentou o medo, superou as adversidades profissionais e foi até o fim. E, como dizia o Chico Buarque, uma mulher ferida de morte e rindo. Ela não perdia a mineiridade, o bom humor, a malícia, e era uma grande mãe. Tanto que seus filhos a amaram antes, o Stuart, e depois da morte, eu e a Ana Cristina”.

Zuzu, o Brasil e a moda

Virginia Siqueira Starling: “É incontornável falar de Zuzu quando se pensa em moda brasileira. A roupa dela representa muito mais que feio ou bonito. A discussão sobre a moda da Zuzu não é simplesmente se é feio ou bonito, mas sobre o que ela trouxe para a moda brasileira que a gente está discutindo até hoje. Então, isso eu admiro muito nela”.

Ronaldo Fraga: “A Zuzu, no ofício dela, é o Brasil que poderia ter sido, que não foi, que não vingou ainda. Foi uma estilista tropicalista; então, quando se pensa em quem estava influenciando todo aquele momento do Brasil na decoração, na música e na arte... na moda estava a Zuzu Angel”.

Hildegard Angel: “O Oscar Niemeyer, o Candido Portinari... só são quem são, têm o reconhecimento que têm porque foram diferentes, propuseram o novo.

Se você olhar os valores brasileiros que se impuseram internacionalmente, foram os que fizeram diferente. E foi esse o insight da Zuzu. Ela fez diferente”.

Costureira, com orgulho

Ronaldo Fraga: “Seus pais debochavam muito dela, falando 'Dona Zuzu, a costureira'. E ela dizia: 'Eles não me atingem com isso, porque prefiro ser chamada de costureira. Não me chame de estilista, eu sou costureira e com muito orgulho'”.

Hildegard Angel: “Ela valorizou a atividade das costureiras. Dizia que a prerrogativa de criar era apenas dada ao costureiro. Aliás, era previsto que o costureiro soubesse desenhar, mas entender de moda, tecido, corte, caimento era tão superficial que nem era previsto que o costureiro soubesse costurar. E ela era uma costureira que sabia costurar. E era uma criadora de moda. Então, insurgiu-se contra isso. Ela dizia que a imagem que se tem quando se fala em costureiro é a de um homem sofisticado requintado e que cria moda, e, quando se fala em costureira, é a de uma pobre coitada debruçada sobre a máquina de costura. Ela de certa forma se colocou na posição de costureira, que foi o início da carreira dela, para valorizar a atividade, quando poderia também só estar fazendo poses, trejeitos, mas não, ela quis também que as costureiras tivessem o reconhecimento que ela tinha e que as costureiras pudessem também ser criadoras. Então ela foi revolucionária nesse aspecto”.

O vestir é político?

Virginia Siqueira Starling: “Quando a Zuzu fez o desfile-protesto em 1971, era a moda abertamente política, então era uma coisa muito nova. Mas, de certa forma, ela já fazia uma moda política desde que defendia a nova mulher e queria vestir a mulher que trabalha e fazer roupas para todo dia. Ela desejava romper com a alta-costura francesa, e isso já era política. Então, as pequenas coisas também são”.

Ronaldo Fraga: “É possível pensar um país através do que as pessoas comem, da forma como elas moram, das cadeiras em que sentam, da música que escutam e da roupa que vestem.

Lembrando que, se a mídia mais importante é o corpo, é no corpo que você se revela para seu tempo, é no corpo que você se posiciona para os seus, então a roupa é de uma importância gigante”.

A militância

Virginia Siqueira Starling: "Ela foi uma mulher que fez muito. Ela foi muito valente e foi uma pessoa criativa, dinâmica, corajosa pra caramba. Ela fez o que ela achava que tinha que fazer e a gente não pode deixar passar essa história em branco e falar que ela foi só '”ah, ela enfrentou a ditadura”. Mas por que ela enfrentou a ditadura, como, por que isso era importante para ela? Isso tudo eu acho que a gente tem que conhecer. Quanto mais pessoas souberem sobre a história dela, melhor."

