Na série que apresenta novos nomes e caminhos da produção fotográfica brasileira, é a vez de conhecer Marcela Keller
Publicado em 29/01/2021
Atualizado às 19:03 de 16/08/2022
por Cassiano Viana
Marcela Keller tem 35 anos. Nasceu em Florianópolis, Santa Catarina. Ela conta que desde muito nova a fotografia se revelou significativa em sua vida. “Comecei muito cedo a registrar amigos e os festivais de dança dos quais participava, ainda com câmeras analógicas dos meus pais”, lembra.
“Queria poder sempre reviver aqueles dias, queria poder olhar de novo e sentir a nossa emoção, tentar relembrar a equipe, os figurinos, a energia que trocávamos e recebíamos naqueles dias de competição. E a fotografia surgiu como a minha melhor aliada para isso.”
Aos 14 anos, comprou a primeira câmera digital, uma Mavica, e começou os experimentos. A vivência com retratos se tornou intensa a partir de 2013, quando passou a convidar pessoas aleatórias e não experientes para ser registradas em estúdio de forma espontânea e sem grandes produções.
“O retrato vincula a gente ao outro de forma súbita”, diz. “É uma experiência de troca que vale por mil encontros, e sempre acabei me tornando próxima, muitas vezes amiga, dos meus modelos de retratos. O retrato eterniza um encontro extraordinário e uma genuína troca energética, onde se estabelece um momento de mutação, momento este em que nos tornamos muito mais humanos ao olhar o outro tão de perto.”
Com a palavra, Marcela Keller:
“Waiting in the cold light
A noise, a scream tears my clothes
As the figurines tighten with spiders inside them
And dust on the lips of a vision of hell
I laughed in the mirror for the first time in a year
A hundred other words blind me with your purity
Like an old painted doll in the throes of dance.”
(The Cure)
“Summer grows old, cold-blooded mother. The insects are scant, skinny. In these palustral homes we only Croak and wither.”
(Trecho retirado de um poema de Sylvia Plath)
“Je suis la plaie et le couteau!
Je suis le soufflet et la joue!
Je suis les membres et la roue,
Et la victime et le bourreau!
Je suis de mon coeur le vampire,
— Un de ces grands abandonnés
Au rire éternel condamnés
Et qui ne peuvent plus sourire!”
(Trecho retirado de um poema de Charles Baudelaire)
“Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...”
(Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos – Poema XXIX)
“Il est un Dieu, qui rit aux nappes damassées
Des autels, à l’encens, aux grands calices d’or
Qui dans le bercement des hosannah s’endort et se réveille
Quand des mères, ramassées dans l’angoisse
Et pleurant sous leur vieux bonnet noir
Lui donnent un gros sou lié dans leur mouchoir.”
(Fragmento de poema de Arthur Rimbaud)
“Little black girl gets assaulted
Ain’t no reason why
Newspaper prints the story
And racist tempers fly
Next day it starts a riot
Knives and guns are drawn
Two black boys get killed
One white boy goes blind
Little black girl gets assaulted
Don't no one know her name
Lots of people hurt and angry
She's the one to blame.”
(Fragmento de Across the lines”, canção de Tracy Chapman)
“Riu tanto e por tanto tempo que lágrimas brilharam em seus olhos.”
(Neil Gaiman, em Mitologia Nórdica)
“Claro que [o espelho] tem [cor]. É de um cinza cintilante. Se *você* olhar num espelho, tudo que vê é a si mesma, mas conheço uma linda cor quando vejo.”
(Trecho retirado dos diálogos do filme Memórias de uma Gueixa)
Cassiano Viana é editor do site About Light.