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Itaú Cultural Play faz homenagem ao cineasta Julio Calasso

Cinco obras apresentam a filmografia de um artista versátil, inventivo e incansável

Publicado em 16/12/2022

Atualizado às 16:11 de 16/12/2022

Julio Calasso fez da vida e da arte uma coisa só. Com uma trajetória que se estendeu do cinema ao teatro, com percursos pela música, foi um importante agente no cenário cultural brasileiro. Cineasta, produtor e ator, foi um militante incansável da cultura e esteve presente em momentos-chave na história da arte brasileira – das encenações do Teatro Oficina ao surgimento do Cinema Marginal em São Paulo, nos anos 1960. Falecido em junho de 2021, Julio trabalhou com cineastas como Rogério Sganzerla, Carlos Ebert, Jairo Ferreira e Denoy de Oliveira, e produziu discos memoráveis de artistas como Moraes Moreira, Itamar Assumpção, Joelho de Porco e Novos Baianos.

Na sua jornada pelo cinema brasileiro, criou uma filmografia pouco conhecida que a Itaú Cultural Play apresenta ao público nesta homenagem. A mostra reúne seu primeiro longa-metragem, Longo caminho da morte (1971), protagonizado por Othon Bastos, e os documentários Electra na Mangueira (2012) e Electra no Municipal (2013), nos quais capta a experiência coletiva da criação teatral, e Plínio Marcos – nas quebradas do mundaréu (2014), documentário que faz um mergulho na poética desse grande dramaturgo, realizado a partir de entrevistas e de riquíssimo acervo de imagens. Além dos filmes dirigidos pelo cineasta, a mostra traz o longa-metragem O baiano fantasma (1984), obra dirigida por Denoy de Oliveira e que conta com atuação de Julio Calasso no papel do investigador Galo.

No canal do Itaú Cultural no YouTube, você pode conferir depoimentos de amigos, parceiros e familiares do cineasta.

 

Homenagem a Julio Calasso

Longo caminho da morte, de 1971

Orestes é um cafeicultor, dono de uma imensa propriedade rural. Seu negócio, como todo o mundo que o cerca, está em franca decadência. Entre a realidade e o delírio, a razão e a loucura, Orestes nutre sonhos de uma futura bonança financeira enquanto caminha por ruínas e campos desabitados.

Como boa parte da melhor produção brasileira dos anos 1960 e 1970, a qual o crítico Jairo Ferreira definiria como “cinema de invenção”, o filme de Julio Calasso se distancia radicalmente do cinema narrativo clássico, forjando um universo próprio e autoral. O tema da decadência atinge aqui uma dimensão ao mesmo tempo mítica e realista.

Imagem colorida do filme Longo Caminho da Morte. A imagem retrata um homem e uma mulher nas ruínas de uma casa. A mulher está sentada em uma janela e olha para o homem, que está em pé ao seu lado e olha para fora da janela.
Frame do filme Longo Caminho da Morte (1971) (imagem: divulgação)

Electra na Mangueira, de 2012

Em 2002, a equipe do Centro Experimental Teatro Escola (Cete), no Rio de Janeiro, se reúne com a comunidade da escola de samba Mangueira para produzir um espetáculo cênico-musical baseado em Electra, peça teatral composta pelo dramaturgo grego Sófocles em torno de 413 a.C. Esta produção é um registro dessa aventurosa empreitada pelo mito grego.

Entrevistas, muita música e participação comunitária dão conta de um momento artístico riquíssimo, em que o erudito e o popular se cruzam, criando uma ópera colorida, polifônica e multirracial. Nela, Micenas, a cidade grega onde se desenrola a história, se converte num território afro-ameríndio.

Imagem do filme Electra na Mangueira. A imagem retrata uma pessoa, com as mãos unidas à frente do rosto, com longos cabelos loiros e maquiagem ao redor dos olhos. A imagem possui uma coloração rosada.
Frame do filme Electra na Mangueira (2012) (imagem: divulgação)

Electra no Municipal, de 2013

O documentário retrata a montagem do espetáculo Electra pelo Cete e pela Mangueira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 2003. A encenação da peça de Sófocles, adaptada como uma ópera, é um momento simbólico de apropriação do espaço do Municipal pela comunidade do morro.

Uma celebração do encontro e do poder da arte teatral em unir culturas e mundos diversos –  neste caso, a tragédia grega e o samba carioca. Mais do que registrar um espetáculo, o documentário mostra o contexto em que as verdadeiras experiências artísticas se fazem. Público, atores, o palco e a história que se narra são parte de uma grande aventura coletiva.

Imagem colorida do filme Electra no Municipal. A imagem retrata uma pessoa em pé vestida com um grande manto vermelho com capuz sobre a cabeça. Ao seu lado, outra pessoa está sentada ao chão.
Frame do filme Electra no Municipal (2013) (imagem: divulgação)

Plínio Marcos – nas quebradas do mundaréu, de 2014

A vida e a arte de Plínio Marcos, um dos maiores dramaturgos do Brasil, são retratadas neste documentário. Radical, dissonante, espalhafatoso, Plínio Marcos construiu uma obra original e cortante. Entrevistas e imagens de arquivo compõem o retrato de um artista genial, que abriu novos caminhos para o teatro moderno no país.

Uma miscelânea audiovisual das mais variadas fontes e suportes é um dos grandes destaques desta produção. Cenas de filmes e o registro de espetáculos teatrais captam toda a força da poética de Plínio Marcos. O documentário ainda reúne depoimentos de Tônia Carrero, Neville d’Almeida, Emiliano Queiroz e Sérgio Mamberti, entre outros artistas.

Imagem colorida do filme Plínio Marcos - nas quebradas do mundaréu. A imagem retrata o autor e dramaturgo Plínio Marcos segurando diversos livros em frente a uma bilheteria. Plínio é um homem branco, de barba grisalha e veste um chapéu preto, camiseta azul e colete preto.
Frame do filme Plínio Marcos - nas quebradas do mundaréu (2014) (imagem: divulgação)

O baiano fantasma, de 1984 (direção: Denoy de Oliveira)

Lambusca é um imigrante nordestino que chega à cidade de São Paulo pleno de esperanças para mudar de vida. Aos poucos, a metrópole paulistana vai lhe oferecendo oportunidades de trabalho promissoras, como um emprego de cobrador de dívidas para uma truculenta quadrilha de agiotas.

Grande vencedora do Festival de Gramado de 1984, esta comédia traz José Dumont no papel de um operário que tenta a vida na capital, mas se envolve numa confusão com criminosos e a polícia. O filme dialoga com os temas do cinema engajado da época, mas também com as chanchadas de Oscarito e Grande Otelo, e com os filmes de Mazzaropi.

Imagem do filme O baiano fantasma. Na imagem, um homem segura uma boneca quebrada ao lado de seu rosto. O homem usa um bigode, tem os cabelos desgrenhados e lágrimas nos olhos.
Frame do filme O baiano fantasma (1984) (imagem: divulgação)
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