Virginia Siqueira Starling: “Ela foi uma mulher que fez muito. Foi muito valente e foi uma pessoa criativa, dinâmica, corajosa pra caramba. Fez o que achava que tinha que fazer, e a gente não pode deixar passar essa história em branco e falar só 'Ah, ela enfrentou a ditadura'. Mas por que ela enfrentou a ditadura, como, por que isso era importante para ela? Isso tudo eu acho que a gente tem que conhecer. Quanto mais pessoas souberem da história dela, melhor”.

Ronaldo Fraga: “No primeiro contato que tive com a Zuzu, eu nem pensava em ser estilista. Era um adolescente no final da ditadura militar, só lia literatura política, e caiu nas minhas mãos um livro, se não me engano do Zuenir Ventura, em que é dedicado um capítulo a cada intelectual que lutou pela liberdade durante a ditadura militar. E um capítulo é dedicado a Zuzu Angel. De todos ali, parece que foi a única que tinha sido morta; foram torturados, exilados, mas a única morta era ela.

Marcou-me muito a coragem, a figura, usar o ofício, um ofício insuspeito, como manifesto. E, quando você vê a trajetória da Zuzu, não é uma trajetória única no Brasil – ela é única no mundo. Na história da moda, você não tem um inglês, italiano, francês, alemão que tenha usado a moda de forma tão radical como denúncia do governo como a Zuzu Angel fez. Acho que ela hoje deveria ser estudada para além das escolas de moda.

Zuzu é uma figura, para mim, no panteão daqueles brasileiros que no futuro vão ser entendidos como brasileiros que lutaram pela liberdade”.

Hildegard Angel: “Era difícil para eles matar a mamãe, porque mamãe não era uma militante política. Ela era uma mãe amargurada. Eles não teriam esse argumento de dizer que ela era uma mulher perigosa para o regime político. E, ainda, era uma mulher que cantava as belezas do Brasil através do que fazia. Então, não podiam dizer que ela não era patriota”.

Uma mulher com muitas visões

Virginia Siqueira Starling: “A Zuzu já pensava lá na frente, ela pensava numa moda que não tinha estação, uma coisa que a gente discute hoje no mercado de moda, que não precisa fazer moda primavera-verão, outono-inverno; a gente pode fazer moda para mulher de qualquer lugar do mundo, uma moda para mulher sem idade, não precisa usar sutiã, que não tenha um monte de botões e fivela... Ela já estava pensando isso no final dos anos 1960, início dos anos 1970. Então a visão dela é muito impressionante, porque até hoje a gente está discutindo o que ela já estava discutindo na época”.

Ronaldo Fraga:

“Eu, sem sombra de dúvidas, a coloco como a estilista mais original. Ou talvez a primeira estilista a falar de temas hoje ainda caros ao Brasil. A primeira estilista a falar em legitimidade na moda brasileira.

O primeiro nome feminino num universo dominado por homens, pelo masculino, a fazer moda e, principalmente, em uma época em que o Brasil era mais dependente das informações do que era lançado na Europa, ela falar de identidade e moda brasileira, de usar produtos brasileiros. Imagina o que era se inspirar em Lampião e Maria Bonita em 1971? Quando vemos isso e, principalmente, quando vemos o trabalho da Zuzu, é um trabalho que vai... Ela tinha um domínio do corte, da costura, da criação, e ia da roupa do dia a dia até a roupa de gala. E isso é incomum. Não é uma coisa comum. Então, a história dela com o manifesto político, com a história do Stuart, de certa forma eu acho que deixou para segundo plano a Zuzu como criadora de moda. Ela trouxe questões que ainda são muito caras e envoltas de muito preconceito na moda brasileira”.

Como você acha que a Zuzu se relacionaria com os dias atuais?

