As sessões de pré-estreia do filme, selecionado pelo “Rumos Itaú Cultural”, irão ocorrer nos dias 21 e 25 de junho
Publicado em 16/06/2022
Atualizado às 14:58 de 17/06/2022
por Maria Clara Matos
Como nos livrarmos daquilo que nos oprime? O filme Coágulo revela uma batalha contra o sistema opressor patriarcal e discute a capacidade do ser humano de se transformar e ser livre. A artista por trás da produção, Juliana Notari, utiliza a linguagem da marionete para abordar esse tema e construir uma arte essencialmente política.
Parte do projeto 20 anos de Marionete Livre – comemoração e manifesto, contemplada pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, o curta-metragem foi gestado em 2016, com a retirada da presidente Dilma Rousseff do poder: “Foi um choque, me vi bloqueada como mulher e como artista”, conta Juliana. Do bloqueio, da opressão, veio a ideia do coágulo: “Todos nós temos um coágulo, algo que nos oprime”.
Ainda segundo a artista, a escolha do termo também faz referência às opressões ao universo feminino e à menstruação: “A gente tem muita conexão com essa palavra, porque expelimos coágulos. Mas é uma palavra tabu, ninguém quer pronunciá-la”, afirma.
Após cinco anos de pesquisa, o momento de criação e realização de Coágulo aconteceu em uma residência artística com toda a equipe. Imersos na Mata Atlântica durante 13 dias, os artistas envolvidos no projeto se propuseram a compreender como expulsar o coágulo que nos oprime. Juliana enfatiza a importância do movimento de contração e expansão, que está muito presente na narrativa. “Expandir e contrair faz com que a marionete ganhe suspiro e respiro, faz com que realizemos nossos desejos e sonhos, faz com que entendamos as opressões e nos livremos delas.”
Para representar o gerador de coágulos, a artista criou o Coagulador, um homem branco, mofado e antiquado: “Essa é uma figura muito conhecida, é só olharmos para os nossos dirigentes e até para os nossos próprios pais”, conta. A marionete foi modelada com 20 calcinhas de algodão usadas pela artista. “A matéria com que a marionete é fabricada também tem um peso na narrativa que queremos contar. As calcinhas são objetos íntimos, polêmicos, que, em si, manifestam um recorte da sociedade.”
O filme de 20 minutos divide-se em quatro momentos: encantamento, contração, expansão e fluxo. Nele Juliana contracena com o percussionista Herí Brandino, que também é o responsável pela direção musical e pela composição da trilha sonora da obra. “Com o filme eu quero que as pessoas saibam que elas podem transformar qualquer situação, por mais precária, por mais violenta, por mais dura que seja. Querem que a gente esteja parada, anestesiada, sem sentimentos, mas não somos inertes. Somos capazes de transformar, de transmutar”, enfatiza a artista.
Lançamento do filme Coágulo
As sessões de pré-estreia do filme Coágulo irão ocorrer em duas datas: 21 e 25 de junho. Confira abaixo os horários e locais.
terça 21 de junho de 2022
Cine Matilha [Rua Rego Freitas, 542 – República, São Paulo | 68 lugares]
Recepção e distribuição de ingressos: às 19h30
Exibição: às 20h
Bate-papo com a equipe e coquetel: às 20h30
Entrada: doação de um ou mais pacotes de absorventes para a Campanha Dignidade Menstrual para a população de rua
sábado 25 de junho de 2022
Museu da Imigração [Rua Visconde de Parnaíba, 1316 – Mooca, São Paulo | 96 lugares]
Recepção e distribuição de ingressos: às 16h
Exibição: às 16h30
Bate-papo com a equipe e coquetel: às 17h
Entrada gratuita
Processo criativo: a faísca
Desde criança, observar atentamente os objetos e adentrar o mundo não visível que os cerca sempre foi sua fascinação. Marionetista há mais de 20 anos, Juliana Notari se dedica a conferir personalidade, sentimentos e emoções a todo tipo de matéria. Num processo que envolve pesquisa gestual e de movimento, a artista dá pulso a seus personagens. “A linguagem da marionete é tão plural e tão generosa que permite utilizar os esforços das artes cênicas, das artes plásticas e da literatura. Ela é polivalente”, conta a artista.
E, quando o assunto é processo criativo, Juliana conta que 100% de sua produção é disparada por necessidades internas. “Existe uma necessidade que habita a gente. Já tive necessidade de falar dos sonhos, da questão patriarcal, da diversidade e, agora, da opressão. É o que realmente me move”, explica. Dessa faísca inicial surgiu a ideia e, para o desenvolvimento dela, Juliana usa uma metáfora: “A ideia é como se fosse uma noz. A noz é quebrada para ativar um dos nossos sentidos. O momento em que conseguimos quebrá-la é o que eu chamo de realização”.
“Em um dos meus espetáculos, Utopia árvore, a noz é a relação entre um menino e uma árvore. Quando você consegue quebrar a noz, aquele pequeno universo se expande, o que me leva para a relação com a filosofia de [Gaston] Bachelard, a relação com os fungos… As coisas estão no contraído e se expandem”, destaca a artista. Iniciado com sua entrada na universidade, em 2000, o movimento de Marionete Livre bebe desse conceito em que tudo e toda a matéria é possível.
As técnicas e os materiais escolhidos para a criação de cada marionete variam de acordo com o objetivo da obra. Juliana já criou marionetes com cascas de árvore, folhas, palha, cascas de alimentos e até com um vestido de noiva: “Eu sou uma recolhedora e recicladora de matérias. O que as pessoas jogam fora me interessa”.
Para falar sobre suas experiências e seus processos de criação, a artista lança, em julho, o livro Pedagogia da Marionete Livre: festa e manifesto, que também compõe o projeto 20 anos de Marionete Livre – comemoração e manifesto. A obra aborda uma metodologia livre de construção de marionetes e relata os cursos e oficinas ministrados por Juliana no Brasil e em diversos países, como Argentina, Colômbia, Chile e Espanha.
Lançamento do livro Pedagogia da Marionete Livre: festa e manifesto
Juliana Notari abrirá o evento com a apresentação de sua obra Habitada, seguida de bate-papo sobre o livro e sessão de autógrafos.
segunda 4 de julho de 2022
às 19h30
Espaço Sobrevento [Rua Coronel Albino Bairao, 42 – Belenzinho, São Paulo]