Criado pelo quadrinista, escritor e arte-educador Fabio Quill, o projeto publica seis novos autores em um livro previsto para 2022
Publicado em 11/01/2022
Atualizado às 17:40 de 18/04/2022
por Cristiane Batista
Fabio Quill conheceu o mundo dos quadrinhos ainda criança, por intermédio de um vizinho que comprava gibis de super-heróis nos sebos das feiras (de frutas!) do bairro de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. “Ele só me emprestava outro se eu devolvesse o primeiro. Eu sonhava em ser autor das minhas próprias histórias, mas, naquela realidade periférica, isso parecia impossível”, lembra.
Hoje, aos 45 anos e morando em Campo Grande (MS), Quill é um artista com trabalhos publicados, ministra oficinas de HQs e é o criador do “Gibi-MS”, projeto que incentiva outros artistas a acreditar nessa linguagem como uma possibilidade real. A iniciativa, contemplada pelo programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020, prevê a capacitação e a publicação de seis quadrinistas no estado do Mato Grosso do Sul, como estímulo para sua inserção no mercado editorial nacional.
O projeto teve início em 2021 com uma série de oficinas, as quais aconteceram em ambiente on-line devido à pandemia. Após um chamamento digital para atrair os artistas interessados, foi formado um júri, que teve a participação de Mayara Dempsey (professora de redação e literatura, produtora cultural, mediadora do clube de leitura feminista Elas Estudam e integrante do coletivo Elas Podem), Evelise Couto (jornalista e mediadora dos grupos de leitura Leia Mulheres e Vórtice Literário) e Daniel Rockenbach (produtor e apresentador da TVE Cultura e da Rádio Educativa 104.7 FM em Mato Grosso do Sul).
Dos 29 artistas locais inscritos, foram selecionados dez autores: seis titulares e quatro suplentes. As oficinas abordaram temas como estudo de quadro, requadro, sarjeta, unidade de página, roteiro e texto. “Sempre provocando exercícios entre todos para que essa troca de experiências pudesse acontecer. O próximo passo é trazer para o debate os projetos das histórias que eles pretendem criar”, explica Quill.
Também faz parte desse processo apresentar aos participantes algumas ferramentas para distribuição e venda dos trabalhos em plataformas de financiamento coletivo, eventos especializados e livrarias desse ramo, por exemplo. O resultado da experiência de 16 encontros de capacitação será publicado em uma coletânea em preto e branco com capa em papel-cartão, com lançamento previsto para 2022.
Grafite e HQs
Além dos quadrinhos, Quill tem uma forte relação com a arte urbana. O seu primeiro contato com esse tipo de produção aconteceu quando trabalhava como motoboy, no Centro de São Paulo, e via os grafites nas ruas. Experimentou a pichação e, em 1993, começou a pintar, tendo a oportunidade de participar, no ano seguinte, da II mostra paulista de graffiti [Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS/SP)].
Em 2011, depois de percorrer os caminhos da arte de rua e da pintura, fez o curso HQs autorais, com o escritor Lourenço Mutarelli, e um novo universo se abriu. Desde então, lançou quadrinhos e zines de contos de forma independente, nos quais produziu o conteúdo e o projeto gráfico e acompanhou a impressão. Quill também é o criador de Risco, podcast sobre grafite, arte e cultura de rua disponível no YouTube.
Entre seus trabalhos publicados de forma independente estão o zine Janela da alma (2014), a HQ Onírica (2017), a coletânea Amálgama – memórias, processos e narrativas (2019), que reúne contos, HQs curtas e registros de trabalhos como pinturas e grafites, e A Casa Baís (2021), sobre a multiartista campo-grandense Lídia Baís, em que correlaciona a vida e obra da artista brasileira com a da mexicana Frida Kahlo.
“Ao me mudar para o Mato Grosso do Sul, conheci artistas com trabalhos muito interessantes, que ficam à margem da produção nacional, às vezes por falta de acesso a algumas informações ou mesmo pela falta de incentivo. Acredito que posso colaborar nessa cena, dividindo com esses autores o que aprendi desde a minha primeira publicação, os processos que tive a oportunidade de vivenciar. Minha ideia é ajudar a trazer visibilidade para a produção nacional, que é riquíssima”, aposta ele.