Nona edição da mostra Todos os gêneros, que tem a cultura lésbica como tema, leva sete novos filmes à IC Play
Publicado em 29/07/2022
Atualizado às 17:52 de 24/01/2023
A cultura lésbica é o tema da nova edição da mostra Todos os gêneros, em cartaz no Itaú Cultural (IC). A seleção reúne filmes de diferentes cineastas brasileiras, a maior parte exibida e premiada em festivais pelo país. De um retrato da escritora Cassandra Rios, pioneira em abordar a lesbianidade na literatura, ao romance entre duas jovens nos escombros da cidade de São Paulo, cada filme traz um olhar original e desafiador sobre o tema.
Mostra Todos os gêneros
Cassandra Rios: a Safo de Perdizes, de Hanna Korich (2013)
[classificação indicativa: 12 anos]
Cassandra Rios começou a publicar suas obras em 1948, aos 16 anos de idade, pioneira da escrita sobre o universo LGBTQIA+, com ênfase nas mulheres e sua liberdade sexual, na literatura brasileira. Vendeu mais de 1 milhão de exemplares nas décadas de 1960 e 1970, e teve 36 livros apreendidos pela censura. Neste documentário, depoimentos dão um panorama sobre sua importância na luta contra o preconceito. Entre os entrevistados estão a atriz Nicole Puzzi e o escritor Marcelino Freire.
Fragmentos, de Karen Antunes, Nyandra Fernandes e Viviane Laprovita (2017)
[classificação indicativa: 12 anos]
Uma mulher negra dança ao som de tambores. Detalhes do seu corpo e do seu rosto são captados pela câmera. Outra personagem entra em cena, uma mulher branca, que fotografa sua companheira. Entre risos e closes, fragmentos de um espelho vão compondo uma superfície. Este pequeno manifesto poético em favor dos corpos femininos é construído a partir de uma edição livre, costurada pela trilha sonora. Ritmos de matriz africana se juntam à música eletrônica, enquanto sequências coreografadas se combinam a cenas de pura contemplação.
A felicidade delas, de Carol Rodrigues (2018)
[classificação indicativa: 12 anos]
Na Avenida Paulista, coração do capitalismo latino-americano, duas mulheres se encontram. É noite de 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. Elas se manifestam coletivamente pelo direito de existir, mas o ato é repreendido pela polícia. Entre sirenes e balas de borracha, elas se refugiam num local abandonado. A narrativa do curta, carregada de tensão, explode com o encontro amoroso entre duas mulheres negras. A edição é habilidosa no trabalho com os sons de uma cidade conflagrada, sobre a qual pairam os barulhos ameaçadores de um helicóptero. Por outro lado, do contraste entre a luz e a escuridão, a fotografia retira uma expressividade poética arrebatadora.
Tea for two, de Julia Katharine (2018)
[classificação indicativa: 12 anos]
A cineasta Silvia vive uma fase ruim, sozinha em seu apartamento, na companhia apenas de seus discos e livros. Numa única noite, ela é surpreendida pela visita da ex-esposa, Isabel, que a largou sem muitas explicações e agora quer voltar; e conhece Isabela, uma vizinha que pode mudar o seu destino. A história desse triângulo amoroso, envolvendo duas mulheres e uma mulher trans, se passa praticamente num único cenário. A opção da diretora valoriza a performance das atrizes e a dramaturgia, também criando um ambiente ficcional em que o absurdo se mistura ao melodramático e à comédia.
Minha história é outra, de Mariana Campos (2019)
[classificação indicativa: 14 anos]
Ficção e realidade se misturam neste curta, construído a partir de diálogos e de imagens que discutem a violência racial e a identidade de gênero. Premiado em diversos festivais brasileiros e exibido no exterior, o filme se destaca pela forma honesta e sem artifícios com que capta o drama de suas personagens. Nele, revela-se o cotidiano de dois grupos de mulheres negras e lésbicas que vivem no Morro da Otto, em Niterói. O debate sobre o controle social do amor e como ele pode se dar em cenários de repressão e estigma traz ao centro da obra, a uma só vez, poesia e protesto.
À beira do planeta mainha soprou a gente, de Bruna Barros e Bruna Castro (2020)
[classificação indicativa: 12 anos]
Um casal de namoradas troca impressões sobre mudanças sutis em seus corpos, como o nascimento de uma pequena pinta no rosto de uma delas. A outra viaja para Salvador a fim de reencontrar a sua mãe. Transformações e percursos pessoais revelam seus jeitos de viver, sentir e lidar com os estigmas. Exibido em mostras e festivais nacionais e internacionais, o curta foi um dos finalistas do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2021. Autorretratos, imagens de arquivo pessoal, pequenos recitais e monólogos são a matéria de uma poética reflexão sobre identidade lésbica, afeto familiar e reconhecimento.
Trópico de Capricórnio, de Juliana Antunes (2020)
[classificação indicativa: 14 anos]
A diretora Juliana Antunes aproveitou o isolamento da pandemia para revirar os baús de sua história. Fotos suas, de familiares e de paqueras da infância e da adolescência são intercaladas com imagens de arquivo em VHS e com falas em primeira pessoa, que documentam seu reconhecimento como mulher lésbica. Autora e personagem de sua própria história, Juliana transforma registros da vida feitos em filmagens caseiras em um processo de autoconhecimento capaz de empoderar outras mulheres. Com bom humor, ela retrata os costumes da década de 1990 e traça um panorama mais íntimo de sua vida.