Após 2 anos desde o decreto de pandemia gerada pela Covid-19, a economia criativa demonstrou não apenas recuperação, mas também aumento real do seu nível de emprego observado no 1º Trimestre de 2022. Dentre o 1º Trimestre de 2020 e o 1º Trimestre de 2022, o emprego na economia criativa aumentou 8%, trazendo a criação de cerca de 570 mil postos de trabalho.  Os trabalhadores especializados criativos de Tecnologia da Informação foram  responsáveis pela variação positiva de cerca de 260 mil postos (46% do total na Economia Criativa).        

  

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

A taxa de aumento no emprego da economia criativa mostrou-se mais expressiva do que a da economia total, embora ambas tenham mostrado recuperação e aumento real no nível de emprego: no primeiro trimestre de 2022, o emprego total na economia brasileira mostrou-se 2% maior do que o observado no primeiro trimestre de 2020. Observa-se que tanto a perda de empregos foi menor na economia criativa – queda de 4% (economia criativa) e -6% (total da economia) - entre 2020.1 e 2021.1, quanto a recuperação foi maior em termos relativos - +12% para economia criativa e 9% para o total da economia.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Dentre os segmentos que compõem o emprego na economia criativa – definidos a partir das ocupações criativas[1] (trabalhadores criativos especializados[2] – ou seja, trabalhadores criativos trabalhando nos setores criativos –; trabalhadores de apoio – ou seja, trabalhadores não criativos trabalhando nos setores criativos –; e trabalhadores incorporados – ou seja, trabalhadores criativos atuando em demais setores da economia), o segmento que mais apresentou variação positiva entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro de 2022 foram os trabalhadores de apoio, com uma criação de mais de 380 mil postos de trabalho no período de um total de cerca de 569 mil criados no períodos. Ou seja, 66% dos postos de trabalho criados estão entre os trabalhadores de apoio.

O segmento de trabalhadores especializados da cultura teve leve queda de 3% em relação ao primeiro trimestre de 2020: mesmo tendo uma recuperação de 2021 para 2022, ainda não chegou ao patamar de emprego observado no período imediatamente anterior ao decreto da pandemia. Interessante observar também o quão drásticas são as variações nos trabalhadores especializados da cultura observadas entre os três períodos analisados – uma queda de 27% (cerca de 198 mil postos de trabalho perdidos) entre 2020.1 e 2020.1 – demonstrando como é o segmento da economia criativa mais propenso a absorver os choques de maneira mais direta. Nesse sentido, ressaltamos a importância da Lei Aldir Blanc no suporte ao setor para diminuição desse impacto. A lei, aprovada em 23 de março de 2020, foi regulamentada em agosto de 2020, com seus efeitos sendo sentidos a partir do primeiro trimestre de 2021.

 Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

 Ao analisarmos o conjunto de trabalhadores especializados (criativos e culturais) por categoria, percebemos no primeiro período, entre 2020.1 e 2021.1, três categorias apresentaram variação negativa:  Artes Cênicas e Visuais, Atividades Artesanais, Cinema, música, fotografia, rádio e TV. Nos outros dois períodos analisados, tanto entre 2020.1 e 2022.1 quanto entre 2021.1 e 2022.1 todas as categorias tiveram variações positivas, com exceção da Moda e das Atividades Artesanais. No caso das atividades artesanais, a variação negativa entre 2020.1 e 2022.1 demonstra uma recuperação mais lenta.No caso da moda, houve crescimento entre o primeiro trimestre de 2020.1. e 2020.2 e, após, demonstrou uma queda consistente. No caso da Moda, conforme destacado no Balanço Economia Criativa no 4 trimestre de 2021, essa queda tem relação com a crise logística inerente tanto à pandemia de COVID-19, quanto ao conflito na Ucrânia. Dessa forma, apesar das demais categorias ocupacionais terem sido capazes de se recuperar, a Moda ainda apresenta movimento contrário, com perda acumulada desde 2020 de 182.360 postos de trabalho.

Ao analisarmos os trabalhadores incorporados, as categorias de Arquitetura e Publicidade e serviços empresariais apresentaram quedas de -19.034 (-24%) e -122.990 (-21%), respectivamente, entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro de 2022.. Essas mesmas categorias, quando analisadas a partir da perspectiva dos trabalhadores especializados tiveram um aumento de 57.811 (+40%) e 71.737 (+31%) no mesmo período, respectivamente. Isso pode indicar uma busca ou o surgimento de novas oportunidades para esses profissionais dentro da economia criativa em detrimento à atuação em outros setores da economia.

Por fim, entre o total dos trabalhadores criativos, destacamos a recuperação consistente dos setores de Design, Editorial e Tecnologia da Informação que apresentaram crescimento no primeiro trimestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2020, sendo que a TI foi a principal criadora de postos de trabalho dentre as ocupações criativas, gerando uma criação de quase 260 mil empregos neste período, cerca de 46% do total de variação para os trabalhadores da economia criativa. Em relação ao setor Editorial, o aumento demonstrado parece estar relacionado ao processo de mudança do modelo de negócio do setor, no qual a alteração da cadeia de produção com a migração para o digital tem provocado mudanças na composição de ocupados no setor, conforme demonstrado no estudo sobre o Impacto da digitalização nos modelos de negócio do setor editorial.

