Idealizada por Kátia Letícia, produtora cultural e atriz, a iniciativa conta com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural
Publicado em 30/12/2021
Atualizado às 17:33 de 14/02/2022
por Ana Luiza Aguiar
O projeto Narrativas subterrâneas – saudando as mestras quilombolas foi idealizado pela produtora cultural, atriz e mestra em artes cênicas Kátia Letícia, que, há alguns anos, vem realizando oficinas com mulheres que moram em comunidades quilombolas. “Chegou um ponto em que percebi que existia ali um valor histórico e político que ia além do valor afetivo que era o que eu enxergava inicialmente. Então, senti necessidade de registrar a história dessas mulheres”, conta.
Foi dessa percepção que nasceu o seu projeto aprovado no edital do Rumos Itaú Cultural em 2019. Narrativas subterrâneas é um laboratório de experimentação e estímulo à expressão e à escrita das memórias de dez mulheres de uma das comunidades quilombolas mais tradicionais da Bahia, a Cordoaria, que fica no município de Camaçari (na área metropolitana de Salvador).
Essas mulheres são reconhecidas como guardiãs da cultura na região. No entanto, poucas tiveram acesso a espaços de educação formal ou de produção artística. Por isso, o projeto começou com uma oficina de escrita autobiográfica, intitulada Corpo oráculo, que utilizou uma metodologia própria de acesso às memórias através de estímulos sensoriais como caminho para a produção de narrativas biográficas. Nesse contexto, elas experimentaram formas criativas de expressão escrita ao ser estimuladas a criar suas próprias narrativas a partir das histórias pessoais e das memórias vividas.
Além de registrar sua própria história, as participantes foram apresentadas ao universo literário por meio do conhecimento da vida e da obra de Carolina Maria de Jesus, Makota Valdina, Conceição Evaristo, Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez. O projeto vai culminar com a publicação do livro Ijobá – memórias do reino do Caçuá, criado por mulheres durante a oficina e que deve ser publicado em fevereiro de 2022. Serão 20 narrativas ao todo, e a publicação será ilustrada com desenhos feitos por cinco artistas visuais da Bahia, inspirados nas narrativas escritas pelas mulheres.
Comunidade quilombola de Cordoaria
Apesar de ter mais de 260 anos de história, Cordoaria só foi reconhecida como comunidade quilombola em 2005. Atualmente vivem no local cerca de 300 famílias, as quais trabalham com agricultura familiar e comercialização dos produtos derivados da mandioca, como farinha, beiju, goma e tapioca.