Para celebrar os 80 anos do artista, o site do Itaú Cultural (IC) traz três histórias de crianças registradas com o nome Caetano em sua homenagem
Publicado em 07/08/2022
Atualizado às 12:41 de 07/08/2022
por Heloísa Iaconis
Na canção “Enzo Gabriel”, do disco Meu coco (2021), Caetano Veloso canta e pergunta: “Enzo Gabriel, qual será teu papel / Na salvação do mundo?”. Inspirado no nome mais registrado em 2019 nos cartórios do Brasil, o artista pensa sobre o futuro – afinal, dialogar com crianças é mesmo um jeito de tocar no amanhã. Mas não é só Enzo Gabriel que vira nome de gente nova, novíssima: Caetano, por exemplo, também batiza (não necessariamente no sentido religioso) pessoas que acabam de chegar à vida. Muitos desses casos são mesmo homenagens ao músico. Por isso, para celebrar os seus 80 anos, o site do Itaú Cultural (IC) conversa com três famílias cujos filhos se chamam Caetano por conta de Veloso. Os responsáveis pelos meninos falam do porquê da escolha e elegem as suas faixas preferidas do mestre de Santo Amaro (BA). Dessa forma, celebra-se o cantor a partir de garotos-frutos, mostrando que ele faz parte da história deste país em todos os tempos: no passado, no presente e no que está por vir.
Onda de brasilidade
Quatro anos e meio depois do nascimento de Théo, Regina Monteiro e Fabio Ciccio esperavam o segundo filho. Para nomeá-lo, cogitaram Francisco, Jorge ou Bento – porém, nenhuma das três opções agradou de fato. Foi então que Regina sugeriu: “Por que não Caetano?”. Para ela, a sonoridade do nome reflete o movimento de uma onda – onda essa que, em razão do artista baiano, vem toda carregada de brasilidade. Há uma essência melhor? Fabio, contudo, não se convenceu de pronto. Colocou discos do doce bárbaro para tocar e se lembrou do quanto ele luta pelo Brasil (da ditadura militar até agora). Os seus posicionamentos diante dos problemas desta terra e, nas palavras de Regina, “uma sutileza ao caminhar por diversos espaços” foram fatores decisivos para que também o pai se deixasse cativar pelo nome. Para o bebê de 5 meses, os dois desejam que “dê e receba amor, que seja empático e verdadeiro consigo e com os seus sentimentos”. Assim, o Caetano de Regina e de Fabio, nascido ao som de Maria Bethânia, terá o seu papel na salvação do mundo.
Para a playlist intitulada Para Caetano e Caetanos, o casal seleciona as músicas “De noite na cama”, “Reconvexo”, “Odara”, “Desde que o samba é samba” e “Lua e estrela”.
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Da companhia à elaboração
Ao descobrir que estava grávida, Pollyanna Mattos Faria não teve dúvidas: passou a chamar o filho de Caetano. Durante a gestação, portanto, ela já dizia o nome do bebê. A escolha instantânea traz memórias afetivas da sua própria infância, como menina que cresceu ouvindo canções brasileiras. Às lembranças, soma-se a admiração por Caetano Veloso – encanto que se deve, entre outros motivos, à posição cidadã e à capacidade simbólica (tratar das emoções de maneira popular) do compositor. “Para mim, Caetano representa o lugar da comunidade, das relações, do humano. De tanto que ele me acompanha, sinto como se fosse alguém da minha família, uma pessoa que, por meio de sua música, me ensina a elaborar sentimentos”, resume Pollyanna. Tudo isso é transmitido para o garoto de 5 anos, apelidado de Velosinho. O menino já bem reconhece a voz do cantor: “Mãe, é o Caetano Veloso?”. E, para ele, xará do artista, como para todas as crianças, Pollyanna deseja acolhimento. Amparadas, cada uma delas terá o seu papel na salvação do mundo.
Para a playlist intitulada Para Caetano e Caetanos, Pollyanna seleciona as músicas “Terra”, “O leãozinho”, “Anjos tronchos”, “Oração ao tempo” e “Alguém cantando”.
Desassossego necessário
Assistente social inconformada com as desigualdades e injustiças, Rita Salgado liga-se à figura de Caetano Veloso, a princípio, por causa desse desassossego necessário. Em fevereiro de 2020, antes do isolamento pandêmico, realizou o procedimento de fertilização in vitro e, como o seu companheiro, ela tinha certeza de que viria um bebê com o sexo biológico feminino. No entanto, pouco antes de fazer o ultrassom que quebraria essa convicção do casal, Rita pensou no nome Caetano e na poesia sonora atrelada a ele. Eis uma espécie de prelúdio. O pai, no início, estranhava a opção – mas acabou aceitando por entender que esse nome, dado o contexto nacional, manifesta uma atitude política. Inspirada na disposição do artista para, nos termos de Rita, “aprender, escutar e se rever”, a educação do garoto de 1 ano e 8 meses se pauta em um trabalho persistente para que ele componha a luta em prol da diminuição do sofrimento humano. Com consciência crítica e amorosa, o Caê de Rita e de Marcos terá o seu papel na salvação do mundo.
Para a playlist intitulada Para Caetano e Caetanos, Rita seleciona as músicas “Alegria, alegria”, “O leãozinho”, “Não enche”, “A luz de Tieta” e “Força estranha”.