* - Amostra não significativa

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, observa-se que os empregados formais da Economia Criativa foram os que mais tiveram variação positiva em relação ao primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2022, aumentando em 11% o nível de emprego, enquanto o segmento informal variou 4%. Desse modo, o setor informal da economia criativa seguiu o padrão de variação do total do mercado de trabalho informal da economia brasileira, enquanto o setor formal da economia criativa obteve crescimento mais expressivo do que o mesmo segmento no total da economia, no qual houve variação positiva de apenas 1%.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Segmentando os trabalhadores incorporados, especializados e de apoio entre as faixas formal e informal, observa-se que todos os segmentos obtiveram crescimento entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro de 2022, com exceção dos trabalhadores especializados informais. Os trabalhadores de apoio formais e informais e os trabalhadores especializados formais se destacam pelas variações positivas expressivas em termos absolutos.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Quanto à regionalidade, observa-se que, entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2022, Piauí, Distrito Federal, Amapá, Alagoas, Acre e Santa Catarina foram as unidades federativas com maiores taxas de crescimento no emprego na economia criativa. Também se observam poucos casos de quedas significativas no total do emprego na economia criativa nas demais UFs, com exceção do Mato Grosso do Sul, com queda de 11%.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Comparações 2018.4 – 2022.1

            Com os riscos sanitários relacionados ao Covid-19, houve uma movimentação relevante à adoção do trabalho remoto. Na economia criativa, os trabalhadores especializados e incorporados obtiveram mais oportunidades para adotar esse regime, aumentando significativamente a proporção de empregados trabalhando em casa entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020. Essa tendência seguiu nos meses subsequentes, e, mesmo com a melhora dos riscos sanitários, no primeiro trimestre de 2022, ainda há uma parcela expressiva de trabalhadores da economia criativa exercendo suas funções predominantemente de casa, em proporção muito maior do que a observada nos períodos pré-pandemia desde o final de 2018. Interessante notar que essa é uma realidade específica do setor, uma vez que quando analisamos a economia brasileira como um todo, a variação foi relativamente pequena.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Em relação ao gênero, observa-se que as mulheres trabalhadoras da economia criativa sofreram impactos nesse período de forma muito mais expressiva do que os homens. Ambos os gêneros recuperaram seu nível de emprego observado no período pré-pandemia, porém esse ritmo de retomada se mostrou menos acelerado para as mulheres, que sofreram uma perda inicial maior no início do período. Ao analisarmos o período do primeiro trimestre de 2020 e o primeiro de 2021, percebemos que as mulheres apresentaram uma queda de 135.079 postos de trabalho (-4%), enquanto para os homens a queda foi de 33.429 (-1%). Já no período entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro de 2022, a recuperação foi similar - mulheres 319.855 (+11%) e homens 318.576 (+9%). 

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

 O rendimento médio nominal dos trabalhadores especializados, de apoio e incorporados teve queda entre o 1º e o 2º trimestres de 2020, contudo, após essa queda, já voltaram a patamares próximos a anos observados no período pré-pandemia. Observa-se que, durante todo o período, os trabalhadores criativos incorporados em setores não criativos foram os que obtiveram os maiores rendimentos, enquanto o nível de rendimentos dos trabalhadores especializados e de apoio mostrou-se em patamares similares, abaixo dos incorporados. Em suma, os trabalhadores que estão fora do setor tiveram uma tendência maior de aumento do rendimento médio que os trabalhadores dentro do setor.  Vale observar, contudo, que em todas as categorias analisadas, o rendimento médio é maior que o da economia brasileira em 2022.1 (R$ 2.784)

 

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

 A média de horas trabalhadas pelos trabalhadores de apoio, incorporados e especializados da economia criativa também não  apresentou variações significativas por conta da pandemia, mesmo no período crítico entre o primeiro e segundo trimestres de 2020. Contudo, os trabalhadores especializados seguem obtendo uma jornada de trabalho semanal muito menor do que a dos trabalhadores incorporados e de apoio. Por outro lado, analisando essa informação em conjunto com o rendimento médio, observa-se que os trabalhadores especializados trabalham menos para ganhar valores próximos aos dos trabalhadores de apoio, mostrando que o valor-hora dessa força de trabalho é mais alto do que a dos trabalhadores de apoio. Ao mesmo tempo, esse grupo também é o que mais tem o desejo de trabalhar mais horas do que efetivamente trabalha, mostrando que há uma maior proporção de trabalhadores que não estão satisfeitos com a remuneração total ganha por suas horas de trabalho.

 

 

 


[1] Saiba mais em https://www.itaucultural.org.br/observatorio/paineldedados/pesquisa/trabalhadores-da-economia-criativa

[2] Os Trabalhadores Especializados são divididos em duas subcategorias: Trabalhadores Especializados-Cultura, que englobam as Atividades Artesanais, Artes Cênicas e Artes Visuais, Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e Museus e Patrimônio; e os Trabalhadores Especializados-Criativos, englobando os setores de Publicidade, Arquitetura, Moda, Design, Tecnologia da Informação e Editorial.