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Pandemia de covid-19 muda calendário de eventos fotográficos no Brasil

Principais festivais de fotografia no Brasil iniciaram diversas ações no ambiente digital, enquanto aguardam os próximos passos

Publicado em 24/07/2020

Atualizado às 11:27 de 17/08/2022

Por Cassiano Viana*

Por conta da pandemia de covid-19 os eventos de fotografia que deveriam ser realizados neste ano foram adiados em vários estados do Brasil.

“Fomos, talvez, o primeiro impactado pela pandemia. Nosso evento seria de 18 a 22 de março”, conta Eugênio Sávio, organizador do Festival de Fotografia de Tiradentes, que acontece em Minas Gerais. O festival foi adiado e a expectativa, segundo Sávio, é realizá-lo ainda no segundo semestre, num híbrido entre presencial e digital. “Não dá para saber qual parte presencial poderá ser feita. Ainda estamos no meio da pandemia, seria precipitado tomar qualquer decisão agora”, explica o fotógrafo.

“Enquanto isso, iniciamos algumas ações no ambiente digital, diversas lives no YouTube e no Facebook com uma participação muito boa de público”, conta. “E estamos pesquisando melhores formas de oferecer outros conteúdos no ambiente digital para planejar o que será a celebração da décima edição do Festival”, diz Sávio.

Valongo Festival 2019 (imagem: Marina Lima)

A quinta edição do Valongo Festival Internacional da Imagem, que aconteceria entre maio e julho, em Santos (SP), também foi adiada e está sendo reformulada.

“Ao longo destes anos, o festival muitas vezes se propôs reavaliar o seu formato, partindo das questões de cada momento específico”, afirma Thamyres Matarozzi, coordenadora do festival. “E em 2020 também, e talvez mais do que nunca, o projeto volta a si mesmo para investigar suas razões e práticas, a fim de entender como ele pode existir em relação às perguntas, limitações e urgências do seu tempo”, diz.

O Festival de Fotografia de Paranapiacaba, que acontece em Santo André (SP), foi adiado para novembro, mas as atividades virtuais estão acontecendo desde março.

“A mensagem de Paranapiacaba é usar a alfabetização visual como ferramenta para trabalhar a educação, os direitos humanos e o meio ambiente, não importando se presencial ou virtual”, explica João Kulcsár, organizador do festival. “Para nós o virtual se consolidou e potencializou o projeto. Estamos atingindo muito mais pessoas no Brasil e no mundo. Agora com o on-line estamos fazendo um festival ainda maior, com menor custo e mais sustentável”, comemora.

O Fotofestival Solar, um dos festivais mais jovens, mais novos, entre os que acontecem dentro da rede de fotografia no país, é um evento bienal. A primeira edição aconteceu em dezembro de 2018 e a segunda estaria prevista para dezembro de 2020.

“Com o advento da pandemia, as incertezas que a gente está vivendo, a gente ainda não tem certeza se o Solar vai ser adiado ou cancelado”, conta Tiago Santana, organizador do evento, realizado no Ceará. “Ainda estamos em uma fase de avaliação, como muitos festivais que transferiram suas datas para outros períodos.”

Para Tiago, mesmo que em dezembro tenhamos estabilidade em termos de pandemia, não sabemos se haverá, no país, eventos presenciais.

“É importante observar que a essência dos festivais é o encontro, a troca entre as pessoas, para além da programação oficial que todo festival tem”, observa. “Temos todo um circuito off onde as pessoas se encontram, em bares e restaurantes, encontros agendados aleatoriamente, e essa é uma das grandes riquezas dos festivais. Nesse sentido, é difícil pensar um festival totalmente on-line”, reforça.

FestFoto 2019 (imagem: Carol Ferraz)

O FestFoto, de Porto Alegre (RS), estava programado para acontecer no dia 27 de março. “Estávamos a dez dias da abertura, com a exposição, quando teve início o confinamento, com todo o conteúdo pronto", lembra Sinara Sandri, diretora do evento.

A expectativa, segundo ela, é que o evento, que acontece há 13 anos, desde 2007, e que teria sua 13ª edição neste ano, seja realizado ainda neste segundo semestre.

“Temos o compromisso e a vontade da Fundação Iberê Camargo de fazer a exposição quando for possível, mas ainda não há em uma data”, conta. “Todos os centros culturais, no Brasil e no mundo, estão passando por reformulações e adaptações de calendário e tentando entender quais as condições de reabertura”, observa. “É toda uma engenharia de produção de eventos que já estavam previstos, outros que estavam em produção, que as instituições naturalmente precisam reacomodar neste momento”, avalia.

Recolagem do Lambe Lambe, no FotoRio 2018 (imagem: Hans Georg)

“Neste ano adiamos o período de realização para o mês de novembro, redimensionamos o festival e vamos fazer uma edição virtual”, explica Milton Guran, coordenador do FotoRio, Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro.

O FotoRio nasceu bienal em 2003, virou anual em 2013 e neste ano entra em sua 13ª edição.  Em 2018, por conta da falta de patrocínio, o festival foi cancelado. “Mas aí houve reação dos fotógrafos e nos cotizamos e fizemos o FotoRio Resiste”, lembra Guran. “É importante mantermos a chama acesa e respondermos às dificuldades com realizações dentro do nosso melhor. É o caso do momento”, conclui o fotógrafo.

 

*Cassiano Viana é editor do blog About Light e autor da série Olhares sobre a Covid-19, publicada pelo Itaú Cultural.

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