Virginia Siqueira Starling: “Eu mesma ainda não entendi, não imaginei a Zuzu nos dias de hoje com clareza. Às vezes acho que ela ainda estaria um pouco à margem, no sentido de fazer coisas que outras pessoas não estão fazendo, e que a maioria continuaria a encará-la com um pouco de estranheza. Em compensação, acho que ela estaria fazendo muito sucesso. E, na militância, com certeza ela estaria falando, criticando, nisso ela continuaria bem firme. Agora, na moda, não sei como a moda a receberia. Porque, olhando em retrospecto, é fácil pensar como a gente valoriza ou deixa de valorizá-la hoje. Mas, com ela aqui, eu ainda fico um pouco dividida se a maioria a estaria olhando com um pouco de receio ou não”.

Ronaldo Fraga: “Ela estaria raivosa, nervosa. Com faixas na fachada do ateliê dela há muito tempo. Teria feito vitrines em protesto, coisa que ninguém da moda brasileira fez. Ela estaria fazendo máscaras excepcionais com artesãs Brasil afora. E estaria denunciando tudo e todos nas redes sociais. Com certeza estaria nas redes sociais, usando-as como ela usou na época o que tinha”.

Hildegard Angel: “O mundo da moda é um mundo muito personalista, e eles todos têm um ego grande, ela também tinha [risos]. Não sei como ela iria ver quem faz uma moda parecida com a dela. Não sei se iria achar que só ela poderia fazer ou se na verdade iria gostar muito. É fácil fazer o discurso, mas viver a situação é difícil. Não tenho dúvida de que ela estaria fazendo oposição ao governo, assinando abaixo-assinados, participando deste momento de uma forma muito intensa, nas manifestações”.

Em 2014... a Ocupação Zuzu Angel, no Itaú Cultural

Em abril e maio de 2014, o Itaú Cultural (IC) apresentou a Ocupação Zuzu Angel, com curadoria da equipe da organização, de Hildegard Angel e de Valdy Lopes Jn. A exposição foi o primeiro evento do IC a tratar da moda como expressão artística e de reflexão cultural.

Foram quatro andares dedicados a documentos, cartas, vestidos e referências que constroem o universo da fashion designer. A mostra ocupou diferentes espaços e propunha uma exposição em movimento, com performances dirigidas pela estilista Karlla Girotto. Na abertura, réplicas dos vestidos criados por Zuzu desfilaram em atrizes, que também deram voz às cartas que ela enviava a amigos e autoridades na busca por Stuart.

Em depoimento na época, Claudiney Ferreira, jornalista gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural e um dos curadores da Ocupação Zuzu Angel, reforçou a importância de homenageá-la:

“A Zuzu é perfeitamente uma artista e foi absolutamente original no seu tempo. Ela foi uma referência no seu tempo e é uma referência hoje. Acho que cada vez mais se deve falar de Zuzu e estudar Zuzu. Em suas várias facetas”.

O programa Ocupação conta também com um site, que desde a primeira edição existe para trazer materiais e informações adicionais àqueles encontrados no espaço físico. O site preparado para homenagear Zuzu Angel pode ser acessado aqui. Nele, você se aprofunda ainda mais na história da homenageada, com alguns depoimentos, textos e fotos.

Nesta página pode-se conferir um pouco de como foi a Ocupação Zuzu Angel e o desfile ocorrido na abertura da mostra.

Abaixo você encontra uma playlist com vídeos gravados na época da exposição – depoimentos de diferentes personalidades, assim como dos curadores, e também aulas e palestras ministradas como parte da mostra.

Veja também Zuleika, uma revista produzida como parte da Ocupação. Nela, que segue o modelo das antigas publicações de moda e utiliza fotos do acervo do Instituto Zuzu Angel, há textos novos e em grande parte exclusivos, assinados por nomes como Zuenir Ventura, João Braga e Hildegard Angel.

Saiba mais sobre Zuzu Angel na Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileira.

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