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Versos | “O meu país tem uma tradição de massacres. E o seu?”

Inspirado por uma das fotografias do artista visual Gilvan Barreto, Carlos Costa escreve um poema sobre o histórico de violência brasileiro

Publicado em 20/09/2022

Atualizado às 14:44 de 20/09/2022

Versos destaca produções de artistas presentes na coleção de obras de arte do Itaú Cultural (IC). A cada publicação, um escritor é convidado a criar um poema inspirado em uma obra do acervo. Nesta edição, escreve Carlos Costa.

Uma cisterna está no meio da imagem, é uma construção cônica e branca. Atrás dela se veem o céu azul e algumas árvores e silhueta.
Sem título (Cisterna) – série O livro do Sol, 2013 impressão de pigmento mineral em papel de algodão 61 x 91 x 4,2 cm (imagem: Acervo Itaú Cultural)

Gilvan Barreto
Sem título (Cisterna) – série O livro do Sol, 2013
impressão de pigmento mineral em papel de algodão
61 x 91 x 4,2 cm
Acervo Itaú Cultural

O meu país tem uma tradição de massacres. E o seu?

Sol de tiro repetido não tem como alvo a fome.
A ganância do senhor tem.
A primeira bala é de miséria. A outra, misericórdia, saqueia e queima.

A terra indígena, o quilombo e a reserva.

Canudos. Ocupações. Acampamentos.

A roça calcinada pelas balas do sol e suas carcaças.

A praça cheia de sem-teto nem nome e suas barracas.

Aqueles nordestinos, irmão das almas. Aqueles loucos. Aqueles pobres. Aqueles pretos. Aqueles índios. Aquelas putas bixas travestys, irmão das almas. Do tipo um defunto de nada.

Carlos Costa é jornalista.

Gilvan Barreto é fotógrafo e artista visual. É autor dos livros Paraíso (2022), Capitanias e Tiranias (2019), Suturas (2016), Sobremarinhos (2015), O livro do Sol (2013) e Moscouzinho (2012). Dirigiu o documentário Prelúdio da fúria e foi selecionado pelo Rumos 2013-2014, com o projeto Orquestra Brasileira de Fotografia.

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