Artista morreu aos 36 anos, no dia 28 de maio de 1993
Publicado em 28/05/2023
Atualizado às 18:00 de 04/07/2023
por Fernanda Castello Branco
Ana Lenice Dias, conhecida como Nicinha, cuida, há 30 anos, do acervo do irmão Leonilson, presidindo o projeto que leva o nome do artista. “Trabalhando no projeto, sinto que ele está comigo o tempo todo. É um jeito de ele continuar presente na minha vida. Quando a gente tem algum problema mais sério aqui, eu brinco e digo: ‘Olha, você me meteu nisso. Então, por favor, me ajuda, viu?’”, conta Nicinha em entrevista ao site do Itaú Cultural (IC).
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É assim que Leonilson está no mundo três décadas após a sua partida. Presente em vidas, museus e exposições. Não só em São Paulo (SP) – para onde se mudou ainda criança com a família, desenvolveu sua carreira (desenhou, esculpiu, pintou e bordou) e morreu aos 36 anos, no dia 28 de maio de 1993, vítima do HIV –, mas também na sua cidade natal, Fortaleza (CE), e em outras capitais que vão render homenagens à efeméride de sua morte (Belo Horizonte e Rio de Janeiro devem anunciar programações em breve).
Na data exata da morte do artista, em São Paulo, será aberta à visitação a remontagem da Instalação sobre duas figuras, na Capela do Morumbi, local onde ela foi exposta pela primeira vez, em 1993. “Essa obra é muito significativa, por ser um trabalhho de transição da vida para a morte. Ele não conseguiu ver montada, porque já estava muito doente. Quem acabou montando foram os amigos e a família”, relembra Nicinha.
Também na capital paulista, está aberta, até o dia 4 de junho, na Galeria Verve, a exposição Leonilson e o artista do nosso tempo. Com curadoria de Ricardo Resende (que também assinou a curadoria da exposição Sob o peso dos meus amores, realizada pelo Itaú Cultural, em 2011) e organizada em colaboração com o Projeto Leonilson, trata-se da primeira mostra aberta em 2023 para celebrar os 30 anos da morte do artista. O foco é misturar os trabalhos do início da carreira – como desenhos da época em que ainda cursava a Faculdade de Artes Plásticas, incluindo registros de modelo vivo – às obras do final de sua vida, que acabam sendo as mais conhecidas. “Ele deixou muita coisa, muita coisa mesmo. Falam muito do bordado da fase final dele, é atualmente o trabalho mais cobiçado, e ninguém quer vender as suas peças, mas a fase inicial é muito bonita também”, conta a irmã.
No segundo semestre, São Paulo recebe mais uma exposição, na Almeida & Dale Galeria de Arte, também em parceria com o Projeto Leonilson. Com curadoria de Agustín Perez Rubio, Leonilson. Corpo político reunirá pinturas, desenhos, bordados e instalações que incorporam alguns importantes posicionamentos sociais e afetivos assumidos pelo artista em sua produção. Também será publicado um catálogo com texto curatorial e reproduções das obras presentes na mostra. Em destaque, a reapresentação do último trabalho produzido por ele, a já citada Instalação sobre duas figuras (1993).
Em Fortaleza, Leonilson está sendo celebrado com uma exposição na Multiarte, chamada Leonilson e a geração 80. Além disso, aberto no dia 29 de abril, também na capital cearense, o 74o salão de abril, que acontece até o dia 1o de julho, tem Leonilson como artista homenageado. “No 2º semestre, a Pinacoteca do Ceará vai inaugurar uma individual linda”, avisa Nicinha.
Como visitar o Projeto Leonilson
Instalado em uma casa na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, que pertenceu à mãe do artista, o Projeto Leonilson pode ser visitado presencialmente, de segunda a sexta-feira, em horário comercial. As visitas devem ser agendadas por e-mail (projetoleonilson@projetoleonilson.com.br) e são oferecidas individualmente e para grupos de até 15 pessoas. No momento em que é confirmado o agendamento, as informações de localização são enviadas. Pela internet, é possível acessar uma loja com souvenirs e livros sobre a obra de Leonilson.
“A parte de baixo é toda expositiva e reproduz a sala de visitas de Leonilson, com os móveis que pertenciam à sua casa. Há também a Sala da Memória (onde fica desde a primeira obra reconhecida dele, de 1971, até trabalhos feitos até 1984), uma outra com trabalhos mais recentes e a Sala do Teatro, com informações sobre a época em que ele fazia figurinos para o grupo Asdrubal Trouxe o Trombone”, explica a irmã Nicinha. “Em cima temos a sala de reunião, a sala de trabalho e o arquivo. Lá a gente tem mais de 400 exposições catalogadas.”
Esse trabalho de catalogação, vale dizer, Leonilson já fazia. “A cada exposição que ele montava, ele fotografava as obras, fazia o clipping [reunião de notícias que saíam em jornais e revistas]. Quando ele morreu, seguimos o mesmo ritmo do que ele já fazia”, diz Nicinha. Além das exposições catalogadas, a parte do arquivo oferece consulta a estudos realizados sobre a obra do artista.
Em constante atualização, o Projeto Leonilson em breve contará com os cadernos digitalizados, assim como o arquivo pessoal, composto de correspondências e agendas. “Os amigos nos mandaram de volta as cartas. Há também fotografias dos materiais que ele usava, tanto de pintura quanto de bordado”, adianta Nicinha.
Leonilson de verdade
Quando o Catálogo Raisonné foi lançado, o Projeto Leonilson já tinha 3.400 obras catalogadas. O “trabalho de formiguinha”, segundo palavras de Nicinha, é a razão de ser do projeto e vem sendo feito em parceria com amigos e familiares desde 1993. A catalogação é rigorosa e essencial. “Ele desenhava muito nas correspondências que enviava, e esses desenhos acabaram não sendo publicados. Agora, com o arquivo pessoal que estamos começando a catalogar, mais coisas vão aparecer, mas não vamos considerar desenhos como esses exatamente como obras”, explica.
Depois do lançamento do Catálogo Raisonné, já surgiram mais trabalhos, aproximadamente 30, mas Nicinha alerta que muita coisa falsa veio à tona também. “Inclusive, fizemos um banco de dados de obras não autenticadas. O banco de dados das obras falsas nos ajuda a autenticar outras que aparecem”, conta.
Para o processo de autenticação, é pedido que seja enviado o histórico da obra, onde e quando ela foi adquirida. “A gente bate com as técnicas usadas durante o período. Há umas coisas horrorosas que chegam, e penso logo que ele jamais faria aquilo! Eu costumo brincar que meu coração bate quando a obra é do Leonilson mesmo. Além disso, são 30 anos de experiência”, conclui Nicinha.