A associação civil sem fins lucrativos, situada em Brasília e composta de técnicos e artistas do Distrito Federal, conta hoje com a...
Publicado em 04/05/2016
Atualizado às 10:24 de 03/08/2018
por Deise Costa
O Coletivo Palavra é uma associação civil sem fins lucrativos situada em Brasília-DF, composta por técnicos e artistas do Distrito Federal. Hoje conta com a colaboração de mais de 60 pessoas, tendo passado pela experiência de ter sido um empreendimento incubado pela extinta Articula-DF, a incubadora de arte e cultura do CDT/UnB, que prestou assessoria e capacitação aos profissionais do grupo para sua estruturação. As produções do Coletivo são feitas em torno da “Arte de Interface”, conceito desenvolvido em todos os seus projetos desde 2009.
Nesta entrevista, eles nos contam um pouco sobre sua trajetória e projetos, a gestão do coletivo e os processos criativos.
Para vocês, quais atributos são essenciais para caracterizar um grupo de artistas como coletivo artístico?
Entendemos que um coletivo possui gestão colaborativa e participativa, com o compartilhamento de recursos para a produção de projetos – que, quer sejam produzidos coletivamente quer individualmente, são assumidos pelo coletivo a partir de uma linha de atuação que o traduz.
Um grupo de artistas pode ser considerado um coletivo quando há um alinhamento conceitual-estético-programático entre seus membros, na forma de expressão, modelo de produção ou comunicação de um fazer artístico, mesmo que esses artistas se utilizem das mais diversas linguagens artísticas.
Como o Coletivo Palavra se formou? A partir de quais demandas?
Em 2008, um grupo de artistas e outros colaboradores organizou-se para publicar o álbum Palavra, trabalho autoral do músico, poeta e produtor cultural Eros Trovador. Trata-se de um álbum virtual, um dos trabalhos artísticos pioneiros no Brasil no gênero poesia hipertextual, quando os hiperlinks são usados como instrumentos de ampliação dos sentidos poéticos dos textos. Nascia ali uma proposta de arte fortemente inserida na cibercultura, a cultura que as tecnologias digitais fizeram surgir.
Ainda em 2008, o grupo passou pela primeira experiência de apresentação pública, a partir de um convite do Decanato de Arte da Universidade de Brasília (UnB) para participar do Proesias, evento multilinguagem que agrega música e poesia. Naquela oportunidade foi realizada a apresentação do que se chamou de Sarau Multimídia Palavra, um trabalho não só de multilinguagem, mas também multimídia, com projeções de imagens e vídeos de forma concatenada ao desenvolvimento do repertório. Reforçava-se ainda mais a proposta de investigação artística a partir dos elementos da cibercultura.
Em 2010, aconteceu o segundo Sarau Multimídia Palavra, desta vez como um evento agregador, e não somente uma apresentação. Realizado no Teatro Mapati, contou com a participação direta de cerca de 25 artistas e foi construído de forma completamente colaborativa. Ainda naquele ano foram realizadas outras duas edições do evento no teatro, ao mesmo tempo que o grupo recebia a boa notícia de sua aprovação na seleção da Incubadora de Arte e Cultura, do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UnB. Iniciava-se, assim, o processo de formação, consultoria e assessoramento da incubação do Coletivo Palavra.
Após a quarta edição do evento (também em 2010, na UnB), uma análise de cenário da rede artística que estava se formando revelou que não se tratava apenas de um sarau, mas de um verdadeiro festival. A partir de então, o evento passou a ser chamado de Festival Multimídia Palacoletiva. Concomitantemente ao movimento de fortalecimento do festival, acontecia também a estruturação do Coletivo, que viria a se formalizar como associação civil sem fins lucrativos no início do ano seguinte, em 2011.
As histórias do Palacoletiva e do Coletivo Palavra se confundem, de forma que o festival foi se constituindo como principal referência para o grupo. E foi a partir dele que a associação civil desenvolveu um modelo próprio de produção cultural, chamado de arte de interface – produções artísticas permeadas por elementos hipertextuais, multimídia e colaborativos. Aplicando esse modelo de produção, foram realizadas outras duas edições do Palacoletiva: em Taguatinga (2011) e em Planaltina (2012). Atualmente, encontra-se em fase de produção a sétima edição, prevista para o segundo semestre de 2016, no Plano Piloto.
Como o Coletivo se mantém financeiramente?
O Coletivo se mantém basicamente pela doação de seus membros, que muitas vezes bancam as atividades cotidianas ou de manutenção do grupo. Os mais expressivos projetos produzidos pelo grupo foram contemplados nos últimos editais do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal – uma das mais bem-sucedidas políticas públicas de incentivo à produção cultural local e à economia da cultura.
Como vocês organizam os processos criativos do grupo?
Tudo é feito de maneira coletiva. A partir da proposição de um dos artistas ligados ao Coletivo, ocorrem as chamadas reuniões criativas, em que todos participam para criar e desenvolver as condições conceituais e de produção do projeto. Gostamos do que fazemos, com quem fazemos e como fazemos. Temos verificado que as melhores coisas feitas pelo Coletivo foram aquelas que contaram com a participação de todos. A soma de competências, saberes e olhares produz coisas fascinantes. Juntos somos melhores.
Alguns dos valores que aparecem de modo recorrente nas descrições do grupo são “inovação” e “colaboratividade”. Como vocês entendem esses valores e como eles se manifestam no dia a dia do coletivo?
Não gostamos de repetir, é fato. O Coletivo se entedia quando tem que replicar alguma estratégia de produção em um novo projeto. O perfil das pessoas do grupo leva a isso, a essa busca pela experimentação, que aparece no modo de produzirmos as coisas. Colaboração é um valor para nós porque não fazemos nada direito sem a participação de todos. Como nenhum de nós tem dedicação integral ao coletivo, isso é questão de sobrevivência do empreendimento. Além do mais, está claro para o grupo que a colaboração engendra melhores projetos. Somos mais felizes assim. E queremos, acima de tudo, nos divertir e transmitir isso ao mundo por meio da arte.