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Quando objetos ganham vida

Artista utiliza descartes de construção civil e lixo eletrônico para montar suas esculturas e chamar a atenção para o consumismo desenfreado

Publicado em 01/03/2022

Atualizado às 11:06 de 03/03/2022

por Ana Luiza Aguiar

O artista multimídia Diego de los Campos utiliza-se de distintas ferramentas, linguagens e operações para a construção de suas obras e tem um processo de criação em que opera pelo multimeio. Suas obras vão além da materialidade e são impregnadas de imaginação, humor, ironia e questionamentos políticos. Fúria, projeto aprovado no edital do programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020, constitui-se de uma série de estruturas de madeira que se colocam em movimento por meio de motores ativados por programação. A exposição foi pensada para ocupar espaços grandes, de até 100 metros quadrados, e conta com 15 estruturas que se movimentam e produzem ruídos, incluindo performances sonora e visual. “Fúria apresenta como questão principal um olhar apurado sobre o momento político-social e cultural que atravessamos, provocando uma ação a fim de incitar o deslocamento, o encontro, a mudança e a luta nos espectadores e participantes da exposição”, descreve De los Campos. 

Há alguns anos, o artista vem investigando materiais de sobras de construção civil, de podas de árvores ou de descarte tecnológico para produzir seus trabalhos. Suas obras são produzidas a partir de papelão de caixas descartadas que recém chegaram pelo correio contendo um novo aparato doméstico; partes de galhos de podas feitas para que as árvores não invadam o ambiente doméstico; dispositivos que começam a se tornar obsoletos no ano seguinte ao da compra; e todos os resquícios de objetos motorizados, com suas roldanas, motores, pinças etc. “Todo o descarte provém de uma produção exagerada incitada e estimulada por um consumo desenfreado e não acessível a todos, além de uma aceleração tecnológica que, em parte, define o que estamos atravessando como humanidade”, analisa.

Nas séries anteriores a Fúria, peças como corpos humanoides e máscaras ou cabeças ficavam presas a um suporte ou motor externo a elas, de forma passiva ou como movimentos involuntários. O motor ativava um movimento nesses corpos e cabeças, de forma dócil. Na exposição Fúria, as peças entram em movimento reagindo umas às outras, fazendo barulho e saindo do lugar, como se tivessem vontade própria.

Sobre Diego de Los Campos

Diego de los Campos nasceu no Uruguai em 1971 e se formou em 1997 na Escola Nacional de Belas-Artes, com pós-graduação em artes visuais, cultura e criação em 2008, pela Faculdade Senac de Florianópolis. Vive na capital catarinense desde 1999, onde participa do circuito das artes com exposições individuais e salões de arte. Seu trabalho tenta resgatar algo que nunca existiu, indignação que usa várias formas e materiais tradicionais e do mundo digital.

Entre suas mostras individuais mais recentes estão O espírito da coisa, na galeria O Sítio, em Florianópolis, e Desenhos contemporâneos, no Sesc de Joinville e de Joaçaba (SC), ambas em 2019. Já em 2018, ele expôs Dialética binária, no Museu Victor Meirelles e Centro de Arte Contemporânea W, em Ribeirão Preto (SP), e Cabeças, no Espaço Estético CA da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

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