O grupo tem atuado em duas frentes no momento atual: uma frente social e uma frente digital
Publicado em 08/06/2020
Atualizado às 11:26 de 27/12/2021
Conhecida por mais de uma década de pesquisa e trabalho dedicados ao teatro contemporâneo, a Cia. Mungunzá de Teatro, nascida em 2008, tem procurado se reinventar neste período de isolamento social. “Em 12 anos, nunca tínhamos vivenciado uma crise (política e de saúde) desta magnitude. Não estávamos preparados e estamos, na medida do possível, tentando reinventar nossas ações artístico-políticas e, ao mesmo tempo, projetando no futuro uma sociedade melhorada no que diz respeito às nossas distâncias sociais (conflito de classes)”, explica Marcos Felipe, artista da companhia.
Com a interrupção de uma temporada de apresentações de cinco espetáculos do grupo no Teatro João Caetano, em São Paulo, a Mungunzá tem atuado em duas frentes no momento atual: uma frente social, com uma rede de apoio a aproximadamente 600 pessoas por dia em estado de vulnerabilidade social, especificamente no Teatro de Contêiner; e uma frente digital, com foco em manifestos artísticos produzidos para as plataformas digitais. As ações da #MungunzáDigital envolvem entrevistas e transmissões ao vivo nas páginas da companhia no Instagram e no YouTube.
Segundo o artista, com “atenção, curiosidade e receio”, o grupo tem acompanhado vivências e compartilhado experiências com outras companhias teatrais e atores neste período. “É bonito perceber como nos reinventamos e como buscamos novos caminhos e soluções. Mas também com grande preocupação, porque estamos vivenciando um momento de completo abandono de políticas públicas e redes de apoio à cultura. Há um plano político em nível federal de criminalização dos artistas”, diz.
Na visão de Marcos, há também um temor de que as produções digitais sirvam, em uma direção contrária, para ampliar ainda mais as distâncias. “Quem terá condições de produzir artisticamente durante este período? Qual é o público que terá acesso a esse 'produto' artístico? Tecnologia é uma coisa muito cara. Vamos, novamente, produzir calcados em nossos privilégios e para privilegiados.”
Em 12 anos de história, a companhia circulou por 19 dos 26 estados brasileiros e foi reconhecida pelos maiores prêmios dedicados ao teatro nacional. Em 2017, o grupo concebeu e construiu o Teatro de Contêiner Mungunzá, espaço cultura-teatro-sede que está entre as referências de locais socioculturais no país.
Como crises sempre suscitam profundas reflexões, a companhia está, neste momento, desenvolvendo outros dois trabalhos artísticos: o primeiro, com direção de Luiz Fernando Marques e voltado para as plataformas digitais, pretende pensar a respeito do nosso “tempo de agora”; já o segundo, um trabalho cênico, repousará o olhar sobre o conceito de "anonimato". Com direção de Rogerio Tarifa, esse novo projeto da Cia. Mungunzá de Teatro poderá ser conferido a partir do segundo semestre de 2021.
A série Por Aí divulga ações e atividades de instituições e projetos parceiros do Itaú Cultural espalhados Brasil afora. Você pode acompanhar em nosso site, por meio da tag Por Aí, e nos destaques do nosso perfil no Instagram (@itaucultural).