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Revista Observatório 30 | Por uma gestão para a diversidade

Revista Observatório 30 | Por uma gestão para a diversidade

Jan Moura analise a política cultural para as artes da cena para além das políticas de fomento dos editais do estado do Mato Grosso.

Publicado em 06/12/2021

Atualizado às 17:37 de 15/08/2022

[acesse o índice da Revista Observatório 30]

por Jan Moura - https://orcid.org/0000-0003-3587-0463

 Mato Grosso tem sua economia baseada fortemente no agronegócio. Os interesses políticos, os cursos de formação superior e as políticas de incentivo comercial voltam-se basicamente para esse nicho, o que acarreta uma enorme discrepância no desenvolvimento de outras áreas, em especial as artísticas e culturais. Esse fato é comprovado pela quase inexistência de cursos superiores ou regulares para capacitação profissional no campo das artes até 2017.

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O desenvolvimento das artes cênicas se deu no estado fundamentalmente pela prática de resistência de mestres da cultura.

 Assim como por iniciativas muito importantes que incluíram cursos livres e projetos de circulação oferecidos pelo Sesc Mato Grosso.

Atualmente, a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso tem trabalhado para promover mudanças que possam garantir um novo cenário para o teatro e para a cultura do estado. Começo citando uma das ações que vejo como mais importantes para o desenvolvimento do teatro mato-grossense, que é a criação e a manutenção da MT Escola de Teatro.

Em 2017, em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), a Secretaria de Estado de Cultura criou o curso superior tecnológico em teatro, que, ainda em seu quinto ano de existência, tem construído uma nova história para as artes cênicas locais. A principal missão do curso é proporcionar uma formação avançada por meio de um sistema pedagógico que valorize o potencial individual e coletivo de cada discente. 

Sobre as outras estratégias estaduais para o desenvolvimento das artes cênicas, cito o trabalho de ampliação e democratização do acesso aos recursos públicos para o fomento à cultura.

Um antebraço e uma mão fechada como se segurasse algumas nuvens cinzas.
"Que horas são no paraíso" (2020), Daniela Paoliello (imagem Daniela Paoliello) 

Dentro da rede produtiva da cultura, temos manifestações que conseguem uma projeção financeira maior, especialmente as ligadas ao audiovisual de entretenimento e aos grandes shows musicais, que recebem investimento privado e são o que chamamos de indústria cultural, movimentando bilhões no mundo todo. E temos também manifestações que não conseguem alcançar esse patamar sem precisar abrir mão daquilo que as caracteriza. A produção ligada à memória da sociedade, às manifestações tradicionais provenientes de práticas sociais de populações originárias e a manifestações como a arte e o teatro contemporâneos deve ser incentivada, e não somente pela iniciativa privada, pois a ideia de lucro a todo custo nem sempre atende às necessidades de salvaguarda da diversidade cultural.

Não adianta avançar economicamente e ser um estado campeão no agronegócio se o nosso povo é pobre de repertório cultural.

Precisamos garantir o acesso à diversidade de manifestações e a uma educação emancipadora, assim como o direito de escolher o que consumir culturalmente. E isso é feito com fomento, com leis de incentivo à cultura.

 Entre as tônicas que nos guiam na atual gestão da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso está um princípio importante, o da diversidade e da cultura como direito. Acredito ser essa a grande mudança que estamos construindo nesse processo. Somente por meio da expressão da diversidade podemos construir uma gestão cultural democrática e potente, capaz de provocar a ampliação de horizontes. E, para dar conta da democratização do acesso, é preciso elaborar políticas públicas que reafirmem a cultura como um direito. 

Nossos editais têm trazido algumas estratégias para alcançar esses objetivos: a primeira é a garantia de quantidades mínimas de projetos para alguns segmentos culturais historicamente excluídos e invisibilizados. A segunda estratégia tem sido a adoção de critérios de seleção que, além de levar em conta a excelência da proposta, a qualificação da equipe e os seus efeitos multiplicadores, possam equilibrar algumas problemáticas de exclusão social que percebemos nos editais. Estabelecemos critérios sociais que têm como missão equilibrar a balança do acesso, democratizar o quanto for possível os recursos e ampliar para outras populações o direito, garantido na Constituição brasileira, de acesso à fruição e ao fazer cultural. 

Além disso, estamos desconstruindo algumas diferenças de acesso e fazendo uma espécie de reparação histórica, com a participação ampliada de povos tradicionais, da população LGBTQIA+ e de comunidades ribeirinhas e periféricas, assim como a equalização da participação de mulheres e de outros municípios que nunca tinham buscado recursos nos editais estaduais. Estamos desenvolvendo, assim, uma nova forma de pensar gestão pública para a cultura, que faça sentido para o novo momento que estamos vivendo e que possa ser resposta para os desafios da contemporaneidade e da busca por equilíbrio social e democrático.

Como citar este artigo

MOURA, Jan. Por uma gestão para a diversidade. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 30, 2021. Disponível em: [https://www.itaucultural.org.br/secoes/observatorio-itau-cultural/revista-observatorio/por-uma-gest%C3%A3o-para-diversidade]. Acesso em: [data_atual]. DOI: https://www.doi.org/10.53343/100521.30.06


Jan Moura é mestre e doutor em estudos de cultura contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em gestão cultural pelo Senac. É secretário adjunto de Estado de Cultura de Mato Grosso.

 

Expediente da Revista Observatório 30

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