Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Morre o pensador quilombola Nego Bispo, aos 63 anos

Referência da luta quilombola, Antônio Bispo dos Santos, o Nego Bispo, morreu na tarde de 3 de dezembro, aos 63 anos

Publicado em 04/12/2023

Atualizado às 10:58 de 04/12/2023

Morreu no final da tarde de domingo, 3 de dezembro de 2023, Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nego Bispo. A morte do líder quilombola, ocorrida às 17h41, no Hospital de São João do Piauí, em virtude de parada cardiorrespiratória, foi oficialmente comunicada no perfil oficial das redes sociais da comunidade Saco-Curtume, da qual era líder.

Homem negro e idoso está sentado em cadeira macarrão preta de balanço. Ele usa calça verde musgo, camisa preta e branca e sandália de couro. Usa também um chapéu.
Nego Bispo foi homenageado no Prêmio MIlú VIllela (imagem: Murilo Alvesso)

O velório de Nego Bispo acontece nesta segunda-feira, 4 de dezembro, e o enterro está marcado para 17 horas, no quilombo Saco-Curtume, onde teria manifestado a vontade de ser sepultado.

Nego Bispo completaria 64 anos no próximo dia 12 de dezembro. Nascido no Vale do Rio Berlengas, região de Francinópolis (PI), a cerca de 272 quilômetros do quilombo onde passou a maior parte da vida, Bispo teve quatro filhos e também deixa netos.

Filósofo, poeta, ativista político e escritor, Nego Bispo foi um dos homenageados do Prêmio Milú Villela – Itaú Cultural 35 Anos, representando o verbo “aprender”.

“Aprender a gente aprende mesmo quando o saber não é mercadoria’, disse ele em depoimento ao Itaú Cultural.

 

 

Leia o perfil dele e dos demais premiados na publicação do prêmio.

Cada vez mais reverenciado como pensador na academia, com citações em teses e convites para proferir palestras, dar aulas e contar histórias, Nego Bispo foi escolhido ainda criança, pela comunidade onde vivia, no sertão do Piauí, para frequentar a escola, recebendo ajuda financeira e afetiva para cumprir a tarefa. Depois de alguns anos, foi morar no Rio de Janeiro, mas retornou para o Piauí para se dedicar à questão fundiária.

Acompanhou a “Constituição de 1988” e expandiu o conceito do reconhecimento de quilombos para as áreas de retomada; afinal, grande parte dos negros escravizados não tinha terra ou moradia havia gerações, e da mesma forma merecia a compensação. Nego Bispo foi também membro da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq/PI).

Homem negro careca tem barba e bigode espessos e grisalhos. Ele está sério, em pé, em uma estrada de terra. Usa camisa de botão branca e preta.
Nego Bispo faria 64 anos no próximo dia 12 de dezembro (imagem: Murilo Alvesso)

Na Itaú Cultural Play, é possível assistir ao episódio 17 da série Trajetórias, todo dedicado a Nego Bispo. No Quilombo do Saco-Cortume, no semiárido do Piauí, ele lembra sua trajetória e sua mandinga em que o aprender foi e é uma constância.

Em novembro de 2020, Bispo foi convidado da quinta edição do Mekukradjá, evento do Itaú Cultural que tratou da troca e da valorização dos saberes entre as culturas indígenas e as culturas quilombolas. Na ocasião, o pensador e escritor piauiense falou sobre a valorização do compartilhamento do saber e da memória ancestral nas comunidades quilombolas e sobre como esse costume se difere da mercantilização do saber, que é na sua opinião um dos grandes problemas da sociedade. 

 

Compartilhe