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Dia de tristeza e utopia: morre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha

O também urbanista e professor faleceu em 23 de maio de 2021. Relembre seus ideais, seu processo criativo, suas referências e o seu legado

Publicado em 23/05/2021

Atualizado às 14:25 de 14/03/2022

por Duanne Ribeiro

Em 2018, à época da Ocupação Paulo Mendes da Rocha, uma das ideias aventadas para guiar a curadoria foi a noção de utopia. O propósito era ressaltar o caráter desbravador do trabalho desse arquiteto, urbanista e professor, falecido hoje, dia 23 de maio, em São Paulo, de câncer de pulmão: sua perspectiva criativa com frequência saltava a cerca do pragmatismo e lançava no mundo possibilidades de construção, sem se restringir ao que seria possível segundo condições presentes. Pois amanhã, em outra elaboração, com os ajustes precisos, com novas invenções, a inspiração inicial poderia, enfim, encarnar.

Essa proposta seguiu no horizonte da exposição, porém sem papel dianteiro. Retomá-la agora – veja só como as ideias renascem! –, contudo, parece justo, na medida em que a morte de Paulo Mendes da Rocha, junto com a tristeza, encaminha à certeza de que sua arquitetura permanece criadora: reelaborados, readequados, reinventados, seus ideais sociais e artísticos e sua prática de trabalho marcam já e marcarão a vida das cidades, o cotidiano de quem convive com suas obras e a ótica de tantos outros arquitetos.

“A lucidez e a consistência das ideias de Paulo farão falta, ainda mais em tempos tão sombrios", afirma o diretor do Itaú Cultural (IC), Eduardo Saron, e ressalta: "Mesmo nos projetos mais simples, sua arquitetura viva se baseava na constituição de cidades mais humanas. Essas qualidades o acompanharam até o último segundo”.

Por isso tudo, reunimos aqui materiais que exibem um pouco desse legado, na voz do próprio Paulo – em entrevistas e participação em seminário – e em apresentações de sua obra em publicações ou depoimentos de amigos e profissionais que trabalharam com ele. Para outros dados, veja a Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileira.

Paulo Mendes da Rocha (imagem: Ana Ottoni)

Processo criativo

“Qual virtude para você é aquela indispensável da arquitetura?”, pergunta Paulo no livro Maquetes de papel (2007), em que ele expõe seu processo criativo. Ele responde: “Para mim, é ser oportuna”. Dessa forma, pensar um projeto é compreender onde ele se insere e de que modo; que oportunidades se apresentam e o que precisa ser atendido.

No site da Ocupação, você se aprofunda nessa estética e nessa ótica de produção. Desde sua definição de cidade – “acontecimento extraordinariamente rico”, “suprema obra da arquitetura” – até sua influência em múltiplos campos do conhecimento. Ainda mais, o site aborda em detalhes vários projetos seus, entre construídos – o Sesc 24 de Maio, o edifício Guaimbê etc. – e não construídos – propostas para o Aquário de Santos e a Praça da República, por exemplo. Navegue também pela playlist de entrevistas no YouTube:

Vivência das obras

Além da criatividade por vezes utópica, no bom sentido, o trabalho de Paulo foi marcado pela convicção de que a arquitetura é “a graça e a beleza da vida feita com concreto e tijolo”. Um prédio, uma casa, para existirem, pedem que o arquiteto convoque suas lembranças e imaginário – para criar algo vivo, podemos entender, é preciso partir do vivido.

Da mesma forma como era ponto de partida, o vivido era ponto de chegada para Paulo. O significado de qualquer construção é dado por como os sujeitos se apropriam e vivem os espaços. Foi para investigar de que maneira isso se dá com alguns projetos de Paulo que fizemos esta publicação para a Ocupação Paulo Mendes da Rocha. O livreto reúne depoimentos de quem vivencia o Poupatempo Itaquera e o Sesc 24 de Maio, duas produções suas em São Paulo, e traz também um ensaio fotográfico. Leia a reportagem abaixo:

Legado de Artigas

“Evitai o extremado desejo da segurança que contorna todos os riscos”, ouvimos, neste vídeo, nosso homenageado ler, e podemos crer que essa lição – enunciada pelo mentor de sua geração, o também arquiteto João Batista Vilanova Artigas – foi levada à risca por ele. Paulo, que foi assistente de Artigas, desdobrou a partir e além dele um pensamento crítico sobre a sociedade e o papel do arquiteto, o qual, segundo os dois, não deve ser mero construtor.

O site da Ocupação Vilanova Artigas reúne essa leitura de um discurso de 1964 e outras falas de Paulo, além de uma apresentação do Conjunto Habitacional Cecap Guarulhos, em que ambos trabalharam juntos. Na enciclopédia, conheça mais sobre o grupo que foi – Paulo incluído – influenciado e liderado por Artigas, a chamada Escola Paulista.

Mais conteúdo: Niemeyer

Veja também a contribuição de Paulo no evento Oscar Niemeyer: um seminário, realizado em 2013. O arquiteto participou da mesa “Criação de linguagem” (no YouTube, ela está dividida em cinco partes; acesse aqui a inicial e confira os relacionados). Por fim, assista ao depoimento de Paulo para a mostra Oscar Niemeyer: Clássicos e Inéditos, de 2014:

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