No dia do centenário do artista, a IC Play recebe clássicos do precursor do cinema marginal
Publicado em 04/11/2022
Atualizado às 17:52 de 24/01/2023
Neste dia 4 de novembro, o cineasta Ozualdo Candeias completaria cem anos. Com uma das expressões mais originais do cinema brasileiro, o diretor, roteirista, fotógrafo e montador é considerado precursor do cinema marginal, dando foco ao cidadão que vive nas periferias do sistema, no campo e nas metrópoles brasileiras. Priorizando atores não profissionais em suas produções, Candeias buscava retratar seus personagens como cidadãos comuns, sem utilização de maquiagem ou rebatedores de luz.
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Para celebrar seu centenário, a Itaú Cultural Play – plataforma de streaming do Itaú Cultural (IC) – estreia uma seleção de produções do diretor realizadas entre 1970 e 1980, como o filme Aopção ou as rosas da estrada, drama premiado no Festival de cinema de Locarno, na Suíça, em 1981, e A herança, adaptação rural de Hamlet, de William Shakespeare.
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Centenário Ozualdo Candeias
Meu nome é Tonho (1969)
Criado por ciganos que o raptaram quando criança, o pistoleiro Antônio deixa o acampamento em que vive. Sozinho, vaga por terras ameaçadas por um bando de jagunços até encontrar uma bela mulher que irá reavivar em seu espírito antigas memórias familiares. Sob a sombra dessas lembranças, Antônio partirá em busca de suas origens.
Bárbaro e caboclo, este faroeste encantaria os maiores mestres do gênero, como o italiano Sergio Leone. O clima mítico do western, marcado por heróis solitários, paisagens bíblicas e facínoras violentos, é explorado por Candeias. Mas, em vez de simplesmente reverenciar uma tradição, o diretor construiu uma obra original, que encantou o gosto popular em sua estreia.
Zézero (1974)
Um homem do campo é visitado por uma estranha figura, uma mulher enfeitada com rolos de filme, que lhe mostra fotos de mulheres, classificados e jornais modernos. Com um sorriso de anúncio publicitário, ela lhe oferece o mundo de prazeres da metrópole. Seduzido por tantas promessas, o agricultor abandona a família e vai para a capital.
Neste conto sobre a migração do camponês para a cidade, assunto tão caro ao cinema da época, o inventivo trabalho de câmera de Ozualdo Candeias se destaca desde os primeiros minutos. As imagens captam a crueza da miséria urbana e o deslocamento do personagem num ambiente de áridos edifícios e gente anônima.
Aopção ou as rosas da estrada (1981)
Numa região pobre do interior do Brasil, mulheres trabalham no corte da cana. Ao mesmo tempo, entregam-se a caminhoneiros em postos de gasolina e na beira das estradas, como garotas de programa. De hotel em hotel, de cliente em cliente, elas vão sobrevivendo à violência e à miséria até chegar à cidade grande.
Premiado com o Leopardo de Bronze no Festival de cinema de Locarno, na Suíça, o filme é uma das obras-primas de Candeias e um dos melhores longas brasileiros de todos os tempos. Belíssimas imagens em preto e branco, enquadramentos originais e uma ríspida linguagem documental combinada à ficção revelam toda a grandeza criativa de seu autor.
A herança (1971)
Depois de estudar na capital, um filho de fazendeiro volta para a casa dos pais. Ao chegar, Omeleto encontra a mãe casada com o tio, irmão de seu pai, que acabou de morrer. Ele duvida das circunstâncias do matrimônio até que o fantasma de seu pai aparece e diz ser vítima de um assassinato. Diante da notícia, Omeleto buscará vingança.
Western feijoada, obra experimental, versão cabocla da maior das tragédias de William Shakespeare, Hamlet. O filme de Candeias é tudo isso e ainda desconcerta por sua vitalidade criativa e espírito independente. A gestualidade e o modo como os atores transitam em cena são elementos marcantes neste filme de invenção totalmente fiel ao espírito shakespeariano.
Uma rua chamada Triumpho 69/70 (1971)
A Rua do Triumpho, no centro da capital paulista, é um marco para a história do cinema em São Paulo. Foi de suas ruas, bares, neons e trabalhadores que nasceu um dos mais importantes núcleos de produção cinematográfica do país, conhecido como a Boca. Este curta descreve sua paisagem e retrata seus diferentes personagens, entre diretores, distribuidores, técnicos e exibidores.
Uma sucessão ininterrupta de fotografias tiradas por Ozualdo Candeias descobre alguns dos rostos que passam pela Triumpho – Jofre Soares, Anselmo Duarte, Luiz Sergio Person, Aurora Duarte, Roberto Santos, entre tantos outros artistas e produtores. O curta é uma carinhosa homenagem a um momento criativo do cinema brasileiro.
Uma rua chamada Triumpho 70/71 (1971)
Em seu segundo curta-metragem dedicado à comunidade da Boca do Lixo, Candeias descreve a Rua do Triumpho como um centro de distribuição de latas de filmes para todo o Brasil, dada sua proximidade com a Estação da Luz. Também apresenta novos artistas e faz pequenas ironias à situação do cinema brasileiro nos anos 1970.
O filme segue o mesmo arranjo narrativo do primeiro: a edição de fotografias tiradas por Candeias e a trilha sonora do violonista nordestino Vidal França se combinam à voz do locutor que identifica os personagens da Boca, como num minialmanaque de nomes e funções profissionais.