Elias e Gustavo Fontele Dourado falam sobre o filme de animação “Hacker Leonilia”, contemplado pelo “Rumos Itaú Cultural 2023-2024”
Publicado em 01/10/2025
Atualizado às 09:57 de 01/10/2025
Projeto: Hacker Leonilia
Proponentes: Elias Fontele Dourado e Gustavo Fontele Dourado
O projeto começou como um curta-metragem roteirizado durante a pandemia de covid-19 e finalizado agora, em 2025. Durante o processo, surgiu a ideia de transformá-lo em longa-metragem, e, para isso, precisávamos roteirizá-lo primeiro. Submetemos o projeto ao Rumos Itaú Cultural em 2023 e começamos a trabalhar no roteiro em 2024.
Conseguimos entregar pelo menos duas versões completas do roteiro e concluímos tudo o que estava previsto no plano inicial do projeto. Além disso, contamos com relatórios de consultoria, identidade visual com logo, material de pitching, artes conceituais e produção executiva.
O maior desafio foi organizar e filtrar as ideias durante a escrita do roteiro e, ao longo do tempo, aperfeiçoá-las. Nosso objetivo era alcançar um equilíbrio entre originalidade e comunicabilidade. Outro ponto importante foi equilibrar o lado bom e o lado ruim da protagonista, preservando os conflitos que ela precisa enfrentar e transformar, passando por um processo de reinvenção pessoal.
Um sentimento que predominou foi o de evolução gradativa com a escrita. À medida que avançávamos, o roteiro ia tomando forma e melhorando. Percebemos que a escrita evoluiu muito quando colocamos mais intensidade no processo criativo, o que nos permitiu identificar o que funcionava e o que não saía de acordo com o discutido.
Nossas maiores inspirações surgiram dos debates sobre o roteiro, com foco nas discussões sobre personagens e no universo da obra – sempre testamos opções e discutimos para avaliar se faziam sentido no projeto e também para fins de comparação. O projeto, em si, é um experimento com elementos pouco comuns no gênero de ficção científica, que adaptamos a nosso favor. Também pesquisamos outras obras, como leituras, filmes, séries, artes plásticas e jogos.
Recentemente, conferimos a trilogia Qatsi, com os filmes Koyaanisqatsi, Powaqatsi e Naqoyqatsi. São trabalhos que criticam o uso desequilibrado da tecnologia e, consequentemente, seu impacto sobre a natureza. Acreditamos que nosso filme tem como construção de mundo essa mensagem, e esse tema será discutido entre as personagens e ao longo da obra. Também nos inspiramos em muitas animações, como Wall-E (narrativa mais clássica e ecológica) e As andorinhas de Kabul (narrativa menos clássica e animação mais adulta e política). Além disso, notamos algumas conexões estruturais com o jogo recém-lançado Split fiction, sobretudo nas possibilidades de conflitos entre duas personagens, seus anseios e sua evolução.
Contamos com a colaboração de diversos artistas. O roteiro foi escrito por dois roteiristas, que tiveram peso igual nas decisões e na estruturação narrativa. A dimensão coletiva foi fundamental para aprimorar o projeto, que já é bastante pessoal. Ao recebermos o retorno de consultoras e da produção executiva, poderemos tensionar as ideias do projeto e entregar um resultado mais concreto e equilibrado.
Consideramos o público jovem e adulto, porém o trabalho é mais adulto devido à sua abordagem crítica sobre o uso inadequado da tecnologia e o impacto desta no meio ambiente. As relações entre as personagens são mais sérias, e não se trata de um filme infantil. Sempre escrevemos a história com um público mais maduro em mente.
Estamos no desenvolvimento avançado, com pelo menos dois tratamentos completos. A última entrega ao Itaú Cultural foi bastante satisfatória, mas acreditamos que o projeto só será finalizado quando produzirmos o filme. Após essa entrega, devemos revisar alguns pontos, já pensando na produção do longa-metragem. Uma das principais mudanças é que agora consideramos inserir poucas cenas de sonho utilizando a técnica de stop-motion em bordado. Com essa linguagem, podemos criar um experimento artístico mais inovador e interessante. A linguagem do filme vai ser predominantemente 2D, mas pretendemos deixar o longa mais plástico visualmente, com intervenções artísticas.
Para fins de roteirização, concluímos o projeto com o Itaú Cultural, mas, como dissemos anteriormente, o filme só terá o roteiro totalmente finalizado quando começarmos a produzir a animação, pois, a partir desse momento, ele não poderá passar por muitas modificações. Está nos nossos planos a captação de verba na Agência Nacional do Cinema (Ancine), no FAC do Distrito Federal e em outros mecanismos de fomento.
Um dos maiores aprendizados foi perceber que a força do conflito entre as personagens e seus universos é uma grande motriz narrativa. Como se trata de um filme que promove uma transformação individual e coletiva, o aprendizado com as outras personagens e seus contextos é uma das coisas que mais importam.
Ao longo do processo, também enfrentamos conflitos de escrita essenciais para o aprimoramento do projeto, pois foram uma maneira de colocá-lo à prova e tentar melhorar o que estava mais carente. Alguns exemplos incluem as reuniões com as consultoras, a visão da produção executiva e os encontros criativos entre os roteiristas. Tudo isso contribuiu para que o projeto fosse aprimorado, e ainda assim não perdemos a força pessoal da obra, mesmo com muitas avaliações coletivas.