Num ambiente de digitalização crescente, as artistas enfrentam limitações e se reinventam para o “novo” mercado
Publicado em 24/09/2020
Atualizado às 17:37 de 16/08/2022
A 5ª edição da Banca de Quadrinistas disponibiliza para visualização, até 26 de outubro, pelo site do Itaú Cultural, o trabalho de 20 artistas mulheres, em dois lotes. Saiba mais sobre o evento.
Por Ana Luiza Aguiar
A digitalização e a integração em redes se tornaram parte integral da produção de mídia no século XXI, e os quadrinhos também foram atingidos por isso. A cena independente de HQs se aproveitou das crescentes redes sociais – e nem a pandemia do novo coronavírus afetou a produção das artistas, apesar das dificuldades e do preconceito.
Veja também – onde conhecer ou comprar HQs das artistas da banca
>> Alice Pereira (loja on-line)
>> Ana Paloma (contato por WhatsApp e redes sociais)
>> Bennê Oliveira (contato por redes sociais)
>> Blenda Furtado (contato por e-mail)
>> Bruna Bandeira (contato por Instagram)
>> Carolina Ito (contato por Instagram)
>> Catia Ana (loja on-line)
>> Diana Salu (contato por e-mail ou Instagram)
>> Fefê Torquato (contato por redes sociais)
>> Ing Lee (loja on-line)
>> Juliana Loyola (loja on-line)
>> Leta (contato por redes sociais)
>> Lila Cruz (loja on-line)
>> Majane Silveira (financiamento coletivo, apoio recorrente)
>> Marilia Marz (loja on-line)
>> Paloma Barbosa (loja on-line)
>> Rebeca Prado (contato por e-mail ou redes sociais)
>> Renata Nolasco (loja on-line)
>> Talessa Kuguimiya (loja on-line)
>> Ty Silva (loja on-line)
Essa questão da conversão digital e suas consequências pode ser explorada na mostra Banca de Quadrinistas | Olhares Femininos, que se propõe a amplificar a voz das artistas femininas e seus trabalhos. Por causa da covid-19, as obras serão expostas apenas virtualmente. As visões de 20 quadrinistas serão apresentadas em dois lotes, que ficarão disponíveis para o público por 30 dias.
Nenhuma das 20 artistas que participam da mostra fala em abandonar o papel. Ainda assim, todas elas concordam que o digital não somente facilitou a produção de quadrinistas independentes, mas também mudou o próprio acesso e o modo de se relacionar com o público. “O mercado passou a ser o mundo inteiro, então restringir-se às vendas físicas passou a não ter tanto sentido”, explica a ilustradora Blenda Furtado.
Várias autoras, na verdade, conseguiram ir contra a recessão e ter um bom retorno com os quadrinhos no meio do caos da pandemia. É o caso de Renata Nolasco: “Eu já tinha uma loja [on-line] antes, mas, com outros projetos tomando o meu tempo, ela acabava ficando em segundo plano. A covid-19 acabou com os eventos, então a gente precisou se reinventar. O público tem sido incrível com a gente. Neste ano, tive mais vendas pela internet do que em todos os anos anteriores”, afirma.
Esse salto digital também tem outros efeitos que podem ser benéficos para a democratização de vozes e temas. A relativa liberdade de levantamento de fundos via financiamento coletivo e a possibilidade de fazer uma “editora de uma pessoa só” – embora muito difícil – tornam o formato digital uma opção atraente para as independentes que desejam fazer suas vozes ser ouvidas sem restrições.
O digital é considerado essencial para a produção de histórias que, segundo artistas como Ana Paloma, antes eram tabu e poucos homens abordariam, obras que falem de “igualdade de gênero, sexualidade e prazer feminino, amizade (em oposição à competição feminina), pautas LGBTQIA+, amor, inseguranças, negritude etc.”. Nesse sentido, Ty Silva afirma: "É preciso ter mais mulheres não brancas ocupando os espaços dos quadrinhos, mais mulheres fora do eixo Sul-Sudeste, é preciso ter mais pessoas LGBT ocupando esses espaços com a gente. Mostrando que existem mulheres nesse meio, que é possível, sim, contar sua história e fazer quadrinhos. Isso ajuda a dar forças para que mais manas consigam também".
Essa falta de inclusão também é a impressão da quadrinista Alice Pereira, que afirma que o mercado tem “grupos de quadrinistas em que um indica o outro e aí gera uma panela. É difícil uma mulher arrumar espaço no grande mercado, particularmente uma mulher trans”. Fefê Torquato, que teve experiência com graphic novels de editoras nacionais, concorda. “Você precisa gostar muito, mais muito mesmo de quadrinhos para tentar viver disso neste país. Agora, se você é mulher, não branca, não hétero, não cis, você tem de amar quadrinhos apesar do meio”, enfatiza.
O futuro é algo nebuloso para essas autoras. “Eu acredito que o mercado de quadrinhos é bem sensível aos movimentos da sociedade. Se a dinâmica mudou com a pandemia, por si só esse mercado já está em transformação”, explica Majane Silveira, que contempla a dificuldade de imaginar como vai ser o “novo normal” do mundo dos quadrinhos. “Não vejo caminhos claros, acho que cada quadrinista terá de encontrar sua fórmula, aquela que for mais condizente com sua linguagem e seus objetivos.”
Banca de Quadrinistas | Olhares Femininos
até segunda 26 de outubro de 2020 às 12h
primeiro lote
até segunda 19 de outubro às 12h
segundo lote
sábado 26 de setembro a segunda 26 de outubro às 12h
on-line – aqui no site do Itaú Cultural