Para Amanda, fotografia é um jeito de estar atenta ao mundo. Confira a entrevista com a fotógrafa
Publicado em 18/12/2020
Atualizado às 19:07 de 16/08/2022
por Cassiano Viana
Amanda Leite nasceu em Mirassol d’Oeste, Mato Grosso, em 1984. Hoje, vive e trabalha em Palmas, Tocantins. Sua história com a fotografia é antiga.
“Sempre gostei de imagens. Mas, minha família nunca teve condições financeiras para adquirir uma câmera fotográfica e não fazia muito sentido ter um equipamento tão caro em casa onde ninguém sabia como fotografar”, diz. “Demorei muito a ter uma câmera”, lembra.
Amanda conta que organiza seu trabalho fotográfico entre pesquisas e experimentações que testam os limites da imagem nas etapas de pré a pós-produção. Para ela, todas as etapas de uma fotografia importam.
“A fotografia é porosa, ela se expande a outras linguagens, abre passagens para diferentes exercícios numa infinidade de arranjos”, explica.
“Fotografia pode ser um modo de estar presente e atenta ao mundo. Um jeito de pensar, narrar, sentir e criar que se faz imagem. Pode ser um estado de espera e(m) movimento. Como se as capturas fotográficas funcionassem como pequenas doses de estímulo diário, uma pulsão sobre algo que está por vir. O que me motiva é o processo criativo de cada imagem. Penso, pesquiso, divago, faço articulações até chegar à imagem final. Fotografia para mim funciona como um portal do aqui e do agora para lugares, paisagens e cenas (in)imagináveis.”
Com a palavra, Amanda Leite:
A série fotográfica Lago (2017) é uma provocação ao mês de agosto, um dos meses mais quentes no estado do Tocantins. O espelho propõe olhar as fotografias mais de uma vez, examiná-las, estabelecer jogos entre as coisas, suspender o tempo e quiçá compartilhar a poesia.
Ambivalência (2020) dá visibilidade ao Cerrado tocantinense. Numa poética rústica, está na contramão de uma performance ativista e utilitária das imagens. Parti do Cerrado para falar, quem sabe, de nós mesmos, nossa intimidade, nossas limitações, nosso próprio cotidiano.
Cerrado Negativo (2020) foi produzida durante a quarentena. Usando o celular, fotografei e editei paisagens da cachoeira do Evilson, no município de Taquarussu (TO). A série produz um experimento que inverte cores, cria sobreposições e manipula a entrada de luz na fotografia para dar a ver ou revelar (como em um processo analógico) a potência e a força desse bioma.
Talvez 2020 tenha sido um dos anos em que me senti mais sobrecarregada de coisas para fazer dentro da minha própria casa. A ideia da série Tempo Viral (2020) é pensar sobre nós e os desafios diários que se sobrepõem neste tempo pandêmico. Um tempo (quase) suspenso de vida. Tempo-que-se-faz-imagem, que dá pistas do aqui, do agora. Metamorfoses dadas por um tempo viral.
Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.