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Mulheres pretas contando histórias de mulheres pretas

A premiada websérie “Pretas” foi uma das selecionadas do edital “Rumos”, do Itaú Cultural, e segue contando trajetórias femininas em sua segunda temporada

Publicado em 29/03/2022

Atualizado às 11:40 de 09/12/2022

por Ana Luiza Aguiar

Dizer que a websérie Pretas é um projeto sobre mulheres pretas feito por mulheres pretas não faz jus à obra produzida, de forma colaborativa, no Pará. Sim, o foco do projeto é narrar histórias femininas de mulheres negras, mas ele vem sendo usado como ferramenta de diálogo e de empoderamento feminino – principalmente entre mulheres que vivem na pobreza há gerações. A série, que existe desde 2016, foi aprovada no edital do programa Rumos 2019-2020, do Itaú Cultural.

Para a diretora Joyce Cursino, ter uma equipe 100% negra enriqueceu a experiência, além de gerar renda para a população preta. “Nosso trabalho não é só produzir, mas, sim, colocar pessoas pretas no circuito do audiovisual. Queremos ir além das fronteiras das mídias sociais, ir para as ruas, para as comunidades e mostrar quem são essas mulheres que estão produzindo. Inclusive, ir às comunidades das atrizes”, diz.

A primeira temporada venceu o Festival Osga de vídeos universitários, da Universidade da Amazônia; participou do Festival da Freguesia do Ó, em São Paulo; e foi selecionada para o 39º festival du court métrage de Clermont-Ferrand, na França, um dos maiores festivais de curtas-metragens do mundo. Foi também premiada no Rio WebFest de 2018. A temporada de estreia conta a história de seis mulheres, divididas em nove capítulos. O piloto da série, por exemplo, traz Abigail, interpretada por Rosilene Alves, uma pugilista que luta para criar a filha pequena, seguir na carreira e enfrentar os preconceitos por ser mulher e negra na Amazônia.

Oficina referente à websérie Pretas | imagem: Flávia Ribeiro

Houve ainda uma minitemporada de cinco episódios chamada Pretas na pandemia, que conta a história de Maria Felipa (Rosilene Cordeiro), uma escritora de ficção reconhecida internacionalmente e cuja missão é falar de mulheres negras brasileiras e suas vivências durante a pandemia de covid-19.

A ideia de fazer esse recorte no contexto pandêmico foi da jornalista Joyce Cursino, diretora e produtora-executiva da websérie. “A pandemia de covid-19 agravou as mazelas enfrentadas pela população negra das periferias e comunidades tradicionais. Isso precisa ser denunciado para que não seja esquecido, pois esta é uma das maiores estratégias do racismo: o apagamento das nossas histórias”, afirma a cineasta.

A diretora de fotografia Suane Barreirinhas comenta que a ideia partiu de vivências que elas mesmas tiveram e têm no dia a dia. “A gente resolveu se unir para registrar coisas que aconteceram na pandemia com mulheres pretas, que são histórias muito perto da gente, nossas e que aconteceram com pessoas próximas que ficaram desempregadas, que enfrentam racismo e são também histórias de mulheres que se apoiam”, explica.

Com a aprovação no edital do Rumos, a equipe desenvolveu os roteiros e fez a preparação dos atores da segunda temporada, que será composta de nove episódios. Na nova temporada, serão abordados temas como desigualdades socioeconômicas, racismo religioso, lesbianidades, subjetividade da mulher negra, abuso de drogas, luta da mulher negra pela sobrevivência, machismo, violência contra a mulher, busca por identidade, gordofobia e relacionamento abusivo. A proposta é continuar sendo uma ferramenta de transformação ao apresentar os episódios e levar esses debates para espaços como escolas, hospitais, centros comunitários, bibliotecas, universidades e terreiros.

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