Grupo de teatro fundado pelo palhaço, diretor e produtor Chicão Santos fará imersão nos relatos e nas questões de gênero no coração da Amazônia
Publicado em 30/05/2019
Atualizado às 17:38 de 20/08/2019
por Tatiana Diniz
O primeiro cenário é a cidade de Cacoal, no interior de Rondônia, e o ano é 1978. O jovem Chicão Santos, futuro palhaço, diretor e produtor teatral, iniciava então suas atividades nas artes cênicas. “Sempre pensei que o teatro podia chegar a todos os lugares e lidar com temas que tinham pouca repercussão na comunidade”, lembra.
Por mais de duas décadas, o artista conduziu suas atividades bem ali, em seu município. O foco das ações artísticas se dava na transversalidade e na insurgência: o teatro como elemento condutor de transformação pessoal, social e cultural.
O cenário seguinte é Porto Velho, capital do estado, para onde Chicão se mudou em 1995 e onde vive até hoje. “Quando cheguei aqui, vivenciei uma cena teatral muito frágil. Então comecei a investigar por que o porto-velhense não tinha interesse pelo teatro”, explica.
Foram vários anos de pesquisa até chegar à conclusão de que era preciso discutir o teatro, o público e a cidade. A partir dessa percepção, ele se juntou a outros artistas para fundar, em 2005, O Imaginário, grupo que passou a desencadear uma série de ações formativas.
Foi quando se multiplicaram os cenários: o teatro d’O Imaginário chegou às praças públicas, às escolas, às comunidades ribeirinhas, às comunidades na floresta e àquelas que viviam às margens das BRs. Nascia o embrião do Festival Amazônia Encena na Rua.
A sede do grupo, chamada Tapiri, funciona como um espaço de trocas, escola de teatro e local de pesquisa cênica. Ali, em 2008, a pesquisa cênica Filhas da Mata, cuja base era a oralidade, conduziu a uma viagem pela solidão das mulheres que vivem nos barrancos ao longo do rio e participaram do processo de ocupação de Porto Velho. Em 2012, outro estudo revelou a voz de mulheres condenadas por crimes banais no início da cidade de Porto Velho, gerando o espetáculo As Mulheres do Aluá.
Selecionado pelo Rumos Teatro em 2010-2012, O Imaginário trabalhou em conjunto com o grupo carioca Será o Benedito? no projeto Do Porto ao Rio. Com o legado da experiência, a trupe produziu o espetáculo Varadouro (2013), que circulou a Amazônia Legal e, em seguida, percorreu diversas capitais brasileiras.
De volta ao Rumos Itaú Cultural, desta vez selecionado na edição 2018, o grupo fundado por Chicão vai desenvolver a pesquisa Memórias Poéticas Sobreviventes do Crescimento das Árvores.
Agora, a ideia é conduzir o estudo e a pesquisa cênica de narrativas de mulheres que viveram e vivem em ambientes extremamente hostis e dominados pelo “pensamento-homem” nos seringais do Vale do Guaporé, também em Rondônia.
O ponto de partida é o livro Seringueiros da Amazônia – Sobreviventes da Fartura, de Nilson Santos, e a meta é criar um espetáculo contemporâneo que abordará temas como as questões de justiça e de poder, as relações de gênero e o universo feminino. “Tudo isso buscando qualidades teatrais e excelências artísticas para valorizar a dramaturgia regional”, adianta Chicão. Bravo!