Fotógrafa fala sobre o mar, e como esse elemento é tema central de seus trabalhos
Publicado em 11/12/2020
Atualizado às 19:08 de 16/08/2022
por Cassiano Viana
Colocar o corpo diante da câmera foi o primeiro encontro de Ana Catarina Lugarini (Curitiba, Paraná, em 1993) com a fotografia. “As possibilidades de olhar no pequeno enquadramento e criar mundos com o que estava ao meu alcance – seja um espelho, tecido, seja uma planta –fez com que eu me apaixonasse pelo que a fotografia poderia me dar”, diz.
“Lembro de um momento da vida em que meu pai sempre pedia para eu correr no momento do registro da foto, para que, nas palavras dele, ela ‘ficasse em movimento'. Isso me inspira até hoje. Acreditar nas inúmeras possibilidades da fotografia.”
Ana começou a fotografar com uma antiga Pentax. Nas horas vagas do trabalho, passeava pelo centro da cidade em busca de um reflexo, uma paisagem inventada. “Enquanto eu me olhava, construía minha identidade com a fotografia”, explica.
“Fui aprimorando o olhar, atravessada também pelo meu trabalho no cinema e sempre que eu via uma brecha de luz pela casa, pegava o celular e fotografava. Ao longo do tempo, percebi que a potencialidade do meu olhar estava mais na criação do que na ferramenta técnica. Desenvolvi e criei muito dentro de cada cômodo e cada paisagem, a fotografia virou uma companhia, o exercício diário de manter o sonho ativo e um trabalho”.
Com a palavra, Ana Catarina:
A série Tenho Sonhado com as Águas são autorretratos que narram uma busca e aproximação com o mar em minhas fotografias. Fui muito influenciada na adolescência pela autora Sophia de Mello Breyner e seus poemas que trazem o mar como elemento central. Acredito que, desde então, isso tenha ficado em meu imaginário e construir imagens pensando nas águas também virou tema central do meu trabalho. Essas fotos foram feitas em Juazeiro, na Bahia, onde morei por dois meses. Uma cidade cercada pelo Rio São Francisco e suas muitas águas. Foi um dos momentos dos últimos dois anos em que mais fotografei. Ainda que não tão perto das águas fisicamente nesse outro registro, gosto de me retratar perto delas e sempre tento inventar um mar nos espaços em que estou e, de alguma forma, continuar sonhando com as águas.
O mar e a paisagem seguem me acompanhando em todo o processo fotográfico e, quando viajo, sinto que estou mais atenta aos sentidos, como se realmente tivesse saído do meu casulo. Por isso, as fotos de paisagem se dão em outros lugares que não o da minha cidade e sempre refletindo o movimento do meu corpo. Se antes eu estava olhando mais para mim nas fotografias, agora eu caminho e olho o céu para observar o movimento dos pássaros.
E o movimento das pessoas, que sempre retrato com uma determinada distância, não pelo medo da aproximação, mas por entender que aquele espaço é tão íntimo, secreto e contempla uma história, que prefiro ficar ali, de longe. As praias trazem esse lugar de muitas histórias perto do mar, como se todas as narrativas escoassem ali. E por serem muitas falo também de muitos braços; assim as intitulei como Um Polvo.
Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.