Curadora assistente do Instituto Inhotim, Maria Eugenia Salcedo Repolês fala sobre a origem, o diferencial, as técnicas de preservação e...
Publicado em 30/01/2017
Atualizado às 10:37 de 03/08/2018
Em 2016, o Instituto Inhotim, localizado na cidade mineira de Brumadinho, comemorou dez anos de atividade. Apesar de sua curta história, o espaço conta com um dos mais importantes acervos de arte contemporânea no Brasil.
Curadora assistente do instituto, Maria Eugenia Salcedo Repolês conversou com o Observatório Itaú Cultural sobre a origem, o diferencial, as técnicas de preservação e outras questões ligadas a esse acervo.
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Como se formou o acervo do Instituto Inhotim?
O Instituto Inhotim conta com dois acervos – arte contemporânea e acervo botânico –, que nascem de forma empírica e em momentos concomitantes.
A iniciativa de reunir o acervo artístico está intimamente ligada ao contato com artistas como Tunga e Cildo Meireles, que introduziram discursos muito potentes no sentido do valor social de uma coleção como a que o Inhotim estava criando. Entender que estamos falando de um acervo de arte contemporânea que, de diversas formas, convive diariamente com o Jardim Botânico Inhotim (JBI) é um desafio constante, mas também é o que motiva e orienta o acervo até o momento. Sem querer criar uma narrativa ilustrativa das relações entre arte e o ambiente natural, muitos dos trabalhos que compõem o acervo tratam dessas conexões, cada um à sua maneira.
Quais os critérios utilizados para o recolhimento do acervo?
O Inhotim foi se revelando com o tempo, a cada novo projeto executado. Uma forte característica do seu acervo gira em torno do que se entende por site specific. Esse termo funciona como uma espécie de guarda-chuva para os grandes projetos do instituto. Muito do que o Inhotim projeta hoje em dia tem a ver com a localização dos trabalhos – determinada em conjunto com os artistas e, em alguns casos, com arquitetos, paisagistas, botânicos etc. Outros projetos são orientados pelo espaço onde serão instalados, mesmo que já tenham existido anteriormente. Um bom exemplo do tipo de trabalho que inspira muito do que se faz no Inhotim é Sonic Pavillion (2009), de Doug Aitken. Aqui, o artista está em diálogo direto com a equipe curatorial, profissionais técnicos, paisagistas, jardineiros etc. para a execução de uma ideia. No caso de Aitken, trata-se de uma daquelas ideias engavetadas. O tipo de ideia que aguarda o momento certo, o local ideal... Nesse sentido, o acervo do Inhotim pode ser visto como um acervo de projetos, ideias e diálogos criados no local, junto com o artista. Outras características ainda se revelarão na medida em que o projeto do instituto avance e se repense.
Como se dá o tratamento técnico do acervo?
Assim que uma obra é integrada ao acervo do Inhotim, é feito um laudo de conservação, contendo todas as características e as observações relevantes sobre seus aspectos físicos. Posteriormente, é dada entrada no registro de todo o acervo do instituto e são solicitadas ao estúdio/artista outras informações sobre a conservação, a montagem e a exibição da obra. Quando exposta, ela segue os procedimentos de manutenção, que se dividem em higienização (limpeza de poeira, por exemplo), prevenção (como a aplicação de cera na obra Troca-Troca, de 2002, de Jarbas Lopes) e acompanhamento visual de possíveis danos de exposição.
Qual a política de difusão do acervo?
A difusão é feita em diversos níveis: seja por meio de parcerias com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), seja por meio de publicações (catálogos, materiais de apoio ao professor etc.). A visitação do público também é parte importante da difusão do acervo: o instituto recebe, em média, 300 mil visitantes por ano.
Existe uma política estratégica do acervo?
Em 2016, o instituto comemorou dez anos. Apesar de ter criado diversos impactos nos âmbitos nacional e internacional, o Inhotim é uma instituição bastante jovem. Esse marco temporal tem inaugurado, também, uma série de reflexões sobre o acervo artístico, sua organização e os próximos passos. Queremos aproveitar mais do fato de trabalharmos com artistas numa relação muito próxima. Desejamos registrar isso melhor e, em um futuro próximo, tornar esse conteúdo acessível. Inhotim é o tipo de lugar que tem um olhar muito especial para a expansão e a projeção. Assim, temos buscado cada vez mais lançar um olhar atento para melhores formas de conservar e entender o acervo que está atualmente montado. Como trabalhamos em um sistema de inauguração de pavilhões permanentes, temos buscado entender como melhor administrar a permanência dessas obras no ambiente natural no qual estamos inseridos. Pelo tipo de projeto que desenvolve com alguns artistas, o Inhotim também acaba sendo uma instituição que cria muito conhecimento e tecnologias específicas para seu acervo. Soluções feitas para trabalhos específicos precisam ser mais bem divulgadas, pois são o diferencial do Inhotim no campo de pesquisa de arte contemporânea.
O acervo conta com algum apoio financeiro, alguma política de incentivo?
A política de incentivo dos acervos do Inhotim está intimamente ligada ao sistema geral da instituição por meio de lei de incentivo e de planejamentos anuais para este fim. Nesse sentido, nosso plano é buscar, cada vez mais, incentivos e parcerias específicas para os acervos nos próximos anos. O objetivo é poder inaugurar novas etapas de conservação, manutenção e pesquisa sobre o acervo artístico, por exemplo.