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Denilson Baniwa traz antigas histórias de seu povo para a fachada do Itaú Cultural

Obra mescla elementos ocidentais com grafismos e símbolos ancestrais

Publicado em 11/12/2019

Atualizado às 16:58 de 24/03/2020

De acordo com a cosmologia Baniwa, conjunto de povos indígenas de língua aruak que vivem no noroeste amazônico, no início dos tempos um espírito ancestral atravessou a Terra em forma de relâmpago e, ao tocar o solo, transformou-se em uma serpente-canoa, trazendo dentro de seu corpo os primeiros seres do planeta. Teria sido a partir do seu percurso pelo território terrestre que alterações no relevo, como rios e serras, foram criadas e as etnias foram formadas. Quem conta essa história é o artista visual Denilson Baniwa, de 35 anos, que em outubro deste ano trouxe para a fachada do Itaú Cultural parte dos mitos de criação de seu povo.

“Para a gente é real, é História com 'h' maiúsculo”, enfatiza o vencedor do Prêmio Pipa 2019, uma das principais premiações de arte contemporânea do país. Nascido e criado na aldeia Dari, localizada na região do Rio Negro, no interior do Amazonas, Denilson começou a pintar e desenhar ainda na infância, antes de se engajar nos direitos dos povos originários – o que veio a acontecer em sua juventude, época em que se mudou para Manaus, capital amazonense. Atualmente vivendo em Niterói (RJ), foi nesse estado, quando participou da exposição Dja Guata Porã, ocorrida no Museu de Arte do Rio entre 2017 e 2018, que passou a ver a arte como ferramenta de luta e difusão da cultura de seus ancestrais.

“É meu papel enquanto Baniwa compartilhar nosso conhecimento com quem não conhece nossa história”, conta o artista, que, transitando entre os universos indígena e não indígena, mescla em sua obra elementos ocidentais com grafismos e símbolos ancestrais. Quem passar pela instituição nos próximos meses poderá ter contato com parte desses saberes: no banco de concreto e em sua extensão, além da serpente-canoa, foram impressos outros animais sagrados aos Baniwa, como o gavião-real, companheiro dos heróis de criação do mundo, e a onça, guardiã dos mais altos conhecimentos do cosmo.

Nova pintura da fachada do Itaú Cultural, assinada por Denilson Baniwa (imagem: Anna Carolina Bueno / Itaú Cultural)

“Como não consigo ficar aqui explicando essas histórias para todo mundo como estou te explicando, que pelo menos essa obra gere uma curiosidade na pessoa que passar por aqui para que ela procure sobre”, observa.

Realizado com o auxílio da artista carioca Rafaela Campos, o trabalho deixa ainda um lembrete para todos que passarem pela Avenida Paulista, na altura do bairro Bela Vista:

Todo território colonial
Antes de tudo é ancestral
Quando raspadas toda escória
Plástico, asfalto, metal
Histórias não contadas na História
O sangue oxigena
Quem sempre foi daqui sabe
SP sempre foi
Terra Indígena

Arte Urbana
Denilson Baniwa é o sexto convidado a dar cara nova à fachada do Itaú Cultural dentro do projeto Arte Urbana, que desde quando foi criado, em 2017, já contou com os kene dos Huni Kuĩ e com a arte de Erica Mizutani, Guilherme Kramer, Jota Cunha e Luna Bastos